Domingo pela manhã, 17 de março de 2002 às 11:00 horas, vai embora numa densa nuvem de poeira o sonho de um evangelho integral, transformador de vidas e de opiniões, a serviço da cidadania plena, nos reinos da terra e do céu.
Morre a Fábrica da Esperança!
Ouvi no rádio, na rádio que só toca notícias como quer seu slogan. O locutor anunciava que era o fim de um projeto social, do projeto social mais avançado dos anos 90, e que daria lugar a um hospital, dessas obras que os políticos tocam à conveniência de seus interesses políticos.
Triste sina a da Fábrica, já de esperança sepultada, dar lugar a um projeto nos mesmos moldes que seus ideais combatiam…
Entristeceu-me a notícia, e mais triste ainda fiquei por saber que o episódio da explosão serviu de pano de fundo para mais uma execução nas redondezas da fábrica, mais uma, da violência que só as estatísticas oficiais insistem em negar.
O locutor escalado para cobrir a demolição de um prédio narrava, perplexo, o fato de que o homem fora baleado e havia sido ateado fogo a seu corpo inerte e ele resistia ante seu próprio fim…
Num momento de nostalgia, lembro-me do programa Pare e Pense. Recordo com carinho e saudade as palavras do Reverendo Caio Fábio alegrando minhas manhãs de sábado, com mensagens de um evangelho de vida, de pequenas coisas, do dia a dia, do homem sendo homem e não Deus, das esperanças aqui e no porvir, do poder transformador do homem na sociedade, dos sonhos, enfim…
Hoje, assisto na TV (ou melhor, passo pelos canais com a velocidade que o controle remoto proporciona) tantos programas evangélicos; a maioria deles, indigna de ganhar o rótulo; meros projetos pessoais de ascensão ao poder temporal ou ao poder religioso ou a ambos.
E os novos arautos do televangelismo pregam e pregam; o triunfalismo da vida cristã fanática sem problemas financeiros e sem doenças (“é tudo obra do diabo!”), o esquecer dos direitos e responsabilidades da cidadania (desde que seja eleito o “irmão candidato indicado”) e desde que retribuam aos indefectíveis pedidos de colaboração ao término de cada programa…
E foi com muito pesar que acompanhei o desmoronar do projeto, do sonho, do ideal.
Foi-se a Fábrica da Esperança e com ela foi um pouco de minha esperança também…
Prezado Reverendo, esta crônica foi escrita após ouvir no rádio, na mesma data, sobre a implosão da Fábrica de Esperança. Estragou o dia, quando pela manhã me deparei com aquela notícia. Daí, ao invés de chorar, resolvi escrever. Guardei o escrito até agora, quando numa limpeza de HD me deparei com ele novamente. Bateu a mesma tristeza, que não quis guardar comigo apenas. Que sirva de testemunho que algo mais do que uma simples construção ruiu naquele dia!
Saudações Fraternas,
Eduardo F. G. Santos