ABORTOS E ABORTEIROS DE AMOR – Caio e Bento Souto



Esta semana fui muito criticado por batistas, presbiterianos, e outros … lististas e … virtualianos, em razão de um texto-carta que respondi há uns 20 dias. (Ao final transcreverei algumas dessas cartas ou debates; sem falar que dentre os poucos (4) que me escreveram com censura, três se retrataram; e acabaram me confessando que o problema deles era outros. Sim, na maioria das vezes é “outro”. Mas quando o Povo é do Bode e não do Cordeiro, é assim mesmo: projeções e transferências; nunca a verdade!) A carta era sobre a situação de um casal que teria um filho com “Síndrome de Down”, e que havia sido aconselhado por um profissional da psicologia que fizessem o aborto ainda nos estágios iniciais, tendo ficado na dúvida, me escreveu, e, no curso da carta, deixaram claro que não queriam tirar (é claro!), e nem se sentiam em condições de ter a criança. A carta e a resposta seguem aqui transcritas, mas ao final eu volto, em razão de que tenho alguns comentários a fazer; especialmente porque alguns que aqui vêem apenas para ver se têm do que me acusar, pegam uma resposta aqui e outra ali, e gastam horas e horas em grupos na Net tentando ver se me demonizam. Mas a boca sempre fala do que está cheio o coração; para o bem e para o mal. _____________________________ —– Original Message —– From: A ESCOLHA DE SOFIA- aborto de um filho To: [email protected] Sent: Sunday, November 27, 2005 3:56 PM Subject: URGENTE – AMANHÃ FAREI UMA LOUCURA(?) Amado Caio, Sinto-me num inferno. Sou evangélico desde pequenininho, tenho 37 anos e sou casado com uma missionária de 38 anos, e que ama muito a Jesus. Temos um filhinho e descobrimos que estamos grávidos de uma menininha com 13 semanas e que é portadora da síndrome de Down. O mundo desabou sobre nossas cabeças. Procuramos um psicólogo amigo, que é cristão, e ele nos ajudou a decidir por interromper a gestação, pois o nascimento traria muito mais dor, tanto para nós quanto para o neném. Apesar de nosso lado racional dizer que realmente é melhor esta interrupção, nossos sentimentos estão terrivelmente abalados. Será pecado? Temos este direito? Se Deus é soberano, pode nos impedir de agir errado (oramos pedindo que Ele assim fizesse). Também orei pedindo perdão a Deus pois fiquei muito bravo com Ele, por permitir que isso ocorresse com minha esposa, uma mulher que o ama tanto (sei disso muito bem, pois convivo com ela o suficiente para saber). Estou muito confuso e com minhas emoções latejantes. Preciso que me diga se posso livrar minha filhinha de uma vida de preconceito, tratamentos dolorosos e morte prematura. Mas por favor, me responda rápido, pois hoje é domingo, e amanhã, dia 28 de novembro, às 15h, está marcada a retirada do feto. Por favor, me ajude a ter paz! Em Cristo ________________________________________________________ Resposta: Meu amado irmão: Graça e Paz! Primeiramente peço perdão por só ter visto sua carta agora, um dia depois de seu “prazo de angustia”. Mas sei que Deus é soberano, e que teve cuidado de vocês. Na realidade já faz mais de 25 dias que não respondo cartas ou textos aqui no site, e a razão tem a ver com o fato de eu estar sentindo muitas dores nas mãos como resultado das milhares de cartas e textos que escrevi nos últimos quatro anos. Nunca escrevi tanto, e meus dedos estão meio cansados e me pedindo umas férias. Sinceramente esta é uma carta que eu não gostaria de responder, ao mesmo tempo em que não posso deixar de fazê-lo. Já tive que ordenar uma ação médica em razão de risco de vida para a mãe de meus filhos no ano de 1978, e, mesmo sabendo que era a coisa certa a fazer, não deixei de sentir as angustias decorrentes da decisão. No meu caso, entretanto, tais angustias não tinham nada a ver com Deus, mas apenas com as minhas afetividades paternas. Além disso, tive também que literalmente enterrar dores feitas corpos de irmão e filhos. Quando eu tinha 21 anos meu mano de 19 anos partiu num acidente de carro. Lembro-me que até cerca de 5 anos após a partida dele eu ainda me apanhava chorando de saudades. Quando tinha uns 23 anos tive que enterrar um filho homem, que nasceu prematuramente, viveu umas 7 a 8 horas, e foi morrendo bem diante de meus olhos, sem que eu pudesse fazer qualquer coisa para impedir. Ganhou nome e foi sepultado como Luiz Fernandes D’Araújo, e seus restos repousam na tumba de minha família em Manaus. Todavia, a pior