VOCÊ TEM CORPO?
Tem gente pra quem o corpo sempre existiu, pois viveram em dor.
Para a maioria, no entanto, nem a idade do prazer faz o corpo sentido, pois, para o jovem, o sentir bem é normal, sendo a dor o poder que em geral desperta a pessoa para o significado de possuir e habitar um corpo.
Quando eu era jovem o corpo era insensível. Mesmo quando se arrebentava. Havia a certeza inerente da cura e a infindável pulsão da energia de poder.
Hoje, entretanto, fico muito feliz quando passo um ou dois dias sem lembrança de meu corpo. Sim! Pois, aqui, ali, de um modo ou de outro, na pele ou no intestino, no sangue ou no fígado, no coração ou na imunidade baixa, o corpo diz “estou aqui”; ou, mais precisamente: “Estou cada dia menos aqui”.
Quanto menos o corpo está aqui à nossa inteira disposição, mais sentimos sua existência. O corpo existe mais pela sua ausência de poder do que pela sua potência.
Assim, o processo gradual de morrer, ir morrendo, é, ao mesmo tempo, a hora do discurso do corpo, de seu grito, de sua mensagem de quebrantamento e humildade, e de seu convite a que se converta o ser ao que não é correr atrás do vento.
Esta é a ironia: é pelo poder do corpo que a alma se enche de volúpia, ao mesmo tempo em que é pelo processo do morrer do corpo que este cura a alma que um dia o seguiu pelas veredas da inconseqüência.
Hoje, por exemplo, amanheci com enjôo no estômago, decorrente dos remédios que tomei para a gripe. Então, inicia-se uma cadeia de três ou quatro coisas, que deixam você ciente do corpo de dia e de noite.
Ora, isto faz a gente ficar quebrantado e grato!
Nele, em Quem cada dia traz seu próprio bem, pois, Nele, todo mal é bem,
Caio
15/06/08
Lago Norte
Brasília
DF