—– Original Message —–
From: A SOBERANIA DE PINK: livre arbítrio existe?
Sent: Tuesday, August 07, 2007 5:54 AM
Subject: LIVRE ARBITRIO EXITE?
Estimado Caio Fábio,
Gostaria que me ajudasse a respeito de um assunto que tem sido uma incógnita em minha mente. Li um texto de A.W. Pink que defende a tese que o homem não tem poder de escolher (livre arbítrio) entre a salvação e a perdição, por que a soberania de Deus anula está decisão, visto que Deus já predestinou todos os seres humanos, ou melhor, já “marcou as cartas”; e, segundo o relato dele, Deus escolheu pessoas para a salvação e outras para a perdição.
Sendo assim não vou me preocupar mais com esse negocio de evangelho, se tiver que ser salvo, serei; não posso mudar isso; Deus já selecionou seus escolhidos antes da fundação do mundo.
Você poderia me ajudar? Tenho o senhor como um mestre e sei que suas palavras são de sabedoria.
Fabrício Eduardo
_______________________________________
Resposta:
Fabrício querido: Graça e Paz!
Antes de falar do Pink (rosa), vamos falar do Red (vermelho carmesim).
Como Pink é apenas Red aguado em branco, falemos primeiro o que importa: você e Red.
Você disse:
“Sendo assim não vou me preocupar mais com esse negocio de evangelho; se tiver que ser salvo, serei; não posso mudar isso; Deus já selecionou seus escolhidos antes da fundação do mundo.”
Primeiro você declarou que serve ao Evangelho, mas que poderia (em razão de Pink) deixar de servir.
Ora, é o fato é você só serve ao Evangelho legitimamente se antes o Evangelho tiver servido a e para você.
Sim! Você serve ao Evangelho [hoje] porque teme que haja algo como uma perdição a ser evitada, e uma salvação a ser escolhida – e isto na forma da conduta de acordo com as visibilidades morais do que supostamente seria o Evangelho.
Ou seja: salvação pelas obras; obras do livre arbítrio que se estabelece como auto-justificação; e isto pela via moral da boa escolha humana.
Essa salvação não é Pink, pois é Punk. Punk de “obras punks” e cheias de auto-justiça.
Ora, neste caso, o Evangelho ainda é para você um script de bons papéis, os quais, supostamente, agradariam a Deus para a salvação.
Sendo assim, o Evangelho não seria a Boa Nova, mas sim uma informação que, sendo “crida”, colocaria o dono dela (da informação) de posse de um “roteiro dos salvos”; porém, a chegada ao prêmio dependeria exclusivamente do candidato escolher sempre certo, numa espécie de maratona do saber na televisão.
Já Pink diz: “Fiquem tranqüilos os que sabem a doutrina da predestinação; pois quem a sabe, esse sabe por que é um dos eleitos; afinal, só os eleitos sabem”.
Ora, o bom da Boa Nova é que nela tudo está feito; e não há mais nada a ser feito depois dela; mas apenas há o que é para ser vivido; ou seja: para se ser-sendo.
Predestinação na Boa Nova não é uma especulação, mas apenas uma certeza para si, e como favor imerecido; e não uma doutrina para os outros. Eleição (soberania) e livre arbítrio — cada um saiba para si (em silencio), pois saber tais coisas para os outros é blasfêmia e grave pecado contra o Deus que é.
Assim, a Boa Nova acaba com toda essa especulação, a qual jamais existiu em Jesus como discurso ou explicação. Afinal, para Ele, o que interessava era exclusivamente a fé que atua pelo amor.
Desse modo, ainda esquecendo Pink, devo dizer que sua mente ainda não foi tomada por Red [e seu coração também não]; pois, caso você estivesse tomado pelo espírito da Graça, que é amor grato, o que Pink disse serviria apenas à Pantera do mesmo nome.
