A TRANSFIGURAÇÃO ERA UMA SESSÃO ESPÍRITA?


 

—–Original Message—–

From: Jonas

To: [email protected]

Subject: Espiritismo: Moisés e Elias!

 

 

 

 

Pastor Caio: A paz do Senhor!

 

 

 

 

Eu tenho uma pergunta incômoda, pelo menos para mim. Espero que a resposta seja satisfatória para todos aqueles que verdadeiramente buscam, no plano racional e, porque não dizer, espiritual também.

 

 

Aí vai a dúvida: Na transfiguração, o que aconteceu? Pois vejo que pode haver uma brecha para um argumento de ordem espírita. Explico: Elias foi arrebatado, até aí tudo bem; afinal, assim podemos argumentar em favor da sua aparição na Transfiguração. Mas o que dizer de Moisés?

 

 

Pastor, isso é importante, pois, quando nos deparamos com possíveis aparições de Maria, por quaisquer motivos, para explicar algo ou para consolar alguém, por exemplo; temos um problema.

 

 

Dizer que o destino de Moisés é um enigma, não esgota a questão, apenas reforça a pergunta. O que se entende por comunicação? Ter uma visão não significaria também comunicar-se? Houve comunicação entre vivos e mortos? Aguardo ansioso por sua resposta.

 

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Resposta:

 

 

 

 

Jonas, querido: Vamos lá!

 

 

 

 

1. Deus é livre para fazer o que quiser. Ele não pede permissão a ninguém para fazer qualquer coisa, muito menos se preocupa com o que pensam os espíritas, os evangélicos e ou os budistas. Ele faz o que quer, e como bem entende.

 

 

2. Essa briga é religiosa. Deus não participa desse debate. Ri-se deles, o Senhor!

 

 

3. Qualquer “resposta” a essa questão, na minha maneira de ver, tem que iniciar com a Soberania de Deus para ser Deus, e agir como bem entender. Deus não está confinado por aquilo que Ele nos proíbe de fazer.

 

 

4. Para mim, antes de responder à questão tópica, tem-se que saber disso, mais uma vez: Deus não está confinado por aquilo que Ele nos proíbe de fazer. Ele proíbe coisas, para nós — Suas criaturas —, mas não para Si mesmo.

 

 

A criação toda é um exemplo claro de que as espécies vivem cada uma ao seu próprio modo; e, muitas coisas naturais na criação, não são naturais para o homem. Por quê? Porque Deus assim determinou. Mas, na criação, Deus nos mostra Sua total liberdade para criar o impensável, o absurdo, o que não faz sentido para nós.

 

 

5. Veja o fundo do mar; isso pra a gente não ir mais distante. Faz algum sentido, para você, o que acontece naquele mundo? Os seres que ali aparecem, se nunca tivessem sido vistos como bichos da “Terra”, apesar de estarem no “mar”, nos seriam coisas alienígenas; os que possuem biolumenescência, poderiam até serem confundidos com anjos, querubins e serafins. Mas não são. São apenas peixes!

 

 

6. E o que isto tem a ver com nosso tema? Bem, Deus é livre. Quando Ele me diz pra não fazer algo, isso não significa que Ele não possa fazer o que Ele me impede de fazer. Quem criou todas as coisas, pode todas as coisas para Si mesmo.

 

 

Se Deus fez, Deus estabeleceu que Seu reino vai até os extremos de tudo o que criou; isso, para não falar que Deus está sempre criando. Criar é o que procede de Deus; assim como respirar é o que nos faz viver.

 

 

Estaria Deus preso à necessidade de criar? Claro que não. Mas porque Ele é, coisas são. E sempre estão sendo e se renovando Nele!

 

 

7. Bem, e Elias? E Moisés? O que eles têm a ver com isto? E as sessões espíritas? E as crises evangélicas com os textos usados pelos espíritas?

 

 

8. Eu nunca consultei, não consulto e jamais consultarei os mortos, porque Deus me disse para jamais fazê-lo. E ponto. Eu obedeço. Isso me basta!

 

 

9. Todavia, não o faço pela vitória doutrinária sobre a tese espírita. Há muita coisa que é real, embora esteja proibida para nós. As coisas reveladas são para nós e os nossos filhos; as ocultas pertencem ao Senhor nosso Deus.

 

 

10. Estou fugindo da resposta? Não, não me tome por evasivo!

 

 

11. Eu penso o seguinte:

 

11.1. Moisés morreu, e o Senhor o sepultou — isso, a Bíblia diz. Depois, em Judas, lemos acerca da disputa de Satanás com o arcanjo Miguel acerca do corpo de Moisés; ora, essa declaração vem de textos que não estão em nossas Bíblias, mas que foram usados pelos autores bíblicos; e tais declarações foram feitas nos textos da tradição judaica – alguns apócrifos para nós; outros, pseudo-epígrafes, como o Livro de Enoque.