de todas as dores eu vim a conhecer no dia 27 de março de 2004, quando meu filhote Lukas, de 22 anos de idade, foi levado aos olhos dos irmãos, quando um carro que vinha a cerca de 150 Km por hora, apenas “triscou” nele, arremessando longe, e, por cujo trauma, ele abriu os olhos diante da face de Cristo, seu Senhor e Salvador. Celebrei sua vitória, conforme o Apocalipse. Mas chorei e choro as minhas dores, conforme as limitações de meu ser tão pequeno e tão cheio de saudades. Sobre sua questão, se é pecado ou não, digo-lhe, com minha consciência limpa diante de Deus, que se eu estivesse em situação semelhante, com todas as dores desta vida, ainda assim aceitaria a sugestão do psicólogo e cristão. E por quê? Ora, é que o ato homicida no aborto é aquele praticado com descaso e frieza por aqueles que transam irresponsavelmente e decidem descartar as eventuais situações de gravidez como quem se livre de um “Absorvente menstrual”. Essa, no entanto, não é a situação de vocês. Ao contrário, Deus vê a angustia de suas almas e o amor que vocês já têm por esse rebento que foi formado com uma deficiência de natureza irreversível, a qual, foi antecipadamente revelada a vocês, pondo-os diante de uma terrível “Escolha de Sofia”. Creio que há duas situações nas quais levar uma gravidez desse tipo até o fim é objeto de aceitação, e que pode virar até mesmo em alegria e contentamento. A primeira é quando o casal não sabe e tem o filho com tal deficiência. Conheço muitos pais com filhos portadores da “Síndrome de Down” e que reportam o fato de que tais crianças são alegres e felizes, embora criá-las mude toda a vida do casal e da família, sem falar que na adolescência, com o aparecimento dos impulsos sexuais, em geral os portadores da síndrome manifestam intensa energia de natureza sexual, nem sempre fácil para os pais quanto a fazer a gestão de tais impulsos e suas práticas. A segunda situação é quando, uma vez informados da gravidez existente em tal estado, o casal sente o desejo e o impulso de não interromper a gravidez, embora avisados das dificuldades inerentes a tal situação. No entanto, se o casal foi informado durante a gestação, e se angustia com o que será de suas vidas e da vidinha da criança, a menos que surja uma súbita convicção da parte de Deus no coração, o que deve ser feito é o que vocês fizeram. Creio também no Deus que vê o coração, e que não julga como julga o homem, e que sabe com que coração vocês tiveram que fazer isto. Pecado, meu irmão, é ter filhos sem amor, é deixá-los crescer sem afeto, é não educá-los na justiça e na misericórdia, e, sobretudo, é chamá-los à existência sem que se tenha a disposição em amor quanto a cuidar deles; e isso todos os dias da vida que sobre a terra nos for dada viver. Pecado não é abortar a criança que nasceria sem meios de viver a vida com independência, sendo que tal decisão foi objeto de dor e tristeza (Deus vê) por parte dos pais. Não! Pecado é gerar filhos que existem como abortos vivos no chão da Terra. Quanto ao mais, meu querido amigo, cuide bem de sua esposinha, encha-a de amor e carinho, e, tão logo quanto seja possível, busquem juntos ter um outro filho. Agora, no entanto, é hora de vocês se cuidarem, posto que muitos casais, uma vez tendo que lidar com algo tão traumático e considerado algo “moral”, tendem a entrar um processo de “acusações”, gerando um clima que não raramente azeda o casamento, e, vez por outra, desemboca em separação. Portanto, nada de ficar tentando entender a situação, e, menos ainda, nada de ficarem trocando culpas ou fazendo exumação acerca da decisão tomada. O que tanto você quanto a sua esposa precisam saber é que nesta vida, no chão dessa Terra caída, onde nascem aberrações — “cardos e abrolhos”—, ninguém tem a chance de poder fazer o tempo todo apenas as coisas boas e ideais. Sim, porque num mundo caído não existe a harmonia da criação que permita que, à semelhança do Éden, se possa apenas escolher entre o bom e o bem. Não, meu mano! Neste mundo caído, a ética não é uma linha horizontal, mas sim uma linha vertical. Ou seja: se o mundo não fosse caído, nada estaria em choque no nível horizontal da existência, não havendo, portanto, necessidade de se escolher, muitas vezes, não entre o bom e o ótimo, mas sim entre o péssimo e o ruim. Nesse caso, a ética segue uma hierarquia de valores verticais, em razão de cuja realidade, muitas vezes, a gente tem que fazer “Escolhas