AMOR BANDIDO: doença do abismo da alma
Muita gente sonha em ter alguma forma de amor bandido. Ou seja: quase todo mundo gostaria de que em algum lugar da terra alguém o quisesse e desejasse de qualquer modo e em quaisquer circunstâncias. Assim, por amor bandido entenda-se aquele sentimento simbiótico, que faz duas pessoas fundirem seus seres, num pacto inconsciente, no qual, em alguns casos, nasce um terceiro termo-ente-psicológico, fruto da fusão de ambos, e que passa a ser a persona conjugal incontrolável que eles encarnam; quase sempre, ou sempre, para o mal. Isto porque, na maioria das vezes, essa fusão-dissolvência, faz com que um mais forte assimile e absorva o outro, o qual, agora, só sabe ser se for em serviço do outro; porém, amando mais a posse de servir e se dar com exclusividade, do que a própria pessoa que diz amar. Já o mais forte, o servido, pensa que é ele quem manda, sem perceber que está sendo conduzido para fora de si mesmo; sim, para o surto da síndrome de onipotência em relação ao outro; seja como macho e dono; seja como fêmea e cadela no cio; no primeiro caso gerando um sentimento de absoluta superioridade em relação aos competidores do gênero; e, no segundo caso, pela certeza de que os serviços são tão prestimosos e imensuráveis em relação à concorrência, que ela tem a outra pessoa presa a si mesma; e isto pela simples razão de que o inconsciente acredita que o que de mais confortável pode haver para o ser, seria um outro ser que existisse para agradá-lo antes de tudo. Amores bandidos são paixões da morte e não amores para a vida! O ideal divino para a existência humana e relacional aponta na direção de uma conjugalidade feita de amor consciente, no qual, e pelo qual (no amor), os dois são um, porém, cada um, não dissolve o eu na unidade; ao contrário, preservam-no; posto que sem ele (o eu), não haveria unidade, mas apenas simbiose; e relação alguma haveria em tal caso, pois, para que haja relacionalidade, é preciso que os que são “uma só carne” continuem, todavia, a ser duas consciências em processo de troca, de enfrentamento, de busca de acordo na verdade e na justiça; e sem que sobre eles haja nenhuma autoridade que não seja a Verdade conforme o espírito da Palavra. Amor bandido, se não tem quem quer, mata; ou, então, se mata. Isto sem que necessariamente tenha que de fato morrer fisicamente. Entretanto, ambas as pessoas se abismam num caminho de cumplicidade perversa entre si, e, tal casamento, é com a morte; posto que não interessa o bem do outro e de mais ninguém, mas apenas o pacto de que haja o que houver, mesmo que o mundo acabe, os “dois-nada” ficarão juntos. O amor bandido é bi-polar; vai do êxtase à depressão; vai da alegria à tristeza; vai da jura de amor à promessa de vingança; vai do “para sempre” para o “nunca mais” com toda facilidade. Assim, o amor bandido é a receita da mais absoluta angustia e infelicidade! Já no verdadeiro amor há alegria, êxtase, e muito prazer; porém, nele, a verdade, a justiça, o significado, e o caminho conjugal, não são feitos de qualquer material que não seja fruto do amor. No verdadeiro amor só vale o que é amor; e nele confissões de amor que convidem para morte, não são jamais vistas como lisonjas e nem como compromissos. O compromisso do verdadeiro amor é fazer bem ao outro, enquanto também faz bem a si mesmo. No verdadeiro amor o caminho é de sabedoria; afinal, não se quer perder quem se tem pela via da magoa e da dor. Já o amor bandido é feito só de impulsos e de arrependimentos constantes e desgastantes. Portanto, criando uma recamara de magoas que se acumulam e se fazem passar por outra coisa; tipo o que se chama de amor passional. Já no verdadeiro amor, além de toda atração que deve haver entre ambos, o respeito entre eles faz aumentar o desejo; e tal respeito e admiração vêm da convivência que mostra o compromisso um do outro de se agradarem sem se degradarem, e sem fazerem mal a ninguém com seu amor. No amor bandido as coisas sempre crescem em confusão e conflitos; e quanto mais dizem se querer, mas mal se fazem; pois se “querem tanto”, que não querem mais o bem; mas apenas possuir. Ora, isto é morte. Sem falar que em tal encontro nunca há amor, mas apenas troca de necessidades adoecidas e bem como necessidade de afirmação. No verdadeiro amor, entretanto, a ninguém interessa ter o outro contra o outro. E, assim, quanto mais ele deseja o bem do outro, mas verdadeiro com ele (a), se é; e é justamente o compromisso com o bem do outro acima do interesse pessoal, o que faz o outro descansar no oceano da confiança. E este é um processo de constante retro-alimentção. Por isto, neste amor, único amor sadio, o vinho que vem depois, é sempre melhor do que o que havia antes. Pois ele apenas sabe melhorar. Caio