—– Original Message —–
From: A HITÓRIA DOS HOMENS E A HISTÓRIA EM DEUS – Lutero ainda…
Sent: Monday, August 20, 2007 20:26
Subject: RES: A RELIGIÃO ACHA JESUS LOUCO – sempre achou!
Amado Caio:
Obrigado pela sua resposta a minha carta, especialmente pelo enriquecedor e esclarecedor relato da vida de Lutero, sua psicose e contradições.
Quando em minha carta ressaltei os aspectos da vida de Lutero que me lembravam que tenho visto na sua caminhada, ressaltei aquelas que referenciavam o aspecto mais contundente da pregação que tenho ouvido: Graça, Amor e consciência do Evangelho.
Não entrei em detalhes como o interesse político e pessoal da conveniência de uma ruptura da Alemanha com o papado; tampouco na vida polêmica de Lutero; nem de sua formação intelectual, na melhor tradição católica. São fatos que creio, não farão parte daquilo que Deus singelamente começou através de sua vida e dos mentores que a você se agregaram. Certamente Deus usa a Seu tempo, quem achar melhor para cumprir os seus propósitos – seja mula, Paulo, Lutero ou Caio.
Li o “Sem Barganhas com Deus” e concordo que institucionalização da Reforma, que prevalece até hoje dentro das denominações evangélicas (qualquer que seja sua vertente) é herança de Roma e que o “carma” de Lutero é intensamente presente no cotidiano de muitos que se dizem “crentes”. Hoje se converter significa na grande maioria das vezes somente mudar de papa. Creio piamente que este não é, e nem será nosso caminho.
Nosso caminho é o Caminho!
Jesus, o Caminho, é onde se fazem novas todas as coisas!
E é esse Novo que quero experimentar e viver.
Eliézer.
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Resposta:
Querido Eliézer: Graça e Paz!
É claro que entendi que sua associação original tinha a ver como filme (que é belo, bem feito, resumido, e bem carregado da essência da mensagem de Lutero). Portanto, não pense o contrário. Eu, todavia, decidi aproveitar sua carta e expandir algo que me parece importante; ou seja: a desbeatificação de Lutero, a fim de que haja a desbeatificação da Reforma.
Para os Protestantes Reformados [e também o seu subproduto: o mundo evangélico] Lutero é uma espécie de Elias ou João Batista [esse é o significado]; e a Reforma é uma espécie de Pentecoste Doutrinário; ou seja: um pentecoste de intelecto e letras.
Ora, é inegável o impacto histórico, social, econômico, ideológico, intelectual, psicológico, ético, e de projeto de sociedade [que seria de democracia capitalista] que a Reforma provocou.
Entretanto, impacto conforme acima citado teve também a Revolução Francesa, ou a Alemanha de Hitler, ou mesmo a criação do Estado de Israel. A 1ª mudou a concepção do ocidente acerca das Monarquias. A 2ª mudou a História presente e futura [infinitamente mais do que já percebemos]. A 3ª mudou a geopolítica do mundo para sempre [é esperar e ver]. E nem por isso foram boas por terem sido tão históricas [a 2ª foi-é diabólica]. Entretanto, todos esses fenômenos mudaram a História.
O fenômeno da Reforma mudou a História do lado de fora mais do que na existencialidade. Assim como o surgimento do “Cristianismo” [sob os auspícios de Roma; Constantino] aconteceu como o cair de um meteoro: Bum! E morreram uns dinossauros; e os ratos cresceram como mamíferos a mamarem nas tetas da “igreja recém inventada” por um ato de um Pentecoste Imperial. O “Espírito Santo” do “Cristianismo” atendia pelo nome de Constantino.
Ora, eles [esse eventos-adventos] provocaram profundos impactos na Terra e nos fenômenos do mundo [especialmente todos aqueles fenômenos que são filhos do dinheiro; incluindo a política]. Mas, segundo o Evangelho, podem não ter significado quase nada. Afinal, na fé, o maior rio do mundo não é o Amazonas, mas o Jordão. Assim como o maior dentre os nascidos de mulher não foi Nabucodonozor, nem Alexandre, nem César, nem Gandhi, mas João Batista, que não teve quase qualquer impacto na História, exceto por falar a verdade acerca de Jesus.
A Igreja de Jesus é um fenômeno sutil, sem aparência, sem beleza a ser fotografada, sem poder a ser demonstrado, sem nada súbito que a ponha num patamar de glória ou de reconhecimento.
Igreja “reconhecida” já é “igreja”.
Foram os quatro primeiros séculos da Igreja [totalmente sem “História ou reconhecimento”] aqueles que até hoje nos significam o que possa no mínimo ser Igreja entre os homens; não no máximo; pois, “outras obras maiores farão”, prometeu Jesus para sempre.
Assim, a verdadeira História da Igreja não aparece nos “Livros de História da Igreja”. São atos apostólicos somente inscritos nos corações.
