CABALA CRISTÃ: Teologia relacional…
Sei que o que aqui direi parecerá uma hiper-simplificação acerca da Cabala.
Na realidade a Cabala se tornou mais uma vez na História um elemento de importância enorme no que tange a dar fundamento para muitas das formas de busca de espiritualidade mecânica e de mistério.
A Cabala original é judaica.
Afinal, ela baseia-se nas Escrituras e, sobretudo, nas letras hebraicas das Escrituras judaicas.
O que se crê da Cabala de base judaica é que como as Escrituras dizem que Deus criou falando, ou, pela Palavra [o que na visão da fé em Jesus não significa um falar, mas sim um intencionar ativo]; e como as Escrituras são em Hebraico; logo, Deus criou em Hebraico; ou, na melhor das hipóteses, criou o Hebraico com a finalidade de encerrar nas letras e seus significados toda a história da criação; a tal ponto que cada letra em si corresponde a uma criação ou criatura; e a soma delas, na forma das Escrituras, encerraria toda a história da criação; e isto sem dizer que cada personagem bíblico corresponderia a uma ação divina [Abraão, por exemplo, seria a “compaixão”].
E mais: cada Lei Levítica e cada rito do Velho Testamento corresponderiam a uma descrição do ser intimo de Deus.
O frenesi Cabalístico em Israel aconteceu mais ou menos na mesma época de Jesus. Já na passagem do 1º para o 2º Século a Cabala sentou suas bases na Galileia; o que faz até hoje com que os cabalistas fundamentalistas creiam que o Messias virá da Galileia [embora Ele já tenha vindo].
A Cabala se desenvolveu em tempos de inatividade de Deus do ponto de vista dos judeus piedosos.
Daí a Cabala oferecer uma via diferente:
“Já que Deus não nos fala e nem vem mais a nós, descubramos meios e modos de nós irmos a Deus. E mais: descubramos modos de fortalecer Deus na prática do bem no mundo.”
Desse modo, desenvolveu-se o estudo de nomes divinos [72 nomes], bem como de nomes de anjos — sob a alegação de que entender tais nomes e seus significados dá poder a quem os aprende a usar. Daí ser algo da natureza mecânica do elemento místico.
A filosofia básica é a seguinte [isto se desenvolveu durante séculos]:
1. Quando Deus criou, Ele se esvaziou. De modo que a criação surgiu no vazio de Deus; e as criaturas e entes criados são filhos da fragmentação da Luz de Deus que se pulverizou no ato do auto-esvaziamento que deu origem ao que existe.
2. A razão da criação seria afetiva e resultado da necessidade divina de compartilhar e ser compartilhado.
3. O Criador é masculino (nome irreferível) e feminino (Shekinah; ou Glória) — de modo que é no ato de união entre homem e mulher; macho e fêmea; e, portanto, mediante toda forma de amor e perfeição relacional, que Deus se fortalece para agir no mundo.
4. Assim o aumento do amor e da justiça traz Deus ao mundo; e somente a suprema perfeição humana trará o Messias.
5. De outro lado, a prevalência da maldade enfraquece o poder de Deus e dá lugar ao crescimento do mal. Daí Deus precisar dos esforços humanos para vencer o mal no mundo.
6. Existe redenção, mas ela se vincula às obras pessoais e à reencarnação, mediante a qual se tem a chance de reparar erros passados.
7. Ou seja: nos seus fundamentos o Cabalismo é uma espécie de “teologia relacional e do processo”, só que com os misticismos que não existem na teologia relacional e do processo.
8. Por volta de 1600 os cristãos europeus começaram a interessar-se pela Cabala pela mesma razão que os teólogos modernos se interessam pelas teologias de interação de Deus como parcialmente dependente do homem.
Em todas as grandes épocas de crise e impotência humana a Cabala cresceu. Sim! Pois, em tempos de silencio dos céus poucos são os que continuam a andar pela fé apenas.
A maior tentação em tais tempos é buscar meios de obrigar Deus a agir conforme nossas necessidades.
Ora, Deus é Deus mesmo que todos nós sejamos o que Ele não é!
E mais: o chamado da Escritura para a prática da bondade não é para fortalecer a Deus, mas sim curar o homem!
Escrevi isto de modo rápido apenas para que se veja como o mundo “cristão” e “evangélico” estão cheios de cabalismo sem que se saiba.
Pense nisso! Pense mesmo!
Caio
14/05/08
Lago Norte
Brasília
DF