APANHO QUANDO GRITO DE PRAZER!
—– Original Message —– From: meu marido fica com raiva quando grito de prazer! To: [email protected] Sent: Friday, January 20, 2006 9:43 PM Subject: Sua opinião Querido Caio: Queria te fazer uma pergunta. Acho que já falamos sobre isso, mas não profundamente. É sobre um aspecto do meu relacionamento em casa. Por favor me diga o que pode fazer um homem se irritar tanto quando uma mulher está tendo um orgasmo? Por que? Por que???? Por que meu marido age de forma tão estranha nessa hora? Já tentei conversar com ele, mas ele diz que é bobagem minha, coisa que eu criei, que não tem nada disso. Mas não sou louca! Juro que tento me controlar ao máximo nessa hora para não fazer muito barulho. Juro que não estou sendo exagerada ou inconveniente. Tenho tomado muito cuidado com isso para não aborrece-lo, mas é impossível manter silêncio total. Acho até um milagre eu ainda conseguir “chegar lá” com esse tipo de preocupação. Já pensei em tudo, em mil motivos. Às vezes tenho a impressão de que ele age assim por sentir que esse é o único momento em que ele sente que não me controla. Seria isso? Fico tão triste! Às vezes é como se ele jogasse em mim um balde de água fria… Fico deprimida. Nessas horas ele passa a ter gestos impacientes, tenta me conter fisicamente, às vezes amassa meu rosto com as mãos ou me bate. Ele não me machuca, e eu não me importaria com isso se eu notasse nesse gesto apenas tesão; mas juro que não é. Às vezes ele admite que age assim por causa “dos meus exageros”, mas outras vezes ele diz que faz isso só por tesão. Houve uma época em que ele simplesmente interrompia o ato sob a desculpa de estar cansado daquela posição. Fez isso muitas vezes e eu sentia como se estivesse sendo torturada. Às vezes é difícil dormir logo em seguida… Por favor, seja sincero como você sempre tem sido e me responda como homem: há algo de errado em mim? Devo mudar? Ou meu marido é que é meio esquisito? Uma amiga certa vez me disse que realmente alguns homens se irritam com isso, geralmente os homens mais caladões… Sei lá se tem fundamento essa teoria! Um beijo… ________________________________________________________ Resposta: Querida amiga: Graça e Paz! Se me lembro bem, numa outra carta sua, você me disse que ele, o seu marido, é muito mais velho que você, e que foi ele quem tirou sua virgindade ainda menina, e que foi com ele que você aprendeu tudo de tudo, inclusive na cama. Certo? Ora, o que eu penso é que agora que você já tem cerca de 40 anos e ele quase 70, ou até mais que isso, a insegurança bateu feio nele. Isso porque, certamente, o que ele vê hoje não é a garotinha que ele controlava, mandava e desmandava…, mas sim uma mulher madura, independente, que ganha seu próprio dinheiro, que sabe o que quer na cama, e, certamente, pelas circunstancias do próprio casamento separado por tanta distancia etária (ele 70 e você 40), ele, hoje, sempre que vê você solta… livre… quase como quem tem seu próprio prazer… quase como se o poder de sentir fosse seu… e não vinculado a ele…, certamente ele fica com raiva e se apavora com isso; e como olha para si mesmo de modo complexado em razão da idade em relação a você, todas as suas expressões de liberdade na cama, para quem mandava em tudo e era senhor de cada coisa, posição e movimento, trazem a ele uma ‘nova mulher’, que goza quando quer, que o faz mesmo sob protestos e criticas, e que não parece depender dele para atingir o que deseja… O que o deixa mais que inseguro, pois, para ele, fica a seguinte pergunta: se com o velho alquebrado ela alcança o que alcança, que não dizer do que acontece ou aconteceria entre ela e um homem mais jovem, e que ela realmente desejasse? Sim, como você me disse antes, já houve esse homem mais jovem em sua vida, e seu marido não soube. No entanto, ficam as marcas, os novos modos, as novas formas e expressão, as diferentes formas de pegar e ser pegada, de tocar e ser tocada, de beijar e ser beijada, de gemer, de expressar, e de se liberar… Isto simplesmente porque nenhuma mulher que foi de um homem só durante tantos anos, abrir-se-á para um outro, e com ele gozará paixões e amores, sem que isto deixe nela uma marca, uma impressão energética, uma alteração em seus modos mais sutis, e, na cama, sem que isso se manifesta como inevitável “entregação”… Ora, você e seu marido tiveram anos de satisfação nessa área, segundo uma outra carta. No entanto, depois de um tempo, há não muito tempo atrás, você conheceu alguém, e, por esse alguém, suas referencias foram mudadas, sendo que toda a sua vontade de se liberar hoje, mesmo que seja com seu marido, e mesmo que seja sob as criticas dele acerca do que você está provando como prazer, lá no fundo são provocadas por esse paradigma sexual que não vem de seu marido. Ora, ele sabe que esses sentires foram forjados noutro cadinho, e que as asas dessa ‘borboleta’ foram abertas em um campo e numa primavera na qual ele não teve parte… Assim, o que sobra é a certeza de que ele não é a razão de sua ‘explosão’. Sim, lá no fundo, ele não