UMA PÍLULA DE ALMA
A alma é força vital sem autodeterminação consciente.
Ela fala, pede, implora, demanda, impõe — mas nada tem a ver necessariamente com verdade e realidade; pois, a alma não é um ente da verdade e da realidade; mas sim da impressão e da fantasia.
Por isso Paulo diz que o Homem Psíquico [Natural, na tradução de Coríntios] não discerne as coisas do Espírito de Deus, pois, estas só são discerníveis espiritualmente; não psiquicamente.
Assim, o Homem Natural [ou psíquico] é como uma rolha no oceano dos desejos, dos medos, das fobias, dos caprichos, das fantasias, e das escolhas do instante…
Tal homem [psíquico] é um ser-resposta; sem proposta que emane da escolha limpa, livre, sóbria, sábia e simples do espírito.
A alma só decide à revelia da consciência; e, mesmo assim, ela é sempre decidida por outras forças.
Na alma não habita nenhuma sabedoria!
Isto porque aquele que vive da alma existe para as circunstâncias!
Sim! Tal pessoa não existe-em-si, mas apenas sob os impactos bons e maus que lhe vêm de fora; ou, outras vezes, existe para cumprir carmas de caprichos feitos de insegurança + fantasia = existência almática.
O espírito não é catastrófico, mas a alma é acidente em estado puro.
Daí as grandes catástrofes da existência nascerem da alma. A alma em estado livre é tragédia.
Esta é a razão porque as fantasias artísticas da alma se imortalizaram como tragédias.
No Éden os apelos à alma precederam à tentação ao espírito.
Primeiro vem o olhar estético [… vendo que era agradável aos olhos…]; depois vem o gosto desejável [… boa para se comer…]; e só então vem a tentação ao espírito: “… e árvore boa para dar entendimento…”.
O campo fértil para a semeadura das tentações é a alma; até porque somente gente que já passou desse estágio almático é que começa a ficar exposta às tentações do espírito.
Transformar pedras em pães quando se está com fome é uma tentação para a alma.
Pular do Pináculo do Templo com uma grande assembléia de expectadores é um apelo de sedução para a alma.
Todavia, e na ausência da fome e de pessoas, num alto monte, que surge a tentação ao espírito.
Na fome do corpo e na carência das emoções, todas as angustias são da alma; e todas as tentações são a ela dirigidas.
Somente quando a alma está sem fome e não sente necessidade de gente como segurança e afirmação, é que se inicia a fase da tentação ao espírito.
Ora, digo isto para quem tem uma alma ainda viva, mesmo que louca; e digo-o também aos que estão vivos no espírito; pois, ter um espírito não significa ainda que se o tem “vivo” em nós.
A maioria tem alma sem espírito. Então, o que sobra é a existência da rolha no oceano dos desejos loucos e sem porto de serenidade.
Pense nisso!
Caio
05/09/07
Manaus
AM