Portanto, desconsiderando Pink digo apenas que suas motivações confessadas e relacionadas ao porquê de você seguir supostamente ao Evangelho (digo “supostamente” porque no Evangelho o que não é genuíno, não é) — não são genuínas motivações do Evangelho, mas apenas produto do que a religião inculcou em você, e que hoje ainda põe você nesse estagio de barganha com Deus; ou, na melhor das hipóteses, como aqueles que querem a salvação porque foram eles que escolheram.
Esta é a salvação pelo livre arbítrio; o que também não é estranho, pois, fora a Graça absoluta do Deus que nos amou primeiro e antes de sermos, todas as demais perspectivas de salvação são fundadas no livre arbítrio do homem. O que é simplesmente a religião de Caim em ação no mundo (com seus múltiplos disfarces miméticos); e não é a fé de Abel.
Já a salvação do Pink é diferente; pois, para ele, tal salvação desconsidera o homem como qualquer coisa (até como coisa); só servindo ele [o homem] como jogo dessa divindade caprichosa. Essa salvação depende da escolha de Deus antes de alguém ser alguém; e isto conforme a noção linear de que Deus existiu antes, existe agora e existirá depois; ou seja: conforme a noção do “Deus criado” pelas noções que o homem tem de tempo e espaço.
Assim, discutir Pink é bobagem diante do que você disse. Afinal, quando a gente encontra a Jesus mesmo, não há mais “se é assim… então…”.
Em Jesus só há é. Só há amém. Só há “eu creio”.
Ora, isto só acontece quando a pessoa encontra Jesus, o que torna tudo o mais tolo; pois, no Encontro vem a certeza do que é; e, daí em diante, qualquer Pink é apenas lido como rosa (beleza com espinhos); posto que o coração que teve o Encontro se torna Red Carmesim.
Ou você acha que sirvo a Deus pelo céu, ou por medo do inferno, ou em razão de um premio, ou por curiosidade que busca no final saber tudo, ou por exaltação pessoal sobre os supostamente ignorantes de tema crucial (o que deu status aos teólogos e sacerdotes por milênios)?
Não! Nada disso me importa; embora um dia algumas dessas coisas tenham tido algum valor primitivo em mim; mas faz muito tempo…
Sirvo a Deus por Deus; por o haver conhecido e não ter podido negar; e por ter encontrado Nele, em Jesus, meu céu, minha paz, minha alegria, minha esperança, meu poder e minha fraqueza plena de Graça.
Sirvo a Deus por nada; pois, o Evangelho não tem que me dar nada; embora nele eu tenha tudo pela certeza do amor de Deus por mim, conforme Jesus deu a prova na Cruz.
Não compreendo Deus, embora o conheça cada dia mais. Não entendo Deus, embora Seu entendimento esteja em mim dia a dia. Não sei nada de Deus, exceto tudo — Sua loucura de amor por mim!
Assim, com céu ou sem céu, meu céu existe; pois ele é Jesus em mim; o que é mais que esperança da glória, posto que é glória em esperança já aqui e agora.
Quanto ao Pink e todos os demais rosados da teologia, digo:
Eles precisam estudar pelo menos um pouco de física quântica, a fim de diminuírem as besteiras que falam sobre esse “Deus condicionado ao tempo-espaço”; e que anda como anda o homem; e que entende como entende o homem; e que é limitado em atos e significados de soberania e poder como o é o homem; e que é tão estranho nos seus caprichos, venetas e decisões de salvação e perdição assim como o homem é, e que nada mais é como “Deus” que um contador universal (na melhor hipótese), ou (numa perspectiva pior), “ele” é pior que o próprio diabo.
Deus pior que o diabo sim. Afinal, ninguém jamais disse que o diabo predestinou (cartesiana e retilineamente) alguém para a perdição (ele diria: Quem me dera ter tal poder!); mas esse “deus” teria feito isto como quem distribui as cartas vendo o jogo desde antes e desde cima – na Las Vegas eterna.
Quando o homem diz “predestinou” ele quer dizer destinou antes de existir — e ao declarar isto ele o faz a partir de sua perspectiva de tempo/espaço. Ora, Deus é Deus presente no tempo/espaço, mas o tempo/espaço não o podem conter; daí Ele não caber nos universos todos, mas habitar a atemporalidade do coração.