 

Paulo, Pedro e Judas serviram-se bastante dessas tradições. Paulo tem frases inteiras em seus textos, que ecoam o livro de Enoque (está saindo o meu livro Nephilim, com “notas de roda-pé”, e que explicará bem melhor essa questão).

 

11.2. A Cosmologia espiritual de Paulo (II Co 12; terceiro céu) vem do livro de Enoque.

 

A segunda epístola de Pedro é uma síntese de Enoque — mesmo tema, mesmo desenvolvimento, mesma viagem.

 

Judas, em sua epístola, faz isso ainda de modo mais explícito: chega mesmo a citar Enoque — com palavras literais do livro atribuído a Enoque —, e é de textos como esse que ficamos sabendo da disputa de Satanás acerca do corpo de Moisés; isso no Novo Testamento.

 

Assim, ficamos sabendo que houve uma batalha simbólica, pela matéria de Moisés; seu corpo. Por quê? Ora, a Bíblia quase nunca explica, apenas conta a história; e pelo “tom”, a gente fica sabendo se o assunto está aberto ou se está fechado; sendo, nesse caso, apenas contado — e já deveríamos ficar agradecidos!

 

11.3. Bem, Elias, como você disse, foi trasladado, à semelhança de Enoque, para que não visse a morte.

 

11.4. Será que isto daria a eles um lugar garantido na Transfiguração em razão de não terem apodrecido no chão da Terra? Pessoalmente, não creio nisto. Se esse fosse o critério, Enoque teria que ter estado lá antes de qualquer outro.

 

11.5. Vou falar o que penso, mas quero deixar bem clara a ressalva de que Deus pode estar rindo de mim; Ele sabe que eu entendo esses risos Dele; especialmente quando afirmo aquilo que não pode ser “afirmado”, mas apenas expresso.

 

Portanto, não afirmo expressamente, apenas expresso de modo afirmativo minha própria convicção, e deixando bem claro que ela habita a periferia de minhas preocupações!

 

11.6. Sim, afirmo que Moisés e Elias estavam ali, como uma “mensagem” de natureza histórico-salvífica. Ou seja: A Lei e os Profetas estavam dando testemunho do Filho de Deus. Ambos, Moisés e Elias, representavam uma legião de testemunhas.

 

11.7. A Transfiguração apontava a convergência da História da Fé para Aquele que era o Enviado; o objeto de todas as lutas e de todas as esperanças de todos os que nos precederam, e de toda a Revelação.

 

11.8. A Lei e os Profetas estavam fazendo sua síntese ali, em Cristo.

 

 

12. Quanto a isto parecer uma sessão espírita; e quanto a abrir precedentes para falsas interpretações, tenho algumas coisas a dizer:

 

a) é problema de Deus, não meu; foi Ele quem fez a Transfiguração ser do jeito que foi. E, pelo visto, Ele não estava e nem está preocupado com isto;

 

b) o mandamento que proíbe a consulta aos mortos não nos fala nada sobre se tais contatos são possíveis ou não; apenas estabelece que isso é uma abominação ao Senhor. Para mim isso basta; não preciso saber se não pode porque não acontece, ou se não pode porque acontece; ou se não pode porque o que “acontece” é obra do diabo. Se Deus disse explicitamente algo, para mim está dito explicitamente; e vivo pela fé no bem de Deus para mim;

 

c) nosso problema com essas “coisas” acontece porque ficamos querendo vencer as “outras convicções” em disputas doutrinárias e lógicas; e mais: transformamos um “precedente” na própria Bíblia, em algo a virar regra.

 

Responda-me: quantas vezes se lêem na Bíblia, coisas acerca disso?

 

De fato, há os “precedentes” de Saul e a Pitonisa de Endor; há João Batista, que Jesus disse ser Elias – porém João, quando perguntado sobre sua “identidade Eliasiana” histórica, disse: “Não sou Elias”; e há a Transfiguração.

 

 

13. Ora, esses precedentes estão todos sem explicação lógica, são apenas narrativas. E é bom notar que o próprio Jesus não facilitou as coisas; afinal, não deu maiores explicações sobre o tema de João ser Elias, mas apenas nos revelou Sua própria liberdade de falar sem explicar.

 

 

14. Então, voltando à questão, eu repito: essas coisas são um problema para nós; Deus não nos deixou isto como um problema; Moisés deixou claro que o oculto pertence a Deus. E foi nosso orgulho de supremacia “lógica” na argumentação, o que nos levou a “criar o espaço” para o espiritismo.

 

 

15. Isso mesmo: o espiritismo é uma criação “cristã”. Veja que Jesus está lá, nos textos e doutrinas; e até com mais lógica de conteúdo do que em muitas confissões evangélicas – como essas que hoje crescem e estão na televisão; erro por erro; uso indevido por uso indevido; falsificação de conteúdos por falsificação de conteúdos — teríamos que admitir que se fôssemos honestos em nossas “apologias doutrinárias”, necessitaríamos dar o mesmo tratamento que damos ao espiritismo e seus co-relacionados, aos cultos evangélicos que criam a mesma relativização da Cruz e do mundo espiritual, contra o Evangelho.

