A CRUZ É O DNA DA EXISTÊNCIA!
Muita gente me escreve querendo saber isso ou aquilo sobre Deus. Acho interessante, pois, eu mesmo, nunca quis saber nada sobre Deus depois que realmente conheci Jesus pela fé. Ao contrário, fiquei sabendo que tudo quando de Deus se pudesse conhecer AQUI, já estava manifesto na natureza da Natureza criada, nas Escrituras, na consciência e, finalmente, em Jesus, que disse: “Quem me vê a mim, vê o Pai”- e isto conforme eu mesmo escrevera em meu livro “Onde está o Infinito Pessoal[1977]” [http://www.scribd.com/doc/533009/Onde-esta-o-infinitopessoal], ou ainda conforme o livro “Viver: Desespero ou Esperança?” [1980], ainda sem publicação em e-book.
Queria sim, e quero, conhecer a intimidade mais e mais profunda de Deus que seja possível a um homenzinho caído e limitado ao tempo e ao espaço conhecer… Não quero entender os caminhos de Deus e muito menos discutir sua natureza. Quero apenas conhecer Seu amor. Pois, sendo Ele amor, quem ama O conhece, posto que não é possível amor com a qualidade do amor de Deus sem Deus.
Não me interessa saber por que, como ou para quê Deus faz nada. Sei que é bom. Confio. Descanso. Já não me interessa faz tempo. Apenas vejo depois. Por vezes bem depois. E nunca tive remendos a fazer.
Me cansa muito a perguntagem sobre por quês. Sei lá. Sei nada. Não sei nem mesmo o que será melhor para o mais próximos de mim. Tenho apenas conselhos. Digo o que está revelado. Mas somente o tempo mostrará qual terá sido de fato o caminho de Deus.
E quando me espremem como se eu fosse secretário executivo de Deus!?
Há trinta e cinco anos eu me importava. Defendia Deus. Era um apologista invencível em todos os debates. Lia. Lia. Me preparava. Conhecia a fundo os argumentos dos contrários. Vencia. Mas nunca vi ninguém se converter. Apenas os via saírem humilhados…
Eu vencera para Deus. Dera-Lhe razão. Explicara a inexplicabilidade de Suas razões para a mente dos homens, e os homens haviam compreendido. Assim, estava do lado Dele e fazendo a coisa certa.
Quando as questões eram sobre anomalias de nascimento ou dores absurdas que se cronificavam pela vida, ou ainda o estado de Johnny — no filme “Johnny vai à guerra”, do fim da década de 70 —, grande era a minha angustia, pois, minha mente batia em um teto tão desgraçado de dor inexplicável e covarde para os meus sentidos humano-morais, que, defendia Deus, mas tentava terminar logo a conversa.
Até que um dia, ante um fato bizarro, fui indagado: “Onde estava Deus quando minha filhinha estava sendo estuprada?”
“Estava na Cruz. Deus estava na Cruz. É na Cruz que Ele tem estado. É o que posso lhe dizer: Ele via tudo da Cruz. Foi por isto que tendo todo o poder não fez nada para não ir para a Cruz. O maior poder de Deus é a Cruz. É a espera e a entrega ao amor. É crer que no amor nada se perde. É da Cruz que Deus vê tudo. O modo Dele agir é a Cruz” — foi o que saiu de minha boca sem eu sentir, antes que minha lógica tentasse tomar a palavra.
Então, me ouvi. E me assustei. Fui pra longe dali e pus-me a orar.
Assim, um dia, de repente, tudo se abriu. E quando abriu eu apenas vi uma coisa: o modo de Deus é o modo de Jesus. Apenas isto.
Entretanto, era fácil pensar nisto em relação ao trato humano em graça e perdão, mas, para mim, era impossível pensar no modo de Deus sendo o modo de Jesus quando isto tinha a ver com a Natureza, com o universo de catástrofes e explosões, de reinos de criaturas perdidas e extintas, e, sobretudo, quando a Natureza apresentava a Lei da Sobrevivência dos mais Aptos, enquanto Jesus propunha Graça.
Que divorcio teria havido entre Deus e a Natureza? Sim! Pois, se Deus era amor, a natureza não o era. E, assim, não sabia como explicar que o homem fosse tão perverso ao ponto de ter tornado também toda a Natureza perversa em suas leis predatórias, conforme explicava a teologia.
Demorou ainda mais um tempo até que eu visse que toda a minha noção de Deus, Natureza e Criação — eram o resultado melhorado do presépio que o cristianismo criará para encenar o “Paraíso”, o jardim-mundo ideal de Deus.