de Sofia”, decidindo qual dos filhos salva; ou, então, tendo que escolher se salva dez crianças morrendo ou duas também morrendo. Ora, quem escolher salvar as dez crianças, sofrerá pelas duas que morreram. Mas se decidir salvar as duas crianças, viverá com os gritos das dez que morreram sem ajuda. Exemplo: Imagine-se num paredão inclinado a uns 45 graus. Você está de sunga. Vai derrapar mesmo…não tem como evitar o escorregão…você já está escorregando…e vê que o paredão todo está crivado de cacos de vidro. Mas lá em baixo há um lago, e se você saltar, você poderá cair direto na água. Há riscos. Você não sabe a profundidade da água. Uma dúvida: será o lago profundo? Uma certeza: se eu escorregar daqui até em baixo, passando por todos esses cacos, chegarei completamente esfolado, com ferimentos em todos os lugares…e muita perda de sangue! O que você, instintivamente, fará? 1. Escorregará por todo o trajeto de vidros, esfolando-se? 2. Saltará o mais rápido possível para dentro da água, fazendo o possível para cair sem afetar o pescoço? Responda para você mesmo… Aí a decisão é pessoal! Minha escolha instintiva seria sempre a segunda. No barranco ou no precipício, o nome disso é acidente. Na vida, segundo os homens, esses acidentes têm valor moral, ético e são objeto de um juízo humano. Então, quando você tem que escolher entre o ótimo e o bom, você é um abençoado. Mas quando você tem que escolher entre morrer ou viver, você á chamado de desgraçado. Mas, eu garanto: se você estiver derrapando no caco de vidro ladeira abaixo, não pense duas vezes: pule na água. Água, é sempre água. Vidro, é sempre vidro. Os outros, são sempre os outros. Mas você, é só você. A vida é sua. E é para Deus que você dará conta dela! Assim, meu mano, confie no amor de Deus por você, e saiba que se eu entendo você, Ele entende você mais do que você pode saber o significado de tal entendimento. Foi somente quando eu decidi crer de todo o coração que Deus “sabe”, e sabe com verdade e amor quem eu sou e o que existe em meu coração; e que Ele não é moralista em seu saber, posto que a verdade não é moral, mas apenas verdade — foi então que fui aprendendo a andar em paz, até quando o mundo inteiro diz que estou errado; pois, eu sei que o exercício da justiça e da verdade, conforme a consciência e o testemunho do Espírito em nós, nem sempre é algo visto como moral pela maioria dos cegos guias de cegos. Minha oração é para que o Espírito de Jesus dê paz a vocês, e que o amor Dele em seus corações cresça mais e mais, até ao ponto em que vocês sejam surpreendidos com o fato de que tragédias acontecem também a fim de que nosso coração, pela dor, aprenda a misericórdia e a humanidade. Receba todo meu carinho e amor! Que Jesus faça cafuné na alma de vocês dois. Sim, que o Espírito de Graça se derrame sobre vocês hoje! Nele, em Quem o coração é o lugar de toda a verdade que em nós concerne somente a Deus, Caio _________________________________ Continuando… Sou contra toda intervenção humana contra a vida. Ponto! No entanto, quando falo de vida, falo de vida e de vivos. Não falo apenas da vida em gestação, mas também da vida da gestante. É fácil ficar em casa decidindo o que é bom ou não pros outros. Na minha opinião todos os que são contra deveriam criar a Associação Beneficente Para Pais de Filhos com Graves Deficiências Mentais (ABPPFGDM), ou de qualquer natureza, e, tanto financiarem tal instituição (além de abrir frentes dela em todo o país; e, se possível, no mundo); e, além disso, deveriam se voluntariar como babás noturnas dessas crianças; bem como, deveriam se dispor a trabalharem como enfermeiros voluntários em todas essas casas. Então, desse ponto, eu aceito ouvir o discurso de qualquer um. Sou contra o aborto. Sempre lutei contra a irresponsabilidade sexual também em razão do perigo de gravidezes geradoras de órfãos e filhos abandonados, o que, para mim, equivale a um estado de aborto, e não a um ato de aborto. Sou contra o aborto, de todas as formas, especialmente sou contra os “pais-não-abortos” que geram abortados-vivos, que enchem o mundo de dor, angustia, violência, abandono, ódio e cinismo! Sim, sou contra pais-abortos, que são aqueles que parem filhos; e se abortam da vida deles! E sou contra todo aquele que não estando na pele do outro, e aparentemente sem a capacidade de sentir o drama do outro, arroga-se ao papel de decidir o que é pecado ou não nas angustias dos