A SUA MENSAGEM ME PERTURBOU. SERÁ QUE ENTENDI?

Olá Caio! Tenho sido assídua nas reuniões no Caminho… e sempre levo alguém comigo. Em sua pregação de ontem (07/11/2004), na hora da Oferta, você enfatizou:…”deixe sua oferta e vai reconciliar-te…” mais ou menos isso. Eu já estava com meu envelope pronto e fiquei reticente em levá-lo, mas acabei levando, porém com dúvidas se agi certo…e por causa disso é que te escrevo para dirimir essa questão que é de suma importância para mim. Vou tentar resumir: Fui casada por 23 anos e estou divorciada há 9. O período em que estava fechando as questões da separação com o “ex” foi muito conturbado, e houve muitas brigas. Na realidade eu estava encerrando um casamento pautado por adultérios da parte dele. Só que ele é muito burro e levou uma moça 26 anos mais nova que ele para morar na casa que deixei; e isso pegou, já que estávamos tratando da papelada e uma das cláusulas era passar o imóvel para o nome do filhos; e eu, com o orgulho feridíssimo, não permiti que ela morasse lá enquanto o imóvel estivesse em meu nome, já que foi fruto de minhas finanças, juntamente com as dele. Num dado momento, ele entrou em meu carro para conversarmos e mais uma vez discutimos muito. Num ímpeto de raiva, eu mandei ele sair do meu carro com a seguinte frase: “SAIA, DESINFETE!”… e isso o feriu ao ponto de sair do carro e dar um pontapé na porta, a qual afundou. Nisso, eu também muito alterada, disse para ele: “Agora você vai ver: Vou lá na casa e vou quebrar a cara daquelazinha…” Eu fui, pastor; mas ele avisou pelo celular e não pude entrar. Só entrei numa vacilada dele, que chegou logo em seguida. Aí, eu fui direto aonde ela estava (se trancou dentro do quarto – estava morrendo de medo de mim!), e como eu não consegui bater nela, chutei a porta e disse um monte de coisas para ela. Eu sou daquele tipo de pessoa que passa paz e calma; e minha atitude extrema me surpreendeu também. Eu fiquei fora de mim. Juntei toda a raiva que sentia dele, das ex-amantes e dela também, e a elegi como representante oficial. Fiquei tão mal, que no dia seguinte não consegui sair da cama. Minha cabeça doía e eu vomitava o tempo todo, tamanho era o estado de nervosismo que eu estava vivenciando naquele período. Resumo da ópera: Fiquei uns 7 anos sem falar com ele, exceto o estritamente necessário com relação aos filhos. Depois, graças a Deus, a raiva dele passou, e hoje já nos falamos normalmente, dentro do essencial, é claro; porém, eu ainda não consegui tirar a raiva que sinto daquela moça. Todas as vezes que penso nela, algo me irrita. Então, minha dúvida quanto à oferta é: Como posso me reconciliar com uma pessoa que não gosto e que o simples fato dela existir na minha vida me faz mal? Seria muito incoerente pedir perdão a uma pessoa que entrou na minha vida na hora errada, no momento errado e da maneira errada? Ela não passa de um símbolo de representatividade das amantes que meu ex-marido teve. Eu não tenho mais amor por ele e já tenho outra pessoa. Mas o que me incomoda é o fato dela ter me subsistido na vida dele, pois ele é dado a adultérios, “surubas”—comigo ele nunca fez isso—, e, em contrapartida, ele oferece conforto material, e eles estão juntos até hoje! Eles se merecem! Então, Caio, se todas as vezes que eu fizer ofertas isso vier à minha mente, complica! Não sinto o menor desejo de me aproximar dela e ainda por cima pedir perdão! Eu ainda não atingi essa maturidade espiritual! Devo deixar de fazer ofertas ? Não faço por barganhas, Deus sabe disso, mas sua pregação suscitou dúvidas em mim…fiquei dividida…sou uma pessoa transparente e não quero ter que pedir perdão só para ser ser ofertante, e só me sinto culpada pelo fato de ter tentado agredi-la, coisa que não aconteceu. A aviltada dessa história toda fui eu! Sei que ela não é a culpada, mas contribuiu de uma forma negativa no momento errado. Estaria sendo falsa ao pedir perdão se não sinto vontade de pedir. Qual é a sua orientação? Obrigada e um abraço! _________________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça e Paz! Na realidade você ficou tão perturbada com a idéia da reconciliação com o adversário—aquele contra quem alguém fez algo deliberado e errado, o que não é o seu caso—, que não ouviu todas as demais diferenciações que eu fiz, durante a mensagem, sobre o significado de ser o ofensor e o ofendido, e como cada qual deve proceder (Mt 5 e 18). Aquela hora e meia de mensagem se prendeu muito mais ao mal espiritual e psicológico do ódio e da amargura—e seu poder desconstrutivo e auto-destrutivo—, que à questão da “oferta”. Devo lembrar o seguinte, da própria mensagem, e que foi o que também lhe passou desapercebido. 1. Lembra que eu falei que se alguém ali não estivesse entendendo bem o que eu estava falando poderia ficar sofrendo de uma culpa neurótica? E lembra que eu expliquei as diferenciações? Pegue a fita e ouça com cuidado. Não dá para eu resumir uma hora e meia numa página. Mas está tudo bem claro. Ouça. 2. Lembra que eu disse que seríamos “literais naquela manhã”? Que faríamos como o texto manda: “deixar a oferta no altar…” e ir buscar não a conquista do ofendido—esse departamento não nos pertence—; mas sim realizar o ato da justiça e da verdade em relação ao erro real e deliberado? Sim, lembra que eu disse: “Deixa a oferta no altar… vá… e faça conforme a verdade de sua consciência em relação ao ofendido, caso ele exista nas condições descritas; e, depois, se possível no próximo domingo, volte e valide a sua oferta com o gesto correspondente à sua ação de acerto, caso este seja o seu caso…”? 3. A sua situação é de natureza psicológica e você mesma sabe disse, e já diagnosticou o a caso. De fato, sua raiva é de seu marido e a menina é o “bode expiatório” da situação. Portanto, você não tem que falar com ela—provavelmente ela nem deseje isso, e nem pense no assunto; tenho certeza que o que ela quer é ficar longe disso—, mas apenas com aqueles que sua consciência diz que você feriu de modo deliberado e mau. O que passar disso, como eu disse, é neurose. Assim, fique calma! Quanto ao “caldo de amargura” remanescente, mesmo que você diga que já tem alguém e que nada mais sente pelo “ex”, ainda assim, a manutenção do presente estado de hostilidade para com ele—Sim, porque a menina é só o álibi de sua raiva!—, deve ser resolvido logo, posto que seu atual companheiro jamais se sentirá tranqüilo se vir você ainda tão incomodada e raivosa por algo que você diz que acabou, e que já está para completar uma década. Além disso, tal estado é sério, pois tem o poder de adoecer a alma de seu portador. Aguardo você no sábado e no domingo à noite, lá no Caminho… Aguardo você! Nele, em Quem reconciliação não tem que virar amizade, e perdão não tem que ser marcado por intimidade, mas apenas por liberdade e graça, Caio