O GRANDE VÍCIO

 

Há pouco respondi uma carta de uma pessoa amiga e que tratava dos processos familiares de transferência psicológica de jogos de morte. Terminei e postei a carta no site, mas continuei pensando acerca das tentações de Jesus. E vi que o mesmo padrão mental do Éden se manifestava no processo de tentação de Jesus. Tentação é aposta contra Deus. É aposta contra a Palavra. É aposta contra a Verdade e a Vida.
Sim, a aposta já não era tão romântica quanto o foi no Éden. Agora, no caso de Jesus, havia a diferença infinita entre o 2º Adão e o 1º Adão; e, além disso, a complexificação do processo humano na existência. Assim, as questões, ainda que movidas à idéia de que não haveria conseqüências, ou seja, movidas apenas por fantasia narcisista (que nos desenhos animados aparecem na forma de um pato que morre muitas e muitas vezes; é atropelado; fica todo esmagado; mas sempre está de volta) — são também questões da mesma natureza; ou seja: de jogo, aposta, e risco.
E há sempre um “vamos ver se comigo será diferente” na lógica das decisões contra a verdade.
Transformar pedras em pães, afinal, ainda que tivesse vindo como sugestão do diabo, não era, todavia, para Jesus, uma idéia nova. Além disso, o poder para fazer acontecer era Dele mesmo. Portanto, o que é tentação não é outra coisa senão o conceito em si mesmo, o qual é a remetência da existência para a prevalência da fantasia narcisista, a qual nada mais é que o pensamento de que com a gente não será assim. Sim, que a gente pode até fazer o ar virar fumaça, e a atmosfera uma estufa feita de nossos “poderes”, que, apesar disso, nada nos sucederá.
Continuamos individual e globalmente a nos entregar aos domínios narcisistas dos “poderes humanos” que transformam pedras em pães, mas que matam à pedrada ou que deixam que bilhões morram, enquanto apenas alguns outros bilhões comem de tal “pão”; que poluímos a Terra que habitamos, crentes que tal chuva de vomito não nos voltará na cara, como se quem pulasse do Pináculo do Templo não fosse se arrebentar; e que nos curvamos às propostas de morte, vaidades e vaidades, status e importâncias loucos, preocupações e descansos equivocados; e quase total ou mesmo, por vezes, total auto-indulgência — pensando que isto não nos porá ajoelhados ante Satanás, nas alturas de todos os excessos; nas orgias de todos os nossos caprichos; vivendo as surubas de nossas inseguranças transformadas em inquietação fantasiada de liberdade para fazer o que se pode ou consegue; e sempre bebendo lágrimas como viciados em dor; porém, surtados com a sensação de poder que enganosamente possamos fantasiar possuir…
É impossível ser e viver assim e não nos tornarmos os demônios de nós mesmos, os destruidores da criação, os vampiros autofágicos, os demônios do mundo, os associados às trevas, e os grandes idiotas de todas as possíveis formas de inteligência.
Eu sou Adão. Você é Adão. Nós todos somos Adão. A humanidade é Adão. O mundo é Adão. Mas Jesus venceu o mundo. Por isto, em Sua Graça estou coberto para andar sem medo, para buscar o que é bom, para escolher amar o que edifica, e abençoar aquilo que convém ter minha adesão generosa e natural — enquanto, mesmo que caia, venha a levantar-me em minha consciência lavada pelo perdão eterno; e como quem ama o que é bom, mesmo que tal coisa ou atitude seja o maior sinal de fraqueza neste mundo.
Afinal, isto é o que significa vencer a tentação de ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma.
A tentação humana é e sempre será namorar a morte, em todas as suas formas e faces.
O convite de Jesus, toda-via, é para que se ame e se busque o melhor para nós e os outros, em igual medida, como a nós mesmos, pois, tal coisa, é o amor de Deus em nós, e, portanto, não é jogo, é Vida.
Lugar de jogo é na mesa, no campo ou na fantasia claramente tratada como tal. A Vida, porém, só se plenifica no que é real.
Quem disse “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, não estava brincando. A Vida é abundante. Mas o Caminho é Um. E a Verdade e o Caminho são Um. E, portanto, Vida só acontece na Verdade-Caminho e no Caminho-Verdade.
Não existe viagem maior do que aquela que se faz na realidade percebida em gratidão, amor e devoção.
Quem assim anda, vê o que ninguém vê. Quem não anda assim, busca ilusões, pois foge da realidade, visto que ninguém encara a realidade e vê o que é bom, se não o fizer em gratidão, amor e devoção. Mas os que assim fazem são os que dizem que “somente ao Senhor Deus darão culto”. E, portanto, em Cristo, são os que dizem “arreda Satanás”. Somente caminha livre aquele que não faz parcerias com o diabo. E maior de todas as parcerias é aceitar a fantasia como realidade.

Nele, que nos ensina sempre,


Caio
5/11/06

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