quer ouvir seu grito de orgasmo apenas porque ele não quer ouvir o que ele pensa que outros ouvem, e, no caso dos ‘outros’, com direito de realidade e proporcionalidade entre o feito e o sentido, o que ele sabe que não é o caso com ele… É como se para ele seus gritos e gemidos de prazer fossem uma confissão de uma liberação que não vem dele e não é para ele, e menos ainda foi gerada por ele. Todavia, como ele não soube e nem quer saber…, fica, entretanto, esse tipo de reação. Assim, conhecendo os contextos por você narrados em outras ocasiões, e conhecendo seu esforço para fazer as coisas ficarem bem e normais em casa, sei que a reação dele é a de quem diz: “Obrigado por estar aqui, comigo… Mas se segure, ou sinta em silencio, pois eu sei que não sou a inspiração dessa explosão toda… e temo saber em que cama tais fogos de prazer foram acendidos em você”. De fato, ele não tem a informação do que aconteceu entre você e o outro homem, a quem você chamou de Bernardo numa carta (nome fictício, não é?); todavia, mesmo não tendo a informação objetiva, ele, entretanto, tem a subjetiva; a qual, pela maioria dos cônjuges é sempre sentida, mesmo que a pessoa não saiba o que está sentindo. Isto porque em cada encontro sexual marcante, fica um registro inconsciente, e, além disso, mudam-se paradigmas de sentir… e expressar. Isto sem falar que, como você também já disse antes, a maioria das vezes seu corpo está com ele, mas sua alma está sobre o peito desse amante que passou, marcou, e se foi… Mulheres, em geral, têm mais sensibilidade do que os homens para isto. Ou seja: quando uma mulher tem um homem por muito tempo e ele é só dela como homem na cama, se, por alguma razão, ele começar a transar com outra, e se a mulher dele o amar…; logo, logo ela estará querendo discernir de onde vieram as novas posições, jeitos, modos, expressões, pegadas, e mudanças que ocorreram no sexo… Ora, isso em razão de que a presença dos hábitos desenvolvidos nele (no marido hipotético) pelos gostos sexuais da outra, ficarão marcados nele como desejo inconsciente de repetição; e, nesse caso, se houver mudança radical, a mulher sempre acabará por desconfiar. Ou seja: é algo tão sensível e radical como uma súbita mudança de caligrafia. Assim, minha amiga, o que penso é que ele não tem coragem de dizer que pensa que você se deixou conhecer por outro…, pelo medo que ele tem de que você o deixe. Porém, mesmo assim, em estado de fuga, lá no fundo, ele sabe… Sim, sabe que a nova mulher não foi feita por ele. E se você for olhar para trás, possivelmente verá que ele foi ficando assim depois que sua referencia sexual mudou pelo encontro com outra pessoa. Assim, por mais que se esforce, e por mais que lute para não saber, ele sente e sabe, inconscientemente. Desse modo, sempre que você expressa seu prazer de modo mais avolumado e intenso (o que para qualquer homem é estimulante e gera muito tesão), para ele soa como ofensa, como incomodo, como atestado de que ele comprou o jornal do dia e outros é que estão lendo. Entendeu? E mais: mesmo você não tendo mais nada com o Bernardo, mesmo tendo parado tudo (se parou…), ainda assim, seu registros foram mudados, e suas referencias também… E saiba: ele sente. Por essa razão fica com raiva de seu orgasmo, pois sabe que o corpo é o dele, usado de olhos fechados por você, enquanto sua viagem subjetiva visita outras terras e lugares… e isso ele sente. Como lhe disse numa outra vez, essa diferença de idade, nos próximos 15 anos, será terrível para ele e para você. Para ele porque não é tolo e sabe que ‘tamanho prazer’ não vai dele para você; e também porque sabe que quanto mais ‘ávida’ você ficar, mais chances haverá de que sua ‘avidez’ seja saciada por outro e não por ele. E, para você, será uma desgraça, porque hoje, e desde há muito, segundo você mesma, é com seu ‘pai’ que você se relaciona, não com seu ‘marido’. Ele está com 70 anos, você com 40. O que você acha que acontecerá quando ele estiver com 80 anos e você ainda estiver forte e sadia, com apenas 50, no auge de seus desejos e liberdades femininas? De fato, ou você ‘sublima’ isto, ou, certamente, haverá confusão…; ou pelo menos, grandes chances de que entre alguém na parada, e que aceite ser seu amante apenas porque seu marido é velho e você é bela, jovem e fogosa. Portanto, se é ele quem procura você, e sei que você gosta dele, ou já gostou muito, então, se dê a ele… mas, nesse caso, sem fantasias, e a ele mesmo. Se, porém, ele não a procurar, e você não sentir necessidade de sexo por sexo, (por isto procurando-o…), então, evite estar na cama com ele; ou, caso queira estar, esteja apenas com ele, e não busque inspiração fora do quadrilátero objetivo de sua cama. Pois, do contrário, a reação dele será sempre essa que hoje ele apresenta. Sinceramente é isto que penso que passa pela alma dele! Espero lhe ter sido útil. E como já lhe disse, peço a Deus que haja uma solução boa para todos em tudo isto! Nele, que nos perdoa e nos faz encontrar o bem caminho, mesmo onde só há impedimentos e não-soluções, Caio