A LINGUAGEM QUE CORRÓI COMO CANCER



Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Mas evita as conversas vãs e profanas; porque os que delas usam passarão a impiedade ainda maior, e as suas palavras alastrarão como gangrena; entre os quais estão Himeneu e Fileto, que se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição é já passada, e assim pervertem a fé a alguns.

Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor.



Escrevendo a Timóteo pela segunda vez, Paulo deixa claro que a língua é instrumento mortal.

Tiago ficou célebre entre nós pelo seu magnífico texto sobre o poder infernal e corrosivo da língua—neste site a epístola de Tiago tem sua re-leitura feita, procure—, mas quase nunca se dá atenção ao que Paulo falou à respeito da linguagem e da língua.

Ele diz que a língua tem o poder de subverter a percepção do mundo real.

Discussões que para nada adiantam se não para a subversão dos ouvintes.

A linguagem pode corroer como o câncer, criando um tumor maligno na alma.

E, além disso, Paulo pede a Timóteo que fuja dos papos que engendram contendas.

Ao dizer isto, nosso amigo apóstolo fala também das genealogias judaicas, das fábulas, dos usos, costumes e sabedorias humanas e falaciosas—as quais, segundo ele, geram apenas presunção, arrogância, insubordinação do espírito à verdade, e espírito de sedução.

A doença pode não ter fim. Quem fala demais pode falar até daquilo que não enseja mais assunto, pois, é!

“Os quais afirmam que a ressurreição já aconteceu”—referindo-se não à Ressurreição de Cristo, mas, talvez, a daqueles santos que dormiam no pó da terra e que entraram em Jerusalém depois da ressurreição de Jesus, como se “aquela” ressurreição encerrasse a esperança da fé.

Assim, aquilo que começa como discórdias de opinião, quando vira uma obsessão, falsifica tanto o sentido de realidade das coisas, que acaba-se entrando de brincadeira no Santo dos Santos, para o próprio mal do ser.

Nada é pior que um ser humano disposto a viver de contendas de palavras.

E tem gente que se especializa nisto. Já estive com pessoas que me “explicaram no particular”, que faziam as suas brigas públicas, apenas para chamar atenção dos ouvintes. Não é preciso dizer que me refiro a pastores do Brasil.

Tem gente que gosta de fazer. Tem gente que adora ouvir. Há o programa do Ratinho. Há os ratinhos que o assistem.

Paulo prossegue dizendo que essa “moçada da língua” acaba virando a “moçada da lábia”. Entram nas casas não só para subverter a fé, mas, se possível, para levantar a saia da hospedeira crente e carente.

Cativam mulherinhas carentes, sobrecarregadas de pecado…

Da falação à sedução. A língua quando se vicia, não pára!

E mais: Paulo diz que esse vício da língua não é inocente, pois, os que se dedicam a tais coisas estão ventando a maldade de seu interior.
A boca sempre fala do que está cheio o coração. Daí não surpreender que Paulo afirme que eles passam de impiedade à impiedade…ficando cada vez piores.

É fácil perceber a maldade de um ser pelo que a sua língua pauta para todas as conversas.

Assim como é fácil discernir o conflito de um pregador pela recorrência de seus temas de pregação—especialmente os temas acusativos.

Esse caldo engrossa e cresce. Paulo acaba mostrando onde esse rio de veneno deságua:

Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta- te também desses. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; sempre aprendendo, mas nunca podendo chegar ao pleno conhecimento da verdade.

E assim como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesta a sua insensatez, como também o foi a daqueles.

Assim, aquilo que aparenta ser uma inocente e viciada coceira na língua, expressa o que há de pior na alma.

É difícil julgar as ações de um homem. Muitas vezes o que parece ser, não é. Mas quando se trata da língua, não há o que julgar. Afinal, a própria pessoa está confessando quem é, pelo mal que deseja, suscita ou inflige, covardemente, ao próximo.

Por isto, quem usa muito a língua como quer, contra quem quer e em razão do que bem-mau quer, acaba mortalmente imortalizado pela sua própria insensatez.

Os nomes dos caras: Himeneu e Fileto! Entraram legal para a História!

De toda palavra frívola que os homens disserem, dela darão conta no dia do Juízo.

Paulo conclui:

Ora, numa grande casa, não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de madeira e de barro; e uns, na verdade, para uso honroso, outros, porém, para uso desonroso. Se, pois, alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e útil ao Senhor, preparado para toda boa obra.

Assim falou Paulo.


Caio



15/03/04