SÍNDROME DE ONIPOTÊNCIA AFETIVA

 

O QUE É ISSO?

 

É o resultado de uma profunda insegurança essencial, e que se foca no significado do ser.

Pode se apresentar como resultado de frustração amargurada; ou, também, como certeza de super-capacidades, pelas quais a pessoa se habitua a ser tratada de “dado modo”; sempre positivo e corroborativo.

Ora, ambas as coisas, embora venham por vias diferentes, como nascem da mesma fonte — insegurança — geram o mesmo resultado; a saber:

1. Necessidade de ser objeto de sentimentos absolutos. Um sentimento normal não atende essa alma. Ela está viciada na atenção total e em ser o objeto declarado e único do interesse das pessoas pelas quais ele se interessa ou ama. Com respeito àqueles aos quais o que sofre da síndrome não empresta importância relacional, ou com quem não tem vínculo de qualquer possível passionalidade — ele não sofre quando não recebe o aquilo a que já está acostumado: a atenção total.

2. Necessidade de ter na pessoa amada algo como se fosse exclusivo até mesmo antes do par em questão se conhecer. Desse modo, quem sofre dessa síndrome, sente ciúmes até do passado da pessoa amada. Assim como se a pessoa tivesse que ter tido que se guardar para a pessoa, ainda que não a conhecesse.

3. Muita manifestação de ciúme. No que diz respeito às relações sem significados importantes, o portador da síndrome, não sendo tratado com atenções exclusivas, em geral se torna indiferente. Mas no que tange a quem ele (a) ama, especialmente se amar na relação conjugal, a tendência será aparecer o desejo sufocante e passional de ter a atenção, os ouvidos, os desejos, as ambições, os sonhos e a alma da pessoa — como se ela tivesse que se fundir nele; não tendo mais nenhum interesse na vida que não seja a pessoa da síndrome.

4. A tendência, nesse caso, é se zangar com a pessoa que mais se ama. E isto nada tem a ver com ela; mas apenas com a “construção” de um modo como a pessoa da síndrome idealizou receber em termos de atenção, expressões, demonstrações, e até mesmo ouvindo o que a pessoa gosta de ouvir.

Ora, haveria muito mais a acrescentar, mas quero me concentrar na Síndrome de Onipotência na relação afetiva.

A Síndrome de Onipotência afeta toda a vida; e faz com que o caminho da sabedoria seja falsificado pela insegurança que se veste de demandas absolutas.

No casamento, tal síndrome pode afastar pessoas que genuinamente se amam. Pois, apesar do amor, a pessoa amada, por ser um indivíduo, nem sempre consegue agradar o portador da síndrome; e, assim, deflagram-se conflitos fundados em nada; exceto na fantasia de amor exclusivo em tudo, que a pessoa sofrendo desse mal exige — mas que, para uma pessoa normal, por mais que ame, pode ser de-mais; e, assim, fazendo com que ela não consiga atender a tais reclamos de dedicação divina feitas pelo ser que sofre da síndrome, sob pena de se sentir sem individualidade.

A Síndrome de Lúcifer é parecida com a Síndrome de Onipotência, mas tem sua concentração e foco em coisas de natureza espiritual; sendo algo profundamente narcisista; tipo narcisismo de anjo. Já a Síndrome de Onipotência, quando se foca no surto de divindade pessoal, se torna na Síndrome de Lúcifer.

Mas quando se atém aos aspectos de natureza relacional, afetiva e até profissional, o que fica caracterizado é o mal que chamamos de Síndrome de Onipotência.

Eu creio que somente o reconhecimento do mal, e, consequentemente, a entrega confiante da vida ao amor de Deus — é o que pode dar à pessoa a confiança que a fará crer que mesmo sem receber as atenções que gosta, tal não é o resultado de descaso, necessariamente; mas pode ser apenas lapsos naturais da percepção; ou, simplesmente, um escolha circunstancial de prioridade na atenção e na prioridade do tempo e do cuidado a serem dedicados na hora a um outro alguém em necessidade.

Porém, acima de tudo, a Síndrome de Onipotência é o nome psicológico do egoísmo que se tornou apaixonado pela paixão de ser permanentemente objeto de um sentimento tão focado objetivamente na pessoa, que qualquer distração ofende como se fosse uma blasfêmia contra a pessoa que padece desse mal.

Os portadores da Síndrome são capazes de amar. Mas o amor deles é tão dependente deles se sentirem amados; o que faz com que, frequentemente, a pessoa trate muito mal a quem mais ama.

Ninguém tem que se entregar a isto; se disso sofre. E quem ama a pessoa que sofre da síndrome, sem provocá-la de propósito (como se fora educação pedagógica), deve ser tão normal quanto seja a alegria de seu amor e atenção à pessoa. Mas não deve se diluir nas demandas de exclusividade inequívoca e não-distraível em relação ao ser sindromizado. Pois, assim, a pessoa amada dessa forma acaba por se diluir na sofreguidão de posse da pessoa sindromizada.

Quem sofre desse mal, e quando o sofre de modo afetivo e conjugal, sofrerá muito; e fará sofrer a quem ama e por quem é amado. A única coisa a fazer é entender, discernir, crer no diagnóstico, e, sobretudo, escolher enfrentar as angústias que a alma do “sofredor da síndrome” sente como desatenção, desinteresse ou provocação.

Sim, a única forma de enfrentar isto é com a razão, subjugando as emoções; e, acima de tudo, se é amado, crendo no amor de quem se ama e diz nos amar.

Somente entrega e confiança simples pode salvar alguém desse mal!

Trata-se de uma escolha! Mas o caminho não é fácil; embora se possa encontrar cura para esse mal.

Se houver decisão baseada no amor, e se a pessoa perseverar nele, o mal da “Síndrome” dará lugar ao amor sem medo, e que tem muito mais prazer em dar do em receber amor.


Nele, que subsistindo em forma de Deus, escolheu ser apenas um homem,

 

Caio