impotentes e desesperados. Esses, para mim, são os que se fizeram abortar do ventre da misericórdia; e do recôndito reverente do silencio. Posto que sou contra o aborto, porém, sou mais contra ainda os que “abortam com a alma” aqueles que, em agonia, abortaram de fato o que não poderiam transferir para ninguém como responsabilidade, e, ao mesmo tempo em que não se viram em condições de criar quem geraram. Ah, Deus sabe como sou contra o aborto! Quem adota uma criança toda purulenta e sem perspectivas de ter uma vida mental e organicamente sadia, como era a previsão médica para a filha que escolhi adotar, não pode ser a favor do aborto. Sem falar que até hoje, ninguém no chamado mundo evangélico incitou e conseguiu que mais crianças abandonadas fossem adotadas (um total de mais de 8 mil), e que escreveu o livro cristão mais lido até hoje sobre o tema aborto, possa ser a favor do aborto. Na realidade sou apenas a favor de duas coisas: 1. Que quem transa, se cuide; pois é abominável colocar na vida um ser que não se deseja e nem se vai cuidar. 2. Que ninguém se meta em tais questões relacionadas a casais que estão na situação de angustia do casal que me escreveu, pois, tais decisões, são de foro intimo, e ninguém que não foi chamado deve se meter nelas. O mais, que cada um respeite a dor e os limites de seu irmão na presença de Deus. Pois é somente Ele quem conhece os segredos dos corações. O resto é cômoda ou traumatizada presunção; e que transforma seu caso particular em lei universal. Para terminar, devo dizer que sou tanto contra o aborto, que, aos 51 anos, vividos e cansados, serei avô outra vez, só que agora com responsabilidades bem maiores, visto que o “pai” não tem coração de pai; e, minha filha, não tem coração para abortar e nem ensinada que esta era uma “alternativa” simples; como ninguém em minha casa; e por tal razão, eu criarei o filho dela, com minha mulher, ela e a mãe dela; enquanto a ensinaremos a ser mãe; ao mesmo tempo em que continue sua vida profissional e estudantil. Mas isto sou eu e esta é minha casa! Não sou juiz de ninguém; e acho que não havendo pais para o órfão, então, quem for contra o aborto, crie a criança; ou, sem hipocrisia, inicie uma campanha pró-preservativos e anticoncepcionais; pois, não sendo um caso de gravidez deliberada — o que é raro hoje em dia —, a maioria engravida os “filhos do tesão”, e não os filhos do amor. O conceito universal, para mim, é um: aborto é para ser evitado a todo custo! O aplicativo pessoal é que varia caso a caso, situação a situação, pessoa a pessoa; afinal, Jesus mesmo disse que certas pessoas não estão aptas para certas coisas. Digo isto em paz. Quem quiser me julgar, me julgue. Deus nos julgará. É só esperar um pouco mais… Logo, logo o Dia da Luz chegará; e cada um dará conta de todos “os abortos de palavras frívolas, de falas perversas e de ódios abortivos” que cometeram. Mas para quem está “pedrado”, todo esse chamado à verdade do coração não passa de besteira. O único problema é que não tenho medo de dizer a ninguém o que eu creio. Muitos crêem como eu, mas jamais assumem tal coisa. Uns escolhem viver para as aparências. Outros para as verdades do coração! Há muito que minha escolha está feita! Nele, que tem olhos como chama de fogo, Caio ________________________________ Aqui segue um texto do Bento sobre o assunto. Há um outro de um pastor batista, mas é tão fraco que nem vale a pena publicar. O texto do Bento, como sempre, é isento; pois, até comigo, em minha presença, ele sempre diz o que pensa; e sempre gosto de como ele pensa; sobretudo, gosto de quem ele é. Caio ____________________________ —– Original Message —– From: bsouto To: Sent: Friday, March 03, 2006 12:51 PM Subject: ABORTO E NÃO CAIO É O QUE ESTÁ EM DEBATE! Queridos, Eu já havia desistido de argumentar sobre esse assunto, haja vista que meu acesso à lista “cristãos-reformados” havia sido impedido. Assim, imaginei que havia sido expulso da lista por defender a posição que julgo ser de uma minoria. Porém, quando comecei a receber e-mails de pessoas da lista dizendo que eu não havia sido expulso e que todos esperavam respostas minha, resolvi escrever mais uma vez sobre esse assunto. Ainda mais, depois do pedido de desculpas do Charles por ter me excluído. Continuo concordando que há uma interpretação correta das Escrituras. Apenas não creio ser possível determinar, com absoluta certeza, qual é essa interpretação. Digo