A DIFÍCIL TAREFA DE CONHECER E SER CONHECIDO!
A síndrome das folhas de figueira!
O processo de conhecer e ser conhecido é tudo, menos obvio.
Desde “as folhas de figueira” que nós tecemos para nos cobrir, que uma das mais árduas tarefas do homem é conhecer-se e dar-se a conhecer.
Sim! Pois aquelas folhas não cobriam nossa nudez, mas apenas nossa vergonha.
Ora, a maioria dos homens tem vergonha de quem é. Por isto se mantêm na tonga da milonga do cabuletê.
Ou seja: cobrindo o ser que ele pensa que é [e, frequentemente, nem mesmo sabendo o que seja], enquanto desfila de malandro livre.
Em geral quando se tem os dizem que desejam dar-se a conhecer ou dar a conhecer algo de si, no máximo têm-se os que revelam as idealizações que fazem de si mesmos, ou, ainda, apenas os que revelam o que sabem que não são, porém, que julgam ser bom parecer de tal modo ante os que supostamente os percebem.
Na realidade a maior parte dos encontros humanos são encontros entre mascarados!
Daí a necessidade de gestão tão acentuada da imagem e de aparência, pois, de fato e de verdade, o que existe entre os humanos não é o que é, mas tão somente aquilo que alguém, de saída aparenta ser; e nada mais além de apenas isto.
São poucos os que não se casam com a aparência ou que não contratam a aparência funcional, pelo menos para tê-la em lugar de demonstração ou, então, paradoxalmente, em lugar de escusa para mostrar.
Digo isto apenas porque também há os que casam com a aparência como não-aparência.
Ora, esses são os que somente escolhem o que para os outros não é belo, apenas para fazerem do que seja publicamente considerado feio ou não-bonito, a bandeira de seu desprendimento estético ou de sua profundidade espiritual — tudo, porém, fruto de complexo e de insegurança.
O comum, no entanto, quando se trata de se auto-enganar com quem o outro seja [sem ser], é que se projete sobre o outro aquilo que também ele não é, tudo como projeção e fantasia de nosso surto mágico de encontro.
Ora, o trabalho de dar-se a conhecer como esgoto de emoções é fácil. É só deixar vazar a insensatez.
Derrame!…
Por isto é que a maioria das pessoas não seria amiga de si mesma se tivesse que sê-lo.
Assim, como não seriam amigas de si mesmas e nem confiariam em ninguém que tivesse os sentimentos e pensamentos idênticos aos produzidos pela própria pessoa, a maioria vai fingindo, se escondendo, e, como resultado, apenas encontrando outras performances como demonstração de ser.
No fim ninguém conhece ninguém, e, quando conhece, deixa após conhecer!
Dói muito conhecer-se a dar-se a conhecer de fato e de verdade.
Entretanto, como o mundo jaz no maligno, mesmo sendo chamados a viver sempre com sinceridade, somos também chamados a não darmos o nosso interior a conhecer aos homens que, como porcos, não amem pérolas, mas apenas babugem.
Por isto é Jesus manda que sejamos simples como as pombas e prudentes como as serpentes.
Assim, no ambiente humano caído e desconfiado, a sabedoria manda que a auto-revelação seja sempre sincera nos princípios de toda declaração, mas prudente no revelar o que quer que seja tópico, pois, o ouvinte, muitas vezes, se não é fraco, é doente.
A aparência, todavia, é tudo o que não é; pois, mesmo a pessoa mais bela exteriormente, se não se fizer sustentar pela beleza do que tem no coração, se enfeia aos sentidos ainda que do ser mais apaixonado, tão logo a realidade demonstre o ser em sua verdade escondida pela aparência e pela performance.
Por isto é que não dá mais para casar para conhecer, pois, hoje, com todas as doenças de alma escondidas pela estética e pelas performances de comportamento social, um casamento assim [para ver como a pessoa é], quase sempre conduz à catástrofe, posto que as pessoas tanto não saibam quem de fato sejam, como também estejam, exteriormente, sempre anos trevas de distancia de quem de fato sejam no intimo.
Mais do que nunca se tem que conhecer para casar, senão não casa em casa alguma.
Entretanto, quando alguém quer se enganar, chama até urubu de meu louro.
Orar pedindo a Deus que abençoe nossos encontros sem encontro humano, é como pedir a Ele que abençoe a nossa escolha de casamento em um baile de mascarados nunca antes apresentados, e, de cujo ambiente, escolheremos aquele [a] que viverá conosco e nós com ele [a] para sempre.
O problema é que a Síndrome das Folhas da Figueira está mais presente em nós do que nunca.
Ora, sem as vestes da Graça que Deus nos oferece para cobrir-nos, a fim de deixar-nos livres da vergonha de ser, o que resta ao homem é continuar recorrendo àquilo que não o veste de sua real vergonha, mas apenas o encobre ante os sentidos de seu irmão, a quem ele se apresenta como um mascarado, porém, com ilusão de que apenas ele mesmo esteja mascarado nessa festa, crendo assim que aquele [a] a quem tira para dançar no baile desta vida esteja com a cara supostamente descoberta, embora o proponente julgue que somente ele conhece e pratica tal malandragem aprendida no Jardim.
A Síndrome das Folhas da Figueira nos acomete de um modo tão sutil que nós mesmos pensamos que nós somos os únicos mascarados nessa festa fantasia chamada de encontro social humano.
Em geral a família costuma ser o lugar do verdadeiro encontro humano, mas, hoje, ela está em extinção em quase todas as perspectivas!
Assim, sem treino na verdade, quebramos a cara e pagamos caro pela nossa ignorante presunção; pois, de fato, todos estamos ainda muito vestidos de folhas de figueira e cobertos de mascaras faciais, e, portanto, todos carecemos da revelação da glória de Deus, a fim de sermos salvos de uma existência que encontra, encontra, e, quase nunca acha ninguém…
Nele,
Caio
26 de outubro de 2008
Lago Norte
Brasília
DF