A MORTE É DOCE



A “Vida é Bela” deveria ser mais difícil de fazer acreditar do que no fato de que a “Morte é Doce”. Afinal, todos somos testemunhas de que a natureza é bela, mas o mundo dos humanos apenas manifesta algumas belezas, mas é mais freqüentemente cruel e implacável!
Apesar disso, Jesus disse:

“Aquele que ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, não entra em juízo; já passou da morte para a vida”.

Ou seja: dá para se experimentar a eternidade ainda na experiência da existência neste planeta caído.

A eternidade não será!

Em Cristo ela já é!

O mundo é cruel, mas nosso alvo deve ser experimentar a existencialidade da eternidade mesmo que ainda se esteja vivendo dentro das limitações de nosso presente estado de existência.

Paulo via a morte de uma maneira vitoriosa. Ele não a buscava. Preferia adiar sua partida a fim de que a Graça em sua vida histórica se tornasse o mais útil possível!

Enquanto no corpo ausentes do convívio glorificado no e com o Senhor Jesus!

O tabernáculo terrestre—o corpo—é corruptível!

O corpo celestial é incorruptível!

Assim, o viver é Cristo; o morrer é lucro!

Para Paulo era certo que o homem exterior se corrompe com o passar do tempo. Vem a velhice, a canseira, os achaques nas juntas, os pesos, a perda da visão, da audição, da energia construtivista—e a dor da sabedoria de quem sofre não pelo seu próprio futuro, mas pelo daqueles que ama e aqui ficarão.

O contraponto é que ele diz que em Cristo o homem interior se renova de dia em dia!

Isto para quem considera a leve e momentânea tribulação como algo a não ser comparado com o peso de glória a ser revelado em nós.

Depois de ir ao terceiro céu…bem, depois disso, ele sabia que o que olhos não viram, o que os ouvidos nunca haviam ouvido, e também aquilo que nunca jamais havia subido como imaginação inspirada pela mais mágica fantasia artística, teológica, filosófica, sinfônica, degustativa, sensorial ou extrasensorial—era o que Deus havia reservado para aqueles que o amam!
“Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito”—diz ele!

Não era lícito aos homens referirem somente porque era irreferível. Nem sempre o revelado cabe em palavras!

Paulo viajou do caminho da certeza da vida eterna até chegar ao prazer pela eternidade!

Essa é uma viagem que poucos cristãos fazem. E é tão raro, não porque não se tem certeza da salvação, mas porque a morte é um tabu de dor transacional para a maioria de nós.

“O que acontecerá na passagem?”— é sempre a questão, mesmo quando não se tem a coragem de confessar!

Bem, a passagem não terá acontecido enquanto o corpo estiver sofrendo. E o corpo pode sofrer de dor física, mas também da dor do medo.

O medo de como é a passagem faz sofrer muito mais que a passagem em si!

Mas se de algum modo o espírito está cativo da eternidade como prazer, então a morte—que já perdeu seu poder de apavorar como dor eterna — perde também sua força como fobia da passagem!

É como nascer!

Só que não é do abrigo do útero para a dor do mundo. É a passagem do terror da corrupção do corpo — em todas as suas dimensões —para o inesgotável mergulho no amor infinitamente surpreendente do ser de Deus.
Minha suposição é que Paulo foi levado para a decapitação com a serenidade feliz dos premiados. Muitos anos antes daquele dia, Pedro havia dormido na prisão da Fortaleza Antônia, em Jerusalém, na véspera de sua própria execução.

Para quem chegou aí, mesmo que haja dor física na passagem, não é para comparar com o peso de glória que o aguarda. Até a dor se adocica nesse estado!

É no mínimo como um cafuné celestial. Creio que deve fazer extasiante coceira no cocuruto da alma e no cangote do espírito!

Nesse caso não se tem somente a certeza da salvação. Tem-se o êxtase dela!

A viagem de fé nesta vida deve poder nos levar ao nível de pacificação que produz essa alegria calma no ser. Afinal, o próprio Paulo disse: “…a morte é vossa…e vós de Cristo, e Cristo de Deus”.

Caio



15/03/2003, antes da morte de meu filho Lukas