isso porque vi e vejo muita gente que estava absolutamente convencida de uma interpretação (eu inclusive) mudá-la quando se vai ganhando mais experiência na vida. Não foram poucos os que disseram que eu estava fazendo “cortina de fumaça” para proteger o meu amigo Caio Fábio, quando perguntei: quando começa a vida de um ser humano? A verdade é que eu costumo querer saber a causa das coisas, ao invés de ficar concentrado apenas nos efeitos. Eu também acredito, por tudo que já li e conversei com o Caio, que ele é absolutamente contrário ao Aborto. Quem, como eu, tem e leu o livro do meu amigo Caio, Abrindo o Jogo Sobre o Aborto, escrito quando ele tinha apenas 24 anos de idade, sabe muito bem que muita coisa mudou de 1980 para cá, especialmente na área de Reprodução Humana. Eu sou fã confesso de Agostinho. Poucos são os indivíduos que tem coragem e disposição de revisar, ao final da vida, tudo o que escreveram, e mudar de opinião, como Agostinho fez ao escrever o tal Retratações – um livro onde o mesmo aponta em sua obra tudo que ele considerava, equívocos. Agostinho fez isso poucos anos antes de falecer. Todos nós deveríamos fazer o mesmo. Eu lamento dizer àqueles que são rápidos para emitirem Juízos que o Caio já havia anunciado uma mudança de opinião sobre o “Abrindo o Jogo Sobre o Aborto”. Quem só leu o artigo “A ESCOLHA DE SOFIA – o aborto de um filho”, agora, em 2006, deveria ter lido também o “ELES ABORTAM A CRIANÇA OU NÃO?’, escrito em 08 de Junho de 2005. Quem não leu, tem agora a oportunidade de conhecer a opinião completa do meu amigo Caio sobre o Aborto, numa versão revista e atualizada, em 2005, conforme a transcrição abaixo. Ou seja, Caio responde se “ELES ABORTAM A CRIANÇA OU NÃO?’ =========== Meu querido amigo: Paz e Bem! Quem quer que queira ter relações sexuais e ache que é maduro para isso, caso não queira ter filhos, deve evitá-los (e há muitos meios disponíveis). Do contrário, havendo concepção em razão da relação sexual, a mesma maturidade e responsabilidade que levou o casal até a cama, deveria também levá-los até ao berço do filho que virá. A questão não é ter ou não ter o filho, mas sim se eles vão tentar, juntos, ser pais para essa criança. Nesse caso, a única questão é se eles se amam de verdade; e se desejam tentar dar um lar a esse filho que ambos fizeram. Sexo é coisa maravilhosa, porém, séria. No sexo podemos ter amor, afeto, carinho, intimidade, prazer e êxtase. Mas é também por ele que a vida tem seu prosseguimento. Aliás, todo encontro sexual é, em si, um encontro de procriação, a menos que as partes evitem. Por isso, conforme a consciência na Graça, não se pratica sexo sem se ter tal consciência madura bem firmada no coração. Afinal, a Graça gera liberdade—com todas as implicações responsáveis que o exercício da liberdade produz—, mas nada tem a ver com um selo de autenticação da libertinagem, da imaturidade ou da irresponsabilidade. Estamos diante de duas possibilidades de apedrejamento pela lei: o dos pais (pelo julgamento da igreja); e o da criança (que corre o risco de ser morta pelos pais a fim de que a lei não lhes traga problemas sociais na igreja). Eu digo: tirem o feto; dêem um pedaço para a “igreja”; e dêem outro pedaço aos pais. Assim as demandas da lei serão explicitamente satisfeitas segundo os fariseus. “Eu, porém, vos digo: Tende a criança, e tratem-na com reverencia, respeito e amor. Pois o que passar disso vem do maligno”—provavelmente fosse o que Jesus diria. Se são jovens demais para ter filhos, devem também ser jovens demais para transar. Mas se não são jovens demais para transar, que sejam maduros o suficiente para assumir o filho que geraram. Quem responsavelmente não pode ter filhos, os evita com lucidez. Mas quem os tem mesmo evitando, nem por isso ganhou o direito de abortá-los. Um aborto, para mim, só se justifica em situações graves demais: malformação do feto, estupro, ou incestos diretos. Essa é minha posição de concessão ao aborto. Mas nada mais além disso me faz crer que um aborto não seja maligno. Peça a ela, mais do que ele, para me escrever; pois, nessa hora, mais do que ninguém, é a mãe que se tem de ouvir. Todavia, considerando apenas o que você me narrou, essa é minha opinião; e a dou de acordo com o que creio ser o espírito do Evangelho. Nele, que graças a Deus nasceu e não foi abortado, apesar das circunstancias terem sido tão impróprias e inexplicáveis; pois, do