AS DROGAS DO ÊXTASE: HEDONISMO E LUXURIA



O maior produtor de superficializações de importâncias reais na vida é a luxuria. Por isso é que o capitulo 7 de Eclesiástes—entre outros trechos—nos diz que “é melhor” a casa onde há pranto, o dia da morte, o fim de todas as coisas, e a própria tristeza, que a casa dos folguedos e das muitas risadas, pois, é pelos encontros que se tem com a realidade como dor e lágrima, que “se faz melhor o coração”. É nesse lugar-experiência-de-dor que se aprende o que é e o que não é, o que tem real valor, e o que é apenas miragem e engano. A contra mão dessa realidade, e que carrega em si o poder de falsificar a realidade e seus genuínos valores, é o hedonismo e a luxuria. O hedonismo é uma droga de prazer instalada como dinâmica no aparelho psíquico, e que controla o indivíduo pela alegria da satisfação do desejo, e que cresce de tal modo que é capaz de anestesiar a consciência para o real significado das coisas. O prazer passa a ser o valor supremo, e tudo o que não for prazer, não vale nada. Assim, a escala de valores está intimamente ligada ao pendor da psiquê. Realmente é do coração que nascem as fontes da vida. O hedonismo é também o valor. E a luxuria é a sua recompensa. Ora, quando tais estados se estabelecem, qualquer outro valor, mesmo os verdadeiramente mais apreciados e amados pelo indivíduo, são relativizados quando a droga do prazer começa a correr nas veias da pessoa. A questão é que os frutos do hedonismo e da luxuria são banais e passageiros, são apenas vícios, drogas, injeções de vaidade narcisista. No entanto, eles têm o poder de agredir a afrontar reais e essenciais valores do ser. Essas drogas de êxtase—hedonismo e luxuria—não apenas tiram a senso do indivíduo que está por eles possesso e adoecido, como também fazem suspensão acerca das gravidades implicadas naqueles atos, e que podem ferir terrivelmente, e até incuravelmente, pessoas e valores muito mais elevados, tanto como afronta ao amor-em-si, como também nos demais bens que dele decorrem na vida, e que dão vida verdadeira a todos os vínculos humanos. Para simplificar, deixe-me ilustrar de modo bem baixo e simples, para que todos entendem o que estou dizendo: Uma transada com a vizinha pode ser inevitável… até que destrói para sempre o seu casamento com a mulher que você genuinamente amava e nem sabia o quanto: a sua mulher. Nesse dia o cara põe a mão na cara e chora muito… Tudo o que para ele, na casa das festas, era nada, agora será tudo em importância proporcional à própria dês-importância a ela atribuída pelo que “se apossava do prazer”, posto que agora ele terá que lidar com a verdadeira perda do amor que o alimentava, mas que era submetido a suspensões sempre que a droga do hedonismo estabelecia o valor do desvalor, e a recompensa da luxuria iludia o viciado. O arrependimento entra nessa história como o elo que reconcilia a experiência do hedonismo luxuriante com a verdade daquilo que tem valor perene para o ser. O arrependimento vai buscar o sujeito no chão forrado com os tapetes púrpura da casa da luxuria, e terá como missão conduzi-lo de volta até ao que real, onde a alegria do prazer não é viciante, e nem faz a suspensão da realidade, antes aprofunda a vida nela, e de tal modo que é só então que o verdadeiro prazer pode ser conhecido como liberdade e alegria. Algumas vezes, todavia, a pessoa tem que visitar a casa do luto a fim de que seu coração seja acordado dos torpores dos prazeres anestesiantes e fugazes, a fim de poder experimentar as próprias emoções como estabilidade, e, como verdadeiro prazer, que é aquele que se alegra no que é, não na ilusão de uma fantasia luxurienta. Somente nesse dia a pessoa aprende que o que tem valor, tem valor! É para Parar & Pensar! Caio