 

 

16. Então você me pergunta: Você acha possível que mortos — arrebatados ou não — possam falar com os homens?

 

 

 17. Minha resposta mais honesta, pela ausência de explicação bíblica, é um “não sei”.

 

 

18. Mas se você me pergunta: você acha que isso possa acontecer sem a permissão divina? Minha resposta é um sonoro “Não”.

 

 

19. Então você me pergunta: O que, então, você crê acerca disso? Bem, falo do que eu creio para mim.

 

 

20. Creio que consultar mortos é uma abominação (está escrito), e creio que não se deva fazê-lo por duas razões:

 

1) porque está explicitamente proibido;

 

2) porque se está proibido, é porque é mal, para os humanos.

 

Para mim, sinceramente, isso encerra a questão. E, também, nunca entro nessas questões quando estou conversando com espíritas. Se me perguntam, eu falo. Se não me perguntam, eu falo de Jesus, da Boa Nova de que em Cristo não há carma, não há retornos de autopurificação, não há purgatórios; nem no céu e nem na terra, onde se tenha que pagar as dívidas de existências anteriores. Pela Graça sois salvos!

 

 

Meu amado, do ponto de vista “lógico” não há nada a ser dito. Mesmo que você parta do fato histórico da Ressurreição como sendo o validador de todas as nossas supostas certezas doutrinárias periféricas — digo isto porque o Novo Testamento não se preocupa com essas outras questões: Cristo é o Senhor e Salvador! —; ainda assim, o pressuposto a ser a base para a certeza, ainda é a fé.

 

 

A Ressurreição foi histórica: Jesus ressuscitou dos mortos. Mas nós não vimos, nós cremos no testemunho dos que viram; e fomos iluminados por essa fé, que, para nós, nos foi dada como revelação do Espírito. Então, temos que andar em fé. Portanto, não adianta a lógica.

 

 

O que faz diferença é a natureza da fé; se ela se fundamenta em Cristo e Seus méritos de salvação a nós imputados; ou se se fundamenta no homem e em suas conquistas morais, éticas, e de virtudes pessoais — ou de desvirtudes que recebem como punição uma “volta ao mundo” a fim de purgar pecados.

 

 

Sem a fé em Jesus, qualquer coisa é qualquer coisa. E sobre todo pressuposto se podem construir belas doutrinas, todas muito bem concatenadas.

 

 

Por isso, é pura perda de tempo tentar convencer espíritas de que eles estão errados e nós certos; sendo que na maioria das vezes eles são, como pessoas, mais “certas” do que a maioria de nós. É em razão disso que os evangélicos têm que ficar disputando doutrinas com os espíritas: não temos vida; então temos que ter vantagem lógica. Tudo bobagem!

 

 

E, como disse, foi a perversão da fé cristã o que criou o espiritismo ocidental, todo ele bem cristão, e cheio de “evangelho”.

 

 

E por quê? Pelas mesmas razões de hoje: eles olhavam para nós e não viam em quê nossa fé pudesse fazer qualquer diferença entre nós e eles. E como o Espírito Santo se manifestou muito pouco dentro da “oficialidade da fé cristã”, sobrou aos piedosos, porém equivocados, a seguinte questão: será que esse “vazio” espiritual não vem justamente pela falta desse “contato imediato” com os espíritos? Bem, a resposta está aí!

 

 

Concluindo, quero dizer que nenhum morto jamais me apareceu ou aparecerá. E que qualquer coisa que vier — seja de que mundo for —, sairá em Nome de Jesus; pois, quem ordenou que não se consultasse os mortos, é o mesmo que nos deu autoridade sobre todo poder maligno — e eu jamais teria dúvidas, para mim, quanto a repreender tais coisas em Nome do Senhor de Todas as Coisas.

 

 

Assim passei minha vida toda. Houve momentos em que me parecia ser importante provar que aquilo tudo era do diabo. Hoje eu sei que até a tentativa de provar isso é também do diabo.

 

 

Eu prego a Cristo, que morreu pelos meus pecados, segundo as Escrituras; e que ressuscitou dos mortos, também segundo as Escrituras; e que está acima de todo principado, trono e poder; e que é Senhor de vivos e de mortos. Portanto, tudo e todos estão sob a Sua Soberania. Quem crê nisto não tem mais problemas com essa questão.

 

 

No fim, tudo volta ao de sempre: “O meu justo viverá pela fé; e se retroceder, nele não está o meu coração”— diz o Senhor.

 

 

Todo espírito que não confessa que Jesus Cristo é Deus Encarnado, não procede de Deus, mas do anticristo. E todo espírito que confessar qualquer outra doutrina, tem que ser repreendido, solenemente, em Nome de Jesus!

 

 

Espero ter sido útil.

 

 

 

 

 

 

Nele,

 

 

 

 

Caio

 

 

Escrito em 2003