Por isso a Igreja-Caminho não sabe nem de onde vem e nem para onde vai… É duro, mas tem que ser assim.
Dessa forma [como para Jesus o que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus], se virar culto histórico, é porque é elevado diante dos homens, e já não tem [se é que teve] significado para Deus.
Na História só se pode mesmo fazer Re-Forma. A História tem forma. Torna-se fixa. Portanto, o melhor a se fazer na História é uma Reforma.
É coisa do homem para o homem!
No reino, no entanto, não se faz Reforma jamais; pois, é como por vinho novo em odre velho, ou remendo de pano novo em veste velha.
Ora, no reino tudo tem a ver com o Dia Chamado Hoje. Foi isto que Jesus disse ao moço que queria primeiro sepultar seu pai. “Deixa os da história carregarem a história. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.”
Não que isso nos conduza a qualquer forma de niilismo histórico. Ao contrário, passa-se a desejar conhecê-la ainda mais; pois, nela, na História, reside o germe de nossa grande tentação; posto que a História é a vida eterna dos mortais.
Entretanto, foi a perspectiva inversa o que fez de Jerusalém o centro do mundo e não Roma; apesar de historicamente o centro do mundo ter sido Roma, enquanto Jerusalém não era nada.
Digo isto para dizer que o fenômeno da Reforma Protestante tem todas as características dos fenômenos humanos, conforme todos os que se tornaram História.
A Igreja, por exemplo, foi se tornando… Assim como o reino: uma sementinha aqui, outra ali; uma sombra aqui, outra ali; uma lâmpada aqui, outra ali, e outras acolá. E não veio como uma montanha de sal, ao contrario, o sal apareceu conforme existisse massa a ser salgada. E mais: o sal só cumpre seu papel se dissolver-se na massa; pois, sal visível não serve para nada.
A única manifestação de fogo e chamas do Novo Testamento só aconteceu para 120 pessoas. Ora, isso para não falar que Jesus não só resistiu à tentação de pular do Pináculo do Templo, como também não foi aos céus do Pináculo do Templo.
Ora, por isto até hoje se discute se Jesus foi ou não histórico; e o debate sobre o Cristo Histórico apenas prova a minha tese. Afinal, um Jesus esmagadoramente histórico não seria discutido; pois estaria “fixado”. Ele, entretanto, se faz história nas historias dos outros, e não em Sua própria, visto que Ele não é como uma torre de Salvação numa Paris mundial. Ao contrário, Ele é invisível aos olhos da História, só sendo visto pelos que vêem a história que somente se discerne pela fé.
O descaso de Jesus para com a fixidez da História é chocante. Pode ser bem ilustrado pelo fato de Ele escrever no chão [sabia escrever], e não ter deixado nada escrito de Si mesmo. Para Jesus o que não fosse ato não merecia virar ata. E mesmo o que era ato, Ele só escrevia nos corações; deixando que outros escrevessem não “A História de Jesus”; mas, antes disso, a história de como eles O viram. Daí cada evangelho ter sua própria ótica. E tudo não fixo.
As coisas do reino não dão para serem afixadas em portas de Catedrais; essa é a verdade. Não! Elas são invisíveis aos olhos; são suaves e poderosas; e esmagam pela sutileza.
Com diz o Salmo 77:
“Pelo mar foi o Seu caminho; porém, não se acham os Seus vestígios”.
Ou seja: o mar abre, mas ninguém sabe como.
“É o vento”, dizem.
“É mesmo!”; digo eu.
Se quisermos que a Reforma seja ainda impregnada do vírus do Evangelho, então, esse culto às Tábuas da Lei de Lutero e à Revelação Institutas de Calvino, precisam acabar; e necessitam ser apenas o que foram: eventos históricos, com coisas boas e outras ruins; e, nada mais…
Além disso, achei que era bom mostrar como um pregador da Graça como Lutero pôde viver tão pouco do beneficio dela em si mesmo.
Assim, acabam-se também os mitos como o do “príncipe dos pregadores”; ou o do “boca de ouro”; ou do “leão da Alemanha”; ou do “Doutor de Genebra”.
O chamado não é para fazer Reforma. O chamado é para crescer na Graça e no conhecimento de Jesus; não como texto de doutrina ou teologia, mas como experiência da Graça se expandindo na totalidade de nosso ser, e não apenas como fenômeno de poder e influencia do lado de fora.
Um grande beijo com todo carinho, mesmo sem saber se meu paizinho ainda estará na Terra amanhã!
Assim, despeço-me Nele, que de ninguém se despede,
Caio
20/08/07
Manaus
AM
Desde ontem que papai já foi e voltou algumas vezes. Hoje ele passou o dia “ido”, mas agora à noite Deus derramou um sereno de alegria sobre nós, abrindo uma sementinha de recuperação para ele. Mas, se vivemos para o Senhor vivemos; e se morremos, para o Senhor morremos; quer, pois, vivamos ou morramos, nós somos do Senhor!