SILÊNCIO! OU ENTÃO SE MATE!
Deus determina como as coisas são. Eu apenas me deleito em tentar discernir.
Há muita coisa, no entanto, que eu aceito pela fé, em razão de que o testemunho das coisas reveladas me é esmagador e superior em relação às coisas que não entendo ou que não estejam reveladas ainda.
Em Deus, todavia, sempre haverá coisas e coisas muita além de nós. Sim! Mesmo na eternidade será assim. E jamais se chegará ao fundo do eterno.
Hoje, no entanto, nossas questões são dúvidas. Na eternidade, entretanto, nosso não saber será adoração em alegria pelo mistério de Deus ser Deus.
Alguém pergunta: “Por que o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo?”
O ser piedoso logo responde: “É porque Deus sabia que a criação iria se perverter, e, então, fez provisão de redenção antes de criar!”
Lindo. Mas ainda é o homem falando e trabalhando com categorias de tempo e espaço, dizendo que algo aconteceu antes, na eternidade, em razão do que Deus já sabia sobre o tempo, sobre o depois. Assim, quem diz não é Deus, mas sim o homem acerca de Deus.
No entanto, essa é a pobreza da reflexão humana tentando colocar Deus dentro dos limites da lógica linear e temporal.
Então, nessa esteira, vêm as doutrinas greco-cristãs da predestinação, da presciência e da Soberania de Deus.
Ora, Deus é presciente, é claro, Ele é Deus. Deus é determinante, é claro, Ele é Deus. E Deus é soberano, afinal, é claro, pois Ele é Deus.
Entretanto, do ponto de vista da Palavra, estas coisas ou “atributos”, são um fato e não um conjunto de realidades a serem “equilibradas” pela lógica humana, a fim de que delas emane a pureza de doutrinas como as que acima mencionei.
Deus é Soberano, porém, criar uma “doutrina” da Soberania é como dizer que se sabe as “medidas de Deus”; e que, em razão disso, se pode construir para Ele um traje real: o da doutrina da Soberania. E, assim, dessa hora em diante, o Deus vestido por nós pode ser soberano dentro dos limites de nossa doutrina-veste-de-Deus — o que é mais que ridículo!
Tudo o que eu creio sobre redenção eu creio porque creio que a Palavra que dela dá testemunho é Palavra de Deus, mas não creio porque seja o mais lógico.
Deus não opera na categoria do lógico. Lógica é a capacidade da lesma-humana somar e se gabar de tal feito.
Para mim, no entanto, o Cordeiro foi imolado antes apenas porque a Vida é doação, é graça, é dádiva. Assim, antes de criar o Criador se dá, pois, é de Seu ato de se dar que toda vida aparece.
É o ato de entrega de Deus a Deus como oferta de amor aquilo que cria todos os mundos possíveis.
Tudo o que vem depois, como a culpa humana, já existem como ‘possibilidade’ sob a dádiva da Vida que cria a vida; e que assume tal fato criador em todas as dimensões; inclusive quanto à possibilidade da culpa e da rebelião das criaturas. Sim! Pois fora de Deus o que mais pode ser perfeito e para além da distorção? A Vida é perfeita. Mas as vidas nem sempre seguem a Vida. Ou então não era vida aquilo que a Vida estava criando.
Afinal, se o Cordeiro de Deus foi imolado antes de haver qualquer criação, então, o sacrifício do Cordeiro inicia a Vida para as criaturas que viriam, assim como também cobre toda sorte de anti-vida que a liberdade da natureza das criaturas fizesse surgir no processo, como a queda de anjos e humanos, por exemplo — entre tantas outras coisas!
Mas o porquê de tudo isso nos ser revelado pela linguagem do sacrifício do Cordeiro Eterno, julgo que seja pela nossa limitação de linguagem.
Afinal, a própria idéia do Cordeiro é oriunda da criação, e, portanto, serve muito mais ao propósito da linguagem humana do que como discrição cênica do que houve-há-é na eternidade.
No fim veremos que os homens se mataram por linguagens e códigos de comunicação [letra], pois não se apropriaram do espírito-significado presente na existência de todas as coisas criadas!
Ora, no tempo e no espaço, até Deus para falar precisa de “meios” que atinjam a mente-espírito do homem. No entanto, são apenas formas de expressão e não descrições cênicas de coisa alguma.
No palco da História [tempo/espaço] Deus não estava fazendo nada novo. Ele estava apenas usando os meios de comunicação a fim de expressar de modo grotesco aquilo que era fato-eterno Nele mesmo, em nosso favor.
Paulo disse que tudo o que soubemos pela Encarnação era aquilo que já estava realizado como mistério antes dos tempos eternos, e que agora nos foi revelado por Jesus e pelo Espírito.
Ora, alguém pergunta: E por que os elementos usados para tais simbolizações são os que são?
Eu respondo dizendo nada:
Pela mesma razão que uma pedra é uma pedra; e um astro é um astro; e a Lei da gravidade é assim como é.
E pergunto mais: Por que não pedras de bolhas de água ou de isopor? Ou por que não um universo frio e sem decisões a serem tomadas? E por que não um cosmos sem nada nele vagando?… E por que não um homem sem chance de pecar ou de escolher? Ou por que não é uma criação na qual toda criatura desviada do projeto da Vida viesse a virar apenas energia para outra finalidade? Etc.
Ora, na esteira dessas questões a primeira deveria ser: E por que Deus criou o homem? Sim! Pois nossos problemas não vêm das pedras e nem dos astros, e nem tampouco das Leis Universais, mas sim de nós mesmos. Sim! Tudo que concerne ao mal no universo diz respeito ao homem, e nem mesmo ao diabo. Então, na esteira das questões, a única que faz sentido ser levantada pelo homem diz respeito à sua própria existência, e nenhum outra mais.
Mas se aceito ser, não tenho “moral” para perguntar mais nada. E, para os extremamente honestos, a rebelião jamais deveria ser feita de perguntas, mas de atos, e, entre eles, o mais coerente seria o suicídio.
Assim, Ele é Deus; e, portanto, cale-se diante Dele toda criatura!
Nele, que é,
Caio
09/02/08
Lago Norte
Brasília
DF