—–Original Message—–
From: A MISSÃO, O QUE É?
Sent: sexta-feira, 7 de maio de 2004 19:37
Subject: Dúvidas ministeriais
Desculpe a insistência, querido Caio, mas estou orando para que Deus fale comigo através de você!!!
Olá, Pr. Caio Fábio,
Que prazer falar com você. Quero só dizer que você é um homem muito abençoado por Deus, e peço que ele conserve sua mente sempre assim, direta, inteligente e ungida!
Caio, lendo todas as respostas das cartas, me encaixo em algumas; leio, releio o site, e sempre sou enriquecido pelo Espírito Santo através de suas respostas.
Mas pra mim a coisa é um pouco diferente. Não quero dar nomes por questão de ética (se por acaso eu citar algum, por favor, tire se você colocar esta carta no site).
Me converti e sempre trabalhei com evangelismo; daí meu chamado ministerial.
Fui trabalhar em uma missão evangélica e lá criei conceitos e diretrizes para meu ministério; mas enfim, apesar de estar um lugar difícil, meu sonho ministerial estava lá.
Trabalhei no grupo de evangelismo, e viajava pregando o evangelho… e cresci muito naquele ministério, tendo a grande certeza de que estava no lugar certo.
Lá me casei e lá me separei… e por causa da separação fui desligado do ministério.
Encontrei um pastor amigo (um homem como você, que fala o que pensa, sempre na unção do Senhor) e esse pastor me ajudou no duro processo de restauração, após uma separação conjugal.
Depois de algum tempo, eu comecei a trabalhar na igreja onde estava, e estava muito feliz no ministério igreja.
Então, conheci a mulher que me ajudou a restaurar os valores conjugais que eu tinha perdido, ou que nunca tivera; e me casei novamente; feliz e com a bênção de Deus.
Mas o que me perturba é o fato de eu estar fora daquele ministério que eu amo tanto.
Depois de algum tempo, eu iniciei um ministério idêntico ao que antes fazia; e crescemos durante o primeiro ano, e saímos a campo vendo centenas de vidas se rendendo a Jesus. Todavia, os problemas financeiros foram tantos, que literalmente fomos à falência.
Eu já detectei diversos problemas que nos levaram a “quebrar”, mas isso causou um grande impacto na minha vida e na vida de minha amada esposa.
Caímos em depressão e até tomamos alguns remédios pra sair do desânimo!
Minha maior luta era saber por que havia acontecido isso, e por que Deus não me permitiu continuar a missão para a qual Ele mesmo me chamou…
Ok, vencida essa fase, continuo na igreja; trabalhando com alegria, sim, mas pensando no futuro. Agora existe até a oportunidade de fazer um seminário, tendo em vista que na antiga missão eu fiz apenas curso básico de evangelismo.
Participo de tudo na minha igreja. As pessoas me amam e apóiam meu ministério; mas sempre penso na missão…
Já até contatei algumas missões pra sondar oportunidades.
Pra você ter uma idéia do que enfrentamos… eu vendi o que tinha para bancar a minha missão… e ela quebrou.
Sei que Deus tem um propósito pra tudo; creio firmemente nisso; mas será que devo me ater a este ministério agora, ou continuar orando por um novo ministério, como o da missão?
Será que devo fazer esse seminário? Por favor, sei que Deus pode usá-lo.
Já conversei com várias pessoas. Já me sinto bem melhor do que no ano passado, mas ainda preciso sanar algumas dúvidas.
O seminário já começou, e estão me esperando lá; e eu não sinto vontade de ir…
Sei que Deus vai usá-lo na resposta!!!
Gosto muito de como você finaliza as suas cartas…
NA SEARA, ATÉ A VOLTA DE CRISTO,
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Resposta:
Meu amado irmão e amigo em Cristo: a missão é a vida em Cristo!
“Assim como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”, disse o Senhor.
Para Ele, a missão cabia na pobreza, na fraqueza, num só par de sandálias, num cajado, etc.; e não precisava nem de bolsa, nem de alforje (Lucas 10).
