MEU PAI É AGRICULTOR!…
Eu estava tentando ficar quieto, dando sossego ao meu corpo e mente, e, sobretudo ao meu espírito […]; e fazia isto assentado num desses bancos de madeira […], comuns em praça velha, coberto por uma “capela” de bambuzinhos que se derramam sobre o banco cansado de guerra, mas que me dá o maior aconchego […].
Ora, dali […] olhando o resto do quintal/jardim/casa/destelhada… [nosso quintal: onde se tem tudo de uma casa, mas ao ar livre…], com os três laguinhos que aqui fiz para minha diversão e prazer [lazer de alguns lindos sábados]; e olhando mais um monte de outras coisinhas […], como uma casa/cacimba/amazônica, toda de madeira, com cara de velha […]; ou um batistério de arquitetura com o estilo dos Essênios, conforme se vê em Qunram, no Mar Morto […]; tudo feito por nós mesmos, usando material velho jogado fora aqui nas ruas do Lago Norte…
Amo ficar ao ar livre o dia todo, em nosso quintal/casa…
Além de tudo isso ainda há a impressão que causa a enorme quantidade de plantas e árvores [maiores e menores de tipo e naturezas bem distintas] — o que atrai uma passarada maravilhosa; de nobres “alma de gatos”, “bem-te-vis”, “sabiás laranjeiras” […] a uma grande quantidade de outros mais de 15 tipos […], sem falar nos periquitos, que nesta época abundam […].
Portanto, enquanto via tudo isto […] e ouvia o ruído meigo da maquina com a qual o Jove estava cortando a grama, com o subseqüente aroma que sobe de mato cortado à espera do rastelo […], dei-me conta de que as nossas videiras estão lindas, cheias, carregadinhas de pequenos cachos; e produzindo uma bela sombra sob suas galhadas e ramagens […] trepadas sobre a estrutura que as ampara…
Logo outra vez Aquela Voz…
“Eu sou a Videira Verdadeira e meu é o Agricultor; todo ramo que estando em mim não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto, limpa, para que produza mais fruto ainda”.
Então lembrei como de todas as árvores que já cuidei na vida, nenhuma dá e demanda mais cuidado e carinho que a videira…
Para se amar uma videira tem-se que ter um amor que ama sem pena; com amor mesmo; visando a vida; e nunca a aparência…
Sim, pois pelo menos duas vezes ao ano, por vezes até três…, você tem que amar a videira, no auge de sua folhagem, tendo a coragem de podá-la toda, tirando ramo a ramo, folha a folha, deixando apenas os ramos que frutificam; e cortando os que não dão fruto…, mas que ainda assim existem na videira…
Os que dão fruto ficam na videira…
Os que não dão fruto o Jove joga num circulo de pedras que temos justamente para fazer fogueira e queimar galhos velhos no inverno…
O Agricultor, porém, tem que amar com amor mesmo; e não com mágicas amorosas…
Se Ele ama a Videira Ele tem que limpa-la, cortar pedaços dela; ou seja: o Agricultor tem que nela exercer a poda… Sempre… Todos os anos… Mais de uma vez cada ano…
O Agricultor também limpa em volta da videira… Cava o solo… Afofa o chão… E aduba ao redor, mas não tão próximo ao pé da Videira, que é para não alterar a qualidade harmônica e orgânica da terra… Assim, o Agricultor não põe o reforço no pé da Videira, mas no chão da terra […] mais distante um pouco… Assim, o Agricultor põe o adubo de modo a que a Videira ponha suas raízes mais distantes […] e sugue seus melhores nutrientes sem traumas para o caule…
Dói amar a videira quando é o tempo da poda […]. Mas quem não a poda não a ama […].
Vendo o Agricultor amar a Videira aprende-se que o amor tudo sofre, tudo espera e tudo suporta; e que o amor jamais acaba…
O Agricultor não pode amar com romance a Videira, buscando apenas os Seus próprios interesses e prazeres carinhosos… Não!… Ele faz o que tem de ser feito para que a Videira dê mais fruto ainda…
A relação do Agricultor com a Videira/Jesus/Discípulos/Humanidade […] segue a lógica do amor que vejo no meu amor pelas minhas videirinhas; o que me põe no caminho do amor que corta, poda e limpa… — que é o Caminho do Deus Agricultor com o Cristo/Igreja/Humanidade…
Nunca nos esqueçamos que se na Parábola do Joio no Campo de Trigo, o campo é o mundo… — então, não se deveria pensar que o ambiente no qual a Videira esteja plantada seja outro além do chão do mundo; o que faz com que a Videira seja […] numa relação intima e consciente […] aquela que se confessa no vínculo Jesus/Discípulo/Humanidade; e na relação mais ampla, segundo a Ordem de Melquizedeque, a Videira é Cristo/Igreja/Humanidade…
Assim, tanto na perspectiva existencial quanto na coletiva, tem-se que Jesus/Cristo, como Videira, une Seu destino ao destino de Seus ramos; e se submete ao Pai no trato Dele para com todos os ramos, sejam eles os que conhecem a Jesus pelo nome, sejam aqueles que estão incluídos no Cristo/Videira, ainda que nunca tenham ouvido o nome Jesus com os ouvidos carnais…
Assim, vejo não somente a vida pessoal ou a existência comunitária que professa a fé com consciência de Jesus como sendo os únicos ramos da Videira, mas também toda a Humanidade/Ramo/Igreja, segundo a Ordem de Melquizedeque.
Desse modo, em meu olhar, cada acontecimento humano, seja individual ou coletivo ou até global, está carregado do amor do Agricultor que corta, limpa, poda e queima…
No Apocalipse se vê que o Cordeiro [a categoria redentora da descrição do Filho mais ampla existente nas Escrituras…] como sendo Aquele que vindima a Terra… Aliás, a linguagem do Apocalipse está carregada da idéia do trato do Agricultor em relação à Humanidade… Todas as etapas da relação do Agricultor com a Videira estão descritos no Apocalipse; a semeadura, a vindima, a poda, o lagar, o vinho… — porém, em associação à Humanidade…
Estamos nos aproximando de uma dessas Eras de Poda que o Agricultor exerce de tempo em tempo; e com mais aparência de gravidade tanto mais quanto do Fim nos aproximemos…
No tempo do Amor que Poda a única garantia para o ramo terá sido e é a sua permanência intrínseca e intima da Videira.
O Agricultor corta da Videira aquilo que é da Videira, embora tenha se tornado um pedaço dela que não se nutre Dela em essência…
O que se aprende também nessa imagem da Videira é que o amor do Agricultor é pela Videira antes de ser pelos ramos…
Ora, com isto também aprendemos que a única Humanidade que interessa ao Agricultor é aquela que se torna semelhante ao Filho do Homem!
A Meta de tudo é que a Humanidade seja a perfeita semelhança do Filho do Homem…
Assim, para o Pai, a Humanidade tem que ser como o Filho; do contrário, não é humana…
No Fim o Agricultor não soma e nem conta os ramos que se perderam, mas a Videira […] cheia e linda; feita de todos os homens que se mantiveram firmes na única Videira…
Desse modo se pode dizer que o Agricultor pratica no curso da História exatamente a mesma coisa que Ele pratica na Natureza como um todo: seleção natural…; pois, não é Ele quem arranca sem razão […], mas apenas corta aquilo que não se mantém no fluxo da seiva da vida…
Portanto, muitos são chamados, mas poucos os escolhidos; e, estranhamente, os escolhidos são os que permanecem na sua vocação, que é existir da seiva da Videira.
Na Videira e em nome do Agricultor,
Caio
27 de novembro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF
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