contrário, estaríamos todos perdidos, Caio ===================== Em 13 de Junho de 2005, uma das pessoas que leu essa resposta, perguntou ao Caio: ========== Ao ler o artigo “Eles abortam a criança ou não” de 08/06/2005, encontrei o seu conselho sobre este tema muito bem colocado e prudente. No entanto, quando você discorre mais sobre o tema e escreve : “Um aborto, para mim, só se justifica em situações graves demais: malformação do feto, estupro, ou incestos diretos. Essa é minha posição de concessão ao aborto. Mas nada mais além disso me faz crer que um aborto não seja maligno”. Fiquei intrigado. Por quê? Porque o que você disse acima vai de encontro ao que você escreveu no livro “Abrindo o jogo sobre o aborto” (Editora Betânia). Transcrevo abaixo alguns comentários seus, a saber: 1. página 24 : “Algumas mulheres fúteis dizem: Eu tenho direito sobre o meu corpo. Não é verdade! Deus tem direito sobre o nosso corpo antes que nós mesmos. Nenhuma mulher tem o direito de interferir na vida que Deus criou.” 2. página 25: “Nenhuma mulher tem direitos sobre a vida do seu bebê, porque o bebê é uma outra pessoa, um ser humano diferente e separado!” 3. Sobre Aborto Sentimental (página 81), você declara: . . .. .. . .”apesar do motivo em que se estribam os defensores do aborto sentimental ser inegavelmente forte, penso que algumas coisas têm que ser consideradas: – ……O respeito que a sociedade deve a um ser humano vai do ato de sua fecundação até a respiração final, no seu leito de morte. – Fazer um mal para evitar outro maior jamais seria justificado, pois tirar uma vida, mesmo gerada pela violência, não apagaria a abominação recebida…… A Palavra de Deus concita o cristão a dar um passo além da Lei Civil e também além de todos os seus direitos: Mt 5:39-41″ 4. Sobre o Aborto Eugênico (página 82), também está declarado: “….deste modo, não existe nenhum homem, nem ciência alguma capazes de dispor incondicionalmente da vida de um ser, propondo sua destruição, baseando-se em justificativas pessoais ou doutrinárias, pois essa vida é inatingível e inalienável. Só teria direito de dispor dela o seu próprio Criador, mas Ele mesmo a respeita e a valoriza sobremaneira” .. .. ============= Meu amigo Caio respondeu: Meu amado amigo Miguel: Graça e Paz! Acredito que se você reler o “Abrindo o Jogo Sobre o Aborto”, você lerá lá que, em minha opinião, mesmo havendo estupro ou incesto direto, a pessoa, sendo apta para andar mais que o concebível, deveria ter a criança. No entanto, se não conseguisse criar a criança, que a tivesse e a doasse para um casal para quem aquela criança não viesse “carrega” com um trauma de tamanho incomensurável para muitas mulheres. Além disso, no mesmo livro, eu digo que em caso de malformação comprovada, caso os pais o desejassem, que fizessem o aborto. No entanto, meu irmão, de lá para cá, dos meus 24 anos para os atuais 50, muita coisa aconteceu, e muitas outras coisas eu vi, ouvi, e experimentei como ouvidor e conselheiro de almas humanas; e, em razão disso, creio que cresci para compreender o drama horrível de muitas mulheres que foram engravidadas por estupro; e, além disso, acompanhei o esforço imenso de alguns pais que tiveram que criar filhos vegetais, em razão de malformação; sem falar que já vi muitas meninas chorando em desespero por não desejarem ter um filho do próprio pai, ou do avô, ou mesmo do irmão. Na verdade o Meu Sábado da Lei a cada dia fica menor, na mesma medida em que olho e vejo que os Buracos são cada vez maiores e mais profundos, e muitos são os filhos de Deus que neles caem, mesmo em dia de Sábado. Daí ser mister retirá-los de lá. Mas esta é apenas a minha compreensão. Além disso, meus escritos não são escrituras sagradas, e, eu mesmo, cresço em minhas percepções, a tal ponto que já declarei que haveria alguns livros meus nos quais eu faria alguns reparos. O “Abrindo o Jogo Sobre o Namoro” eu tiraria do mercado. E no “Viver: Desespero ou Esperança” eu retiraria dois capítulos. Obrigado pelo seu carinho, amor, respeito e orações! Beijão grande! Nele, em Quem a consciência cresce, Caio ============ Assim, a resposta do Caio em “A ESCOLHA DE SOFIA – o aborto de um filho” é apenas a confirmação daquilo que ele mesmo já havia exposto em Junho de 2005. Ou seja, ele havia declarado, na opinião dele, quais eram os únicos casos em que ele acha que um ABORTO é justificado. Transcrevo mais uma vez o que o Caio escreveu: Um