Todavia, para Aquele que é; não há tempo/espaço como ambiente condicionante. Sim! Nem como linguagem que o comporte; e, muito menos ainda, como corpo de pensamento que o possa conduzir para os meios da percepção e lógica do homem.
Assim, quando se diz que Ele predestinou se está dizendo que Ele [que é] conhece tudo e todos; e que nada que esteja sendo… – já não o fosse Nele.
Daí o Cordeiro ter sido imolado antes da fundação do mundo, não para que o mundo existisse para ser condenado por Deus, mas antes, ser salvo por Ele; pois, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus provou o Seu amor para conosco em Cristo, não imputando aos homens as suas transgressões; ao contrário, declarando na Cruz que estava se reconciliando com o mundo mediante a Encarnação e Sacrifício histórico do Cordeiro já oferecido por toda criação antes de haver mundo.
A questão é simples, no entanto.
Você serve a Deus em razão de um conjunto de informações acerca do que Deus é e faz, ou simplesmente porque você o conhece e sabe quem Ele é, e isto por saber que Ele é como Jesus?
Dependendo da resposta a esta questão o que o Pink disse deixa de ser; pois, para quem conhece a Deus e o Seu amor, mesmo não havendo compreensão acerca dos pensamentos de Deus, pela via do amor se tem o entendimento que excede a todo entendimento; e que é revelação incomunicável de Deus ao coração, pondo o espírito do homem para além das palavras e suas reduções, visto que o conhecimento de Deus pela fé é conhecimento experiencial de Deus; sendo, portanto, como a experiência de quem viu o indizível, discerniu para si, mas não tem códigos para contar aos homens.
A teologia só conta coisas de Deus aos homens porque ainda não conheceu Deus; pois, quando o conhecer já não falará Dele senão como amor; e conforme o amor se revelou em Jesus; posto que [para além disso] nada mais há para ser dito; sendo que a tentativa é tão ridícula (tão ridícula nada; infinitamente mais que ridícula!) quanto um micróbio tentar descrever todos os cosmos dimensionais que nos cercam. Tal é a loucura humana. Tal é a loucura de Pink.
Leia aqui no site (vá a Busca) e leia sobre Tempo, Espaço, predestinação, liberdade, soberania, etc. Há muito material aí. Leia e você se esclarecerá.
Espero ter sido útil. E, por favor, reveja as suas motivações em relação ao Evangelho, pois, uma vez em Jesus, todo “sendo assim” remete para “o amarei mais”, ou para “sou dele”, ou ainda para “Nele eu sou!” — e nada mais além disso.
Não busque saber se você tem livre arbítrio. Apenas haja com o melhor de sua consciência. O resto é do diabo. Sim! Do diabo mesmo; pois, olho à volta e só vejo o diabo se beneficiando de tais discussões que não fazem ninguém amar a Deus por Deus, mas, na melhor das hipóteses, por Deus ser conforme o que eles acham que “Deus” deve ser.
Sendo assim… — siga de coração; pois, sem o coração todo “sendo assim” conduz a “nada é assim”, ou, muitas vezes, a “nada vale a pena!”.
Nele, em Quem o passado ainda será; o presente já foi; e futuro acabou faz tempo; pois, Ele é o Deus que é; o Eu sou em quem tempo e espaço são partes das coisas temporárias; e que hoje são, mas amanhã já não serão; posto que o futuro será o mais remoto-eterno antes de antes; antes do tempo, quando o Cordeiro se deu pelo que ainda não havia, para que tudo o que hoje já não é, ainda é, e ainda será, encontrem seu significado na eternidade que faz tudo apenas ser, sem antes, sem depois, e sem será; pois Ele É,
Caio
08/07/08
Manaus
AM
Obs.: Os Pinks não entendem isso. É revelação mediante a iluminação do coração pela Graça que nos abisma no amor de Deus. Isso é Red meu irmão.