Nós, hoje, quando pensamos em missão, pensamos numa empresa de divulgação e propagação da informação doutrinária que a igreja – seja ela qual for — tem para contar ao mundo. Daí haver toda essa necessidade de se criar uma estrutura empresarial para a “missão”.
Eu já estive nesse barco da missão-empresa, e sei aonde ele leva, por mais bem intencionados que sejam os seus membros. Depois de um tempo, a coisa vira um fim em si mesmo.
Você já imaginou se eu achasse que meu passado era a referência de meu futuro?
Lá teria eu (de novo) que criar uma Vinde, encher o Brasil de programas de TV, rádio, livros, fitas; e teria que me angustiar para encher estádios de futebol com milhares de pessoas; realizar vários encontros para centenas e milhares de líderes durante o ano; levar milhares de pessoas a Israel; viajar quatro vezes por semana; esfolar-me todo.
Abrir empreendimentos sociais enormes; criar uma revista; pôr no ar uma rede de televisão; criar uma outra Fábrica de Esperança; abrir ou encerrar quase todos os eventos importantes que estivessem acontecendo dentro ou fora do país.
Sem falar nas centenas e centenas de outras coisas que aconteciam à minha volta, e em razão da minha missão.
Meu amado, eu não quero nada disso para mim; todavia, se esse fosse o meu objetivo — no caso de eu ser um outro ser, que achasse que a importância do ministério está nessas coisas —, digo: eu me esforçaria; e me esforçaria; e jamais conseguiria fazer aquelas coisas acontecerem outra vez, pois assim como não as busquei, mas antes, elas me acharam, assim também, se hoje eu as buscasse, elas fugiriam de mim; e eu me frustraria…
Tudo tem seu tempo e sua hora… E o Caminho é para adiante… Não para o Passado… E a missão é no dia chamado Hoje… Enquanto se vai…
Sim, tudo acontece num maravilhoso gerúndio existencial: …indo.
Percebi também que sua frustração no ministério tem duas razões:
a) a referência do passado, que já passou; e que, sinceramente, não serve mais;
b) o fato de a sua referência de sucesso ministerial estar atrelada à sobrevivência da “empresa promotora da missão”; o que é um grande engano.
O Evangelho de Jesus chegou até nós não porque “deu certo”, mas porque é a Verdade!
Se Paulo — e tantos outros, mas especialmente ele — tivesse olhado para o sucesso da missão com os olhos que ensinaram você a ver as coisas, ele teria morrido de frustração desde o começo; visto que o trabalho dele não teve reconhecimento; ele tinha que ralar para se sustentar; e era perseguido de cidade em cidade pelos seus próprios irmãos.
Todavia, para ele, o sucesso — ou melhor: o triunfo — era o cheiro de vida para vida… E que ele fazia recender aonde ia; recebendo os frutos da missão em forma de gente, não de estabilidade.
Se eu fosse você, ficaria onde você está; e indo…
Você é a missão, e o único modo de ela ser sadia é se você não precisar de nada além da Palavra, para fazê-la acontecer.
Sobre o seminário, se você deseja ir, vá… Mas, sinceramente, não sei para quê. A menos que seus sonhos envolvam a docência; pois, para ser útil no dia a dia, honestamente, a leitura da Palavra, acompanhada de bons livros, um coração aberto e uma atitude cristã genuína são tudo o de que você precisa.
Você está livre; não procure escravidão. E o lugar de onde você está vindo é bem cuidado, os jardins são belos, a doutrina é inflexível, os dramas humanos são escondidos, e o Evangelho da Graça é desconhecido ainda. O que você gostaria de ter em relação a isso?
Pelo amor de Deus, sua missão está adiante de você, não no seu passado. Portanto, sirva a Deus Hoje, com o que você é e tem; e o mais Deus fará.
É uma questão de Confiança!
Receba meu carinho e minhas orações. Espero ter sido útil.
Nele, em quem a missão é a vida,
Caio
7 de maio de 2004
Copacabana
RJ