SAQUEADORES DA VIDA
Eu disse num texto em Reflexões esta semana que “o medo da morte não deixa a pessoa ver a vida senão como um tempo de saque em razão da imutabilidade do fato da morte” [
Ora, a carta aos Hebreus nos diz que entre as coisas que Jesus veio fazer entre nós, uma delas foi anular o diabo em relação à consciência que crê no Evangelho, e, como conseqüência, acabar com o medo da morte; ou, como prefiro dizer: com a fobia do morrer.
Assim, em relação ao que eu afirmei acima acerca da vida que é movida pela fobia da morte existir apenas na angustia de fazer saques à vida em razão do fato da morte — quero continuar dizendo que este é um dos aspectos pivotais em tudo o que concerne o existir humano no corpo, no tempo e no espaço: hoje.
Sim! Porque é a fibrilação incessante do medo da morte no homem, aquilo que o apressa, o angustia, o faz sentir-se necessitado de “provar” tudo o que possa, bem como de se “provar” ante outros e todos; pois, lhe parece que sem que ele, o homem, se expresse de algum modo, sua existência não aconteceu; posto que para ele se a morte é o fato, tem-se que contrapô-la com manifestações suicidas e heróicas que merquem nosso nome como existência que se perenize como História.
Ora, o espectro e o escopo que esse sentir açambarca, vai do surto de Imperador dos grandes angustiados da História, aos desejos mais comezinhos e apequenados, como: “Eu preciso conhecer muitas mulheres [homens] antes de morrer”; ou ainda: “Não posso passar pela vida sem ser alguém”; ou mesmo: “Ele conseguiu ser alguém”; ou ainda, como alguém um dia me disse: “Você virou charge do Chico Caruso no ‘O Globo’ duas vezes. Quando um homem ganha uma charge, ele é alguém para a História”.
Para outros a fobia da morte dita suas angustias todas, e que em geral são de atraso em relação aos outros, ou de demora no alcançar certas coisas conforme a idade da pessoa, ou de casar de qualquer jeito em razão de se estar “passando a idade”…
Praticamente todas as coisas importantes deste mundo são ditadas pela fobia do morrer; pois, é em razão de tal certeza da morte como morte, que a maioria determina o que segue e procura na existência, apenas na intenção de saquear o tempo, o espaço e a existência, tirando da vida o que seja possível como prazer, poder e experiência; e com intensidade, posto que o tempo corre…; e a morte vem.
Desse modo, enquanto o homem não discerne, e, assim, avalia quais são as pulsões em razão das quais ele busca o que busca e almeja o que almeja, certamente ele seguirá sob a ditadura do medo consciente e inconsciente da morte, obedecendo as regras da ansiedade que advém da fobia da morte, e, por tal razão, não tendo vida, mas apenas um existir que vai seguindo as normas do curso deste mundo, que são exatamente aquelas que o medo da morte designa para todos.
Há muito pouca gente decidindo na existência sem ser em razão da morte.
Os que não seguem esse padrão são aqueles que já passaram da morte para a vida mediante a fé, e que, assim, não andam em busca de nada neste mundo que não seja a primazia do reino de Deus neles mesmos, e, a partir de si mesmos, para tantos quantos provando o seu-ser-sal, e apreciem o sabor da vida.
Nele,
Caio
16/02/08
Lago Norte
Brasília
DF