aborto, para mim, só se justifica em situações graves demais: malformação do feto, estupro, ou incestos diretos. Essa é minha posição de concessão ao aborto. Mas nada mais além disso me faz crer que um aborto não seja maligno. Ou seja, para alguém ser justo não pode dizer que o Caio é favorável a qualquer tipo de Aborto. Não, muito pelo contrário, ele diz com todas as letras que crê que um aborto é maligno, salvo algumas exceções. Portanto, estamos tratando aqui de EXCEÇÕES, e não de regra. É óbvio que o Caio, aos 24 anos de idade, era adepto da “animação imediata”. Na própria apresentação do livro “Abrindo o Jogo Sobre o Aborto”, sua ex-esposa escreveu: O que eu quero dizer é que para muita gente um nenê só é nenê depois que nasce, depois que podemos vê-lo, tocá-lo e ouvi-lo. Na realidade ele é uma “outra pessoa” desde o primeiro momento quando foi fecundado. E se isso é uma realidade, então ele deve ser respeitado como pessoa que é, mesmo no seu primeiro dia de vida no ventre da mãe. (Alda Maria Fernandes D’Araújo, na Apresentação do livro, Abrindo o Jogo sobre o ABORTO, 1a Edição, 1985 – Editora Betânia) O próprio Caio, na página 12 do citado livro, escreveu: Quem é o Homem? Hoje em dia há bastante evidência de que a vida intra-uterina é plena de significado espiritual e psicológico. Todavia, a Bíblia, sem esperar essa recente descoberta, já anunciava esta realidade: Deus nos conhece a substância ainda informe (Salmo 139:16). Embriões sentem alegria ou depressão e são pessoas que já podem relação com Deus (Lucas 1:41 e 44). Na formação do ovo, depois embrião e feto, já se deve reconhecer um novo ser, uma personalidade que não pode ser ignorada. Por isso, o aborto deve e tem que ser sempre colocado como um dos crimes contra a vida. A destruição de um ovo no ventre da mãe, esteja em que estágio estiver, já é um crime, um homicídio. Ontologicamente o aborto é homicídio, pois se trata da morte de um ser humano. E a Bíblia endossa esta afirmação, pois para ela o “ovo” no ventre de uma mulher já é um homem. Não havia dúvidas para o Caio de quando a vida começava. Agora, a mudança de opinião dele se deu quanto ao caso dos fetos com malformação ou com possibilidades de serem defeituosos. Ele próprio havia escrito no Abrindo o Jogo Sobre o Aborto: ABORTO EUGÊNICO O aborto chamado eugênico, que visa a intervenção em fetos defeituosos ou com possibilidades de o serem, não está isento de pena pelo nosso diploma legal. Ninguém poderia negar o direito de uma criança nascer saudável e perfeita. Todavia, isso não nos autoriza a retirar de seres deficientes o direito à vida. A vida de um deficiente necessita, antes de tudo, de proteção e amparo e nunca de repressão. Ninguém é tão desprezível, inútil e insignificante que mereça a morte. As próprias leis que regem a genética humana ainda são vacilantes e ilusórias, não se prestando a uma precisão segura e definida sobre hereditariedade. Em minha opinião, no próximo parágrafo, fica claro qual é o motivo que havia levado o Caio a ser contra esse tipo de Aborto: o possível erro do diagnóstico médico. Caio escreveu: O raciocínio frio de uma sentença de morte exige a exatidão de um diagnóstico inflexível. Porém, a ciência médica, mesmo vivendo seus grandes momentos, conta apenas, nestes casos, com conjecturas e presunções. Sendo o direito de viver a mais sagrada prerrogativa do homem, não deve ser submetido a uma simples opinião que pode variar de acordo com raciocínios individualistas, inclusive regidos pelas pressuposições filosóficas do profissional. Deste modo, não existe nenhum homem, nem ciência alguma capazes de dispor incondicionalmente da de vida de um ser, propondo sua destruição, baseando-se em justificativas pessoais ou doutrinárias, pois essa vida é inatingível e inalienável. Só teria direito de dispor dela o seu próprio Criador, mas ele mesmo a respeita e a valoriza sobremaneira. Ora, acho que aqui é onde reside o cerne do problema: o diagnóstico da Ciência é exato? Podemos confiar no diagnóstico médico? Os resultados dos exames falham? Claro que a Ciência não é exata e os resultados dos exames, às vezes, falham. No entanto, ninguém, de bom senso, que é diagnosticado com Câncer, após vários e exaustivos exames, vai pra casa dizendo: “A ciência não é exata; os diagnósticos, às vezes são errados; os resultados dos exames falham, etc.” Qualquer pessoa de bom senso, depois de vários exames, com diferentes