Sim! Vi que meu olhar da criação antes e depois da Queda do homem, fora dramaticamente afetado pela mesma moral com a qual os “amigos de Jó” interpretavam a vida.
Sim! Vi que eu tinha uma “Teologia Moral de Causa e Efeito”, não para os homens, de cujo mal eu já estava livre fazia tempo, mas vi que não havia tal coisa também para a Natureza, que, para ela, menos ainda haveria; e mais: vi que meu olhar da Natureza era Moral; era uma herança de um “Paraíso Perfeito” idealizado pelo homem.
Foi então que vi que sempre houve o cessar de existir no tempo e no espaço, mas que isto somente passou a ser visto como “morte” quando o homem morreu em razão de sua disposição de alienar-se de Deus e do sentido da criação.
Vi então que fora a morte do homem o que fizera em nós a projeção de nossa morte como morte para as criaturas que cessavam de existir; sempre por uma boa causa; sempre para que a manada atravessasse; sempre para que a família continuasse; sempre para que a espécie sobrevivesse; ou sempre para que o sentido da vida se aperfeiçoasse e melhorasse.
Então entendi um pouco melhor o que Jesus queria dizer quando disse “Meu Pai trabalha até agora” — pois, vi que a criação é tão continua quanto a redenção, posto que ambas não são separáveis, posto que Deus seja um só.
Assim, entendi que quando Paulo disse “a morte é vossa” — ele recuperava o nosso olhar original, perdido; e mais: nos dava a projeção da morte como vida, como caminho inevitável na criação, ainda que seja para passar do tempo para a eternidade: o ponto Ômega da redenção/criação de Deus e de Seu Cordeiro da Vida.
Ora, quando tal noção ficou desvelada para mim, de súbito comecei a ver o amor de Deus em toda a Natureza, até na violência natural, que, para mim, passou a já não ser violência, mas sim o modo sacrificial do processo natural, que segue de sacrifícios em sacrifícios, sempre fazendo com que o sacrifício de um seja a continuidade de muitos, dando seqüência à vida, ao todo, ao amor que segue reinventando novos caminhos de vida, sem nunca desistir, sem nunca se escandalizar com a criatura, posto que sempre exista uma saída que a tudo melhore.
Foi então que vi com mais clareza o significado do Cordeiro ter sido imolado antes da fundação do mundo. Foi também aí que divisei o fato de que é a Redenção que produz a Criação, e não o contrário, posto que a própria criação seja já um redimir do Nada.
Entretanto, ficou claro para mim que se o Princípio era Cruz, o meio e o Fim também seriam, pois, a Cruz é a expressão do poder todo-poder que age na paciência do tempo e do amor, sempre se dando a fim de que algo novo nasça, ainda que, para nós, o fato tenha cara de catástrofe.
Assim, olhei para Jesus e vi que Ele era não apenas a Chave Hermenêutica para discernir as Escrituras, mas, também, que Jesus era a Chave hermenêutica de Deus e toda a vida.
Fui olhando para Jesus e vendo como, por exemplo, Ele e a semente são idênticos. Sim, Ele se parece com o trigo, com a terra, com o fermento, com o vento, com o fogo, com a água, com a chuva, com o dilúvio, com o parto, com a dor do parto, com a partida, com a chegada, com a cura e com a morte.
Vi que o modo de Jesus é simples como o da Natureza, pois, é a Natureza que é simples como Deus.
A Natureza não tem culpas, apenas soluções. E é assim, pois, assim Deus é.
Quando vejo Jesus em movimento, ou ouço a torrente de Seu pensar e expor, ou ainda quando percebo Seu modo de amar a todos, sem romance com o capricho dos desejos dos que Ele mesmo amava, mas apenas apaixonado pela verdade do ato do amor e pelo objeto do amor — vejo como o modo da Natureza ser repete o modo de Jesus, pois, em Jesus, o amor é vida, ainda quando a morte se interponha para fazer sacrificialmente o “salto” de um estagio para o outro da vida.
“Se o grão de trigo caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto” — é a síntese de tal semelhança, e que mostra como o padrão da redenção é o motor de toda a vida criada.
Sim! Aqui temos o Cordeiro como semente da semente de toda semente de vida!
Portanto, o que temos em todo o padrão do que seja vida, é a marca do sacrifício, a marca da morte que se entrega para dar vida. Sim! O que temos é a cruz como a marca, como o DNA de toda vida.
Nele,
Caio
31 de janeiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF