DISCÍPULOS DA HIPPIE VIADAGEM!
Jesus multiplicava pães, transformava água em vinho, andava sobre as águas, repreendia ventos e ondas; mas tinha um tesoureiro, recebia ajuda financeira, especialmente de mulheres; dava oferta aos pobres, mandava que dessem de comer à menina recém-ressuscitada, se cansava, tinha sono e sede e precisava de privacidade… Daí o monte solitário, as grutas inatingíveis, o deserto, o quarto fechado nas regiões siro-fenicias, e, sobretudo, daí o barquinho que Ele mandou que tivessem sempre disponível; pois, do barco, protegia-se do assédio da multidão e podia pregar a Paz em paz.
Assim era Jesus. Ascendeu aos céus, mas recusou-se a pular do Pináculo do templo!
Para Ele, milagre era o que acontecia quando a necessidade se impunha sobre os meios humanos. Do contrário, ao invés de multiplicar pães, Ele dá esmolas; ao invés de transformar água em vinho, Ele pede água para beber; ao invés de andar sobre as águas, Ele usa um barquinho; ao invés de repreender ventos e ondas, Ele contorna o lago pela margem; ao invés de fazer chover maná ou criar dinheiro, Ele depende da consciência dos beneficiados pela Graça. E mais: ao invés de dar a vida eterna no corpo a quem ressuscitara, Ele manda que a pessoa se cuide para não morrer outra vez, e de inanição.
Jesus tratou a tudo como um pai de família responsável trata os filhos e a existência.
Milagres acontecem, mas é do trabalho que vem o pão nosso de cada dia — pensa um pai sério e crente!
Até na hora de ser traído Jesus é objetivo, e, assim, nos dá a lição mais prática que se pode levar para o cotidiano:
“O que tens de fazer, faze-o depressa!”
Sim! Pois o que quer que velha a pena ser feito, que seja logo feito. E mais: Ele diz ao traidor que até mesmo a traição deve ser objetiva, a fim de não alongar a crueldade!
Digo tudo isso por uma razão:
Muita gente que andava decepcionada com o falso evangelho, e que foi explorada emocional, psicológica, afetiva e financeiramente nas “igrejas da angústia”, hoje julga ter encontrado a Graça; porém, em razão dos traumas anteriores, agora, pelo relaxamento, traumatizam a Graça com a indiferença no agir, no trabalhar, no contribuir, no dar-se de modo missionário; e, sobretudo, na consciência de que o Evangelho precisa ser anunciado. Afinal, se não tivesse sido, onde estaríamos hoje?
Então, na esteira desse andar, surge aquilo que no passado se chamava de “hippie viadagem”.
O que é isso?
Ora, é o pessoal que diz que vive do vento, mas na vida pessoal sabe fazer contas.
Na década de 70 eram os hippies de boutique.
Sim! É um pessoal cheio de conversa sobre “o espírito das coisas”, mas que não tem espírito para fazer coisa alguma.
Esses, na loucura, são capazes de temer andar sobre as águas seguindo a Jesus, embora não resistam à tentação de pular do Pináculo do Templo seguindo o diabo!
Milagres acontecem. Mas o dia-a-dia é feito de mulheres fieis que O serviam com seus bens. Pães podem ser multiplicados, mas o grande milagre é sempre a multiplicação da generosidade.
Entretanto, à semelhança do que diz o Apocalipse, quando afirma “o santo continue a santificar-se e o impuro prossiga na impureza”, pode-se dizer o mesmo de qualquer outra coisa, pois o princípio em operação é o mesmo: “A quem tem, se lhe dará; e ao que não tem até o que pensa ter lhe será tirado”.
Ora, em tal caso, o que se diz é:
Continue o generoso e grato a crescer em generosidade e gratidão, e, o indiferente, que continue até ficar empedrado.
É assim que a vida é; na prática!
Quem tiver dúvida, que atente então contra si mesmo!
Nele, que andou na Realidade,
Caio
27 de agosto de 2008
Lago Norte
BRASÍLIA
DF