profissionais da medicina, se for o caso, quando recebe o diagnóstico conclusivo, vai cuidar de tomar a medicação e se submeter ao tratamento para tentar obter a cura, ou se prepara para a morte. Um outro fator que entra nesse cenário é: aceitar o diagnóstico médico não é descrer que Deus pode curar sem médicos e sem medicamentos? Eu penso que não. Há muita gente de fé que crê que os médicos e os medicamentos são instrumentos de Deus para cura de nossas doenças. Uma Fé equilibrada, em minha opinião, crê que Deus pode curar qualquer doença que Ele quiser, através de médicos ou não. A única coisa que a gente não sabe é se Ele quer curar. Por isso que Jesus nos ensinou a orar dizendo: “Seja feita a Tua vontade” Essa questão do diagnóstico médico leva-nos ao ponto central da discussão. Por que o diagnóstico médico é válido para justificar a interrupção de uma gravidez onde a vida da mãe corre perigo e não é válido para justificar a interrupção da gravidez de um bebê com má formação? Por que um Aborto é assassinato e outro não? Onde está a “base bíblica” que condena ou absolve esses dois atos? Mais ainda, por que somente no segundo caso é que se está querendo “mudar um decreto de Deus”? Ora, quando se pratica um Aborto porque a gravidez poderia matar a mãe, também se está alterando o curso natural da vida. Ou seja, Deus poderia ter decretado a morte da mãe através da gravidez. Raquel morreu quando Benjamin nasceu, diz-nos o relato bíblico! Outra coisa, por que temos que crer no poder de Deus curar a má formação de um feto e não temos que crer que Deus pode curar a gravidez de risco de uma mulher? Por que o pressuposto da cura só se aplica a um caso? Em minha opinião, todo esse debate só acontece porque, atualmente, temos acesso aos recônditos do útero e as informações que a pesquisa científica começa a nos trazer. Isso não vai parar tão cedo. Após o Mapeamento do Genoma Humano, devemos esperar para breve o diagnóstico de anomalias de saúde ainda no espermatozóide e no óvulo, antes da fertilização. Isso não estava previsto nem nos melhores sonhos dos escritores bíblicos e nem dos grandes cristãos do passado. Esse dilema é nosso. Nós que temos que ter coragem para resolver. Precisamos discuti-lo sem “lançar pedras apressadamente em ninguém”. Para os homens do passado, contracepção e aborto eram a mesma coisa. Eles não sabiam da diferença! Por último, vamos crucificar alguém por que essa pessoa mudou de opinião? Ou por que a opinião dela difere da nossa? Meu Deus, eu mesmo já mudei de opinião sobre tanta coisa que eu “tinha certeza”. Por exemplo, eu era arminiano – um estado natural, pois todos nós somos arminianos de berço. Eu era YEC (Young Earth Creationist). No início, eu achava que Sexo era só para procriação. Era totalmente contra métodos contraceptivos, afinal, Deus não mandou povoar e encher a terra? Era contra anti-ministério feminino. Etc. Bom, o que isso quer dizer? Quer dizer que o aconteceu com o Caio, na mudança de opinião no caso de fetos com má formação, incestos, estupros, etc., acontece comigo e com todo mundo, o tempo todo. O Rev Augustus Nicodemus ficou surpreso quando eu lhe contei que R.C.Sproul havia abraçado o “Partial Preterism”, uma das formas de Pós-Milenismo. John Stott abraçou o Aniquilacionismo. Aqui mesmo na lista há Supra e Infralapsarianos. Ou seja, precisamos acabar com esse negócio de querer ser os Juízes do Supremo Concílio da Fé. Somos juízes de nós próprios e do que cremos, com a luz que temos. Eu procuro sempre lembrar do debate sobre a Ceia entre Lutero e Zwinglio. Os historiadores nos contam que, enquanto Zwinglio argumentava, Lutero ficava apenas batendo com o punho na mesa dizendo: “Este é o meu corpo… Este é o meu corpo”. Aquele foi o primeiro debate em que os debatedores concordaram em uma coisa: em discordar um do outro! Talvez seja por isso que ao final da vida Lutero tenha dito que tudo que escreveu podia ser jogado no lixo, com exceção de um catecismo para crianças e o De Libero Arbitrium. Entretanto, ele nunca imaginaria que a tradução que ele fez do Novo Testamento Grego, de Erasmo de Rotterdã, para o Alemão, seria a obra basilar daquele idioma. Assim, meu pedido é muito simples: tenhamos calma e aproximemo-nos do debate focando no assunto e não em quem debate. E o assunto do debate não é o meu amigo Caio Fábio, mas sim, quando é que a interrupção de uma gravidez é justificada? Abraços Bento Souto