—–Original Message—–
From: Gérson
Sent: sábado, 23 de agosto de 2003
Subject: Obrigado Por Tudo!
Oração e Agradecimento (você precisa saber…)
Pastor Caio, li sobre seu pai. Estou orando por ele e por vocês que estão com ele. Hoje de manhã escrevi e agradeci pela paciência e pela dedicação (quando comentei as conseqüências da sua resposta sobre o tema “Transfiguração”). Escrevo mais porque que você precisa saber a dimensão do meu agradecimento:
Ao contrário de você, um dia acreditei em “lorotas moralistas”; não consegui separar os insanos da fé (sobretudo os televisivos), do espírito da Palavra do Nosso Senhor. Isso me mostrou que eu não percebia a Deus ainda bem.
Perdi meu pai no primeiro semestre enquanto eu vivia enorme crise existencial. Fui lendo a sua página; sobretudo as questões que o colocam em rota de colisão com a “turma do circo”: os que gritam, colocam o dedo em riste, os propagadores do evangelho do medo, os que têm certezas prontas sobre tudo e sobre todos, e andam “vestidos demais” até pra falar; por exemplo, de dinheiro, casamento e sexo, em nudez perante Deus. Eles vestem e vendem a roupagem da religião!
Depois do temporal com relação a meu pai, minha irmã (ela já lhe escreveu) teve sério problema na gestação de um bebê. O chão se abriu de novo. Mas já havia mudança dentro de mim: a convicção de que Ele me aceita e fez um pacto irrevogável comigo, na largura, na profundidade; na dúvida, na certeza; na calmaria, na perplexidade.
Agora eu já tinha o que dizer a ela: “Calma, Deus é Emanuel” (se ela ainda não lhe escreveu de volta, ela ainda lhe escreverá…).
Sobre esse último episódio, Caio, agradeço sobretudo pela sua presença na vida da minha irmã, na vida da gente. Por ter-se importado, orado, se exposto e opinado sobre assunto tão difícil e doloroso. E mais: agradeço por cada uma das respostas contidas na sua página.
Na angústia, a Graça que permeia a sua percepção do Senhor, a sua relação com Ele, trouxe à minha irmã a certeza de que Deus, em Cristo, a abraçava.
Li outro dia um comentário seu, aqui mesmo em Cartas, sobre música evangélica. Eu adoro música, até me dedico ao estudo de um instrumento. Mas o circo da música evangélica está aí também; assim como o mundo fonográfico secular, o mundo da música evangélica não tem memória e mercantiliza tudo em prejuízo da beleza.
Mas eu tenho aqui em casa algumas gravações de um músico, de um poeta, o Sérgio Pimenta, saudoso… Fez música evangélica por opção; podia ter sido grande fora dos portões da igreja, se assim o desejasse. Ele quis semear a Palavra no coração de gente como eu, que chegaria mais tarde, mas escutaria suas belas e trabalhadas canções…
Entre tantas músicas inspiradas, verdadeiras, quero celebrar o trecho de uma delas, cuja letra você escreveu e tem encarnado para a edificação de nós, contemporâneos seus:
“Ah! Eu preciso rever minha vida
Medir os meus passos
Estender os meus braços
Às pessoas sofridas (…)
Ah! Eu preciso ser manso e AMIGO
Ser rocha e abrigo
Pra quem quer comigo
Na vida viver (…)
Ah! Eu preciso ter olhos abertos
Motivos bem certos
Pra nunca enganar
Essa gente esgotada de tanto chorar (…)”
Você tem sido isso pra gente: manso, amigo; tem mantido olhos abertos, motivos bem certos; tem-nos estendido os braços.
Deus é com você, Caio; e a seara é grandiosa no Brasil; as pessoas minimamente reflexivas ficam arrepiadas só de ouvir falar em Jesus. Se já são naturais as dificuldades que cada ser humano encontra para crer na Boa Notícia, somam-se outras terríveis por sua sutileza: as que advêm do mau uso do Bom Nome.
Eu me envergonho, admito, do título “evangélico”. Chego a esse ponto. Não encontrei, ainda, igreja em que me sinta bem nessa imensidão que é São Paulo.
Saiba: quero ser um dos que “seguram a corda” nos sonhos que o Senhor acalorar no seu coração. Há muita gente com uma implicância humanamente intransponível com relação ao Evangelho. É gente boa que eu admiro e que convive comigo, mas que não tem a clareza do que aconteceu no Gólgota.
Assim eu estava… Só o Espírito Santo para resolver… Caso haja algum tipo de projeto que implique colaboração qualquer que seja, até financeira, quero participar. Vão pregando outro evangelho, mas eu quero que a minha vida faça coro contigo e fale do Escândalo da Cruz. Da Graça!
Entenda… Estou Grato! Quero participar… Você tem o meu e-mail e o meu telefone; um dia vou te abraçar lá no Café.
Beijão,
Gérson
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Resposta:
Querido Gerson:
Que bom que esse veículo existe. A gente pode cuidar da vida enquanto cuida de vidas. Lembro de sua irmã. Temos nos correspondido. Há milhares de e-mails aqui. Mas o interessante é que os nomes vão ganhando “alma”.
O Sérgio era meu amigão. Conhecemo-nos assim que nascemos; literalmente. Eu tinha uns quatro anos e ele, mais ou menos a mesma idade. Conhecemos-nos em Manaus. O pai dele era oficial do exército. Sempre estivemos em contato.
Quando ele morreu estávamos mais amigos do que nunca antes. Ele estava morando no Rio, e, por muitas vezes, nos víamos todas as semanas.
A partida do Sérgio doeu. Durante anos ele me pedia para escrever umas letrinhas. Escrevi essa, que você transcreveu e ele musicou; e uma outra, sobre Pedro, musicada por ele, mas jamais gravada. Ele morreu logo a seguir.
Espero que os amantes da música no meio cristão lutem contra a maré e produzam coisa boa, de qualidade, e faça isso no espírito da Graça, não no da Grana.
Sobre uma conta para projetos, quero dizer que muitos têm solicitado a mesma coisa. Estamos estudando um modo claro, auditável, transparente, e com gestão de outros — limpos e idôneos! Assim, poderemos voltar a ter alguns espaços leves e limpos, nas outras mídias, a fim de divulgarmos, também por essas outras mídias, a Palavra da Vida.
Estou sempre aqui.
Papai vai ficar bom, com a Graça de Deus. Estamos todos em paz!
Nele,
Caio
23 de agosto de 2003
Copacabana
RJ