Outro dia um amigo me mandou um texto sobre o chamado “Teísmo Aberto”, o qual, em síntese, “se faz acontecer” sob a pretensão de alguma relevância, em razão do velho conflito entre a Soberania de Deus e a Liberdade do Homem. Sendo que, em tal caso, as noções de “soberania divina” são aquelas de Calvino (ainda Calvino…) e as supostas contradições que tal teologia apresenta acontecem frente ao conceito calvinista de Soberania em contraposição à Liberdade Humana.
Ora, tal(tais) conflito(s) é(são) o fruto da visão do século passado acerca do que a Psicologia (especialmente ela entre todas as ciências) demonstrou ao abrir muitos dos processos decisórios humanos, incluindo traumas, comportamentos à revelia; e os aspectos de natureza conjuntural, mas que afetam o psiquismo das pessoas, gerando comportamentos que não são nada mais que fenômenos da alma.
Além disso, do ponto de vista do “Teísmo Aberto”, tem que haver uma síntese entre a tal “soberania divina”, de um lado, e, do outro, a “liberdade humana”. E, nesse caso, o “Teísmo Aberto” seria a “síntese”, pois, em tal perspectiva, Deus e o Homem são co-autores de suas histórias: a História de Deus sendo afetada pelo homem e a história do homem sendo afetado pela História de Deus.
Assim, Deus e o Homem tornam-se sócios no tecer da História que lhes é comum. E, a partir disso, Deus já não diria ao homem algo como “sem mim nada podeis fazer”, pois o homem diria de volta: “Sem mim também, o que farás?”.
E mais: assim como o homem aprende com Deus, Deus também, em tal perspectiva, aprende com o homem.
Ora, eu usei de propósito a palavra “história” aplicando-a a Deus e ao homem, em razão de que no “Teísmo Aberto” a questão é posta de tal modo que somente a simplificação do conceito de História como evolução do existir no tempo e no espaço, é que pode descrever a basicalidade da reflexão e do problema.
Os equívocos são muitos em tal elaboração. Sim! Começando do fato de que se pretende criar um arcabouço filosófico-teológico que torne ambas as coisas (Soberania e Liberdade) palatáveis para o gosto contemporâneo. Entretanto, não podendo me estender no tema agora, todavia, quero apenas dizer que o maior de todos os equívocos dessa “teologia” vem das noções equivocadas de Soberania e Liberdade. Isso porque a “soberania” discutida ainda é aquela de Calvino, criada no tempo em que soberania tinha no Rei a sua manifestação; e a “liberdade” tinha na decisão do homem de se rebelar contra a “soberania” a sua expressão, assim como camponeses se insurgiam contra o déspota.
Primeiro devo dizer que é total pobreza trabalhar com tais categorias históricas como tendo qualquer que seja a relação a ver com Deus. Sim! Porque Deus não é um Monarca, nem um super-rei, nem um soberano. Além disso, o homem não é livre, e a liberdade não é conhecida pelos humanos — não por causa de Deus, pois a prisão do homem é ele próprio.
Assim, nem se sabe o que é Soberania de Deus, nem tampouco se sabe o que é liberdade — posto que nenhum de nós jamais conheceu nenhuma das duas coisas, e nosso labor de pensamento quanto ao tema é apenas fundado nas primitividades históricas às quais os termos em questão se fazem vincular.
O fato é que Deus é Deus. E o homem é o homem. E o que Deus faz como soberania não é nem mesmo detectável pelo homem. E o que o homem desejaria saber de liberdade só é por ele conhecido como rebelião e capricho.
Deus é. O homem está sendo. Deus é; sendo Alguém para além da própria Existência. O homem, todavia, não é, mas apenas passa a ser sendo; portanto, existindo. Deus preexiste à existência. O homem, todavia, só existe por causa da existência.
“Teísmo” é sistema humano, como todos os “ismos” filhos das sistematizações. Trata-se de mais uma tentativa humana de adaptar Deus aos paladares modernos e tolos.
Dizer “Teísmo Aberto” pressupõe o “Teísmo Fechado”, e que seria o Calvinista.
O que existe de fato não é nem uma coisa nem outra. Há Deus. Existe o homem. Deus não é “ismo”. E nenhum “ismo” tem a ver com Deus, mas apenas com o homem.
Portanto, melhor seria chamar a “coisa” de “antropoteísmo aberto”. Sim! Pois é apenas disso que se trata em tal reflexão. Assim, como algo relativo ao homem é admissível a reflexão. Afinal, o homem pode, no máximo, falar de si mesmo. Entretanto, quando a pretensão é explicar Deus em relação ao homem e à existência, a sabedoria das melhores palavras se converte em estultícia.
O “como” de todas as coisas não está aberto para o entendimento humano. Aquele, porém, que conhece a Deus, sabe que não há meios e nem palavras possíveis de serem usadas para explicar o que o coração, na síntese do inexplicável feita pela fé, conhece, embora não entenda.
Quem diz que com essa ou aquela teologia conhece a Deus, engana-se a si mesmo, pois qualquer teologia apenas fala do homem, e nada revela de Deus.
Assim, quando leio sobre o “Teísmo Aberto”, entendo a alma e os conflitos de seus proponentes, mas nada fico sabendo de Deus mesmo, posto que Ele está para além de qualquer “abertura” a Ele concedida pelo presunçoso pensar humano.
Pense no Caminho!
Nele,
Caio