AS LEIS DA VIDA
Quando eu estava bem novinho no Caminho, aos 18 anos, lendo o livro do Eclesiastes, me deparei com o seguinte: “Lança o teu pão sobre as águas, pois depois de muitos dias o acharás”. Peguei os comentários bíblicos que meu pai tinha e fui buscar saber o que seria aquilo. Muitas explicações, interpretações, analises textuais, e sempre aquela flagrante hesitação dos comentaristas bíblicos eruditos, e que evitam afirmar uma opinião clara, temendo que uma nova analise textual faça a opinião ficar obsoleta. Isso sem falar que em geral o sentido mais simples e obtido por uma mera comparação de traduções, logo põe a pessoa diante do significado do que está dito. Não encontrei nada que me alimentasse e instigasse a imaginação, mas fiquei ruminado aquela passagem, embora não me aventurasse ainda a pregar sobre ela. Um dia, pregando em Niterói, na Igreja Presbiteriana Betânia, aí por 1975, após um culto de domingo pela manhã, depois que quase todos haviam saído, me vi sozinho com um amigo de minha família, e que é membro daquela comunidade. Seu nome é Izar. Izar sempre tinha uns assuntos bons para se debater e conversar. Sendo uma pessoa firme em sua fé em Jesus, não temia, por essa razão, examinar e também perceber e aproveitar aquilo que ele via de útil e que fosse coerente com o espírito de sua fé. Ele veio pra mim e disse: “Sabe! Eu estava lendo aquela passagem que manda lançar o pão sobre as águas, porque depois de muitos dias se acha o pão…” Eu prestei mais atenção ainda. “Sim, e aí?”— indaguei. “E aí que a gente joga o pão e ele sempre volta como outra coisa, pode ser como o peixe que a gente pega no mesmo rio, ou então é porque na natureza nada se perde, nada se cria, e tudo se transforma; e volta.” “Claro!”, pensei. E falei alto: “Mas volta conforme o que se lança. Nesse caso, volta ampliado. Trata-se de um ato de fé deliberada.” Naquele dia comecei a praticar conscientemente aquilo que já fazia em razão da fé. E mais: passei a fazer isso observando esse principio: o do retorno daquilo que hoje nós é importante — afinal, existe como “pão” —, e que é entregue como dádiva ao fluxo da vida — “as águas” —, e que volta quando você não espera, visto que parece ficar estocado nas camadas de memória da Gratidão; apenas aguardando a hora do retorno, e que sempre coincide com o Dia da Necessidade. Pura Graça e Providencia! No curso de anos vi como isso opera por si mesmo, visto que é uma Lei da Vida. Você abre mão do pão, hoje, e o entrega à fome do rio. Você toma do que é seu e alimenta a vida, alguém, uma causa, socorre uma necessidade… Você semeia uma palavra e se despede dela. Você abençoa alguém e vai. Você tira do bolso o que não lhe sobra e ajuda alguém. Você decide investir seu tempo e abrir sua alma com alguém que se consola com sua sinceridade. Você doa com alegria seu tempo, dons, dinheiro, capacidades, assistindo outros… Ora, invariavelmente, no dia não esperado — quem faz essas coisas não espera recompensa —, coisas estranhas começam a acontecer: pessoas que há muito não se via, aparecem. Gente que um dia a gente ajudou chega e diz que agora está bem, e que deseja retornar a você o benefício um dia recebido. Assim, um gesto misericordioso de anos atrás, volta agora na forma de um ser humano grato pelo bem um dia recebido; e que sem saber o por quê, procura você; e traz de volta, como peixe, aquilo que um dia foi pão lançado nas correntes do rio de sua vida, por alguém que fez isso com amor e alegria por estar dando à vida o que era vida para ele mesmo. Na Cruz Jesus cancelou as Leis da Morte, não as Leis da Vida. Ao contrário, Ele aboliu aquelas e instituiu estas. As Leis da Morte foram rasgadas e cancelas na Cruz, diz Paulo em todas as suas cartas; especialmente aos Colossenses. No entanto as Leis da Morte continuam a operar até que o indivíduo saiba e creia que elas estão canceladas, conforme Paulo disse aos Gálatas; e especialmente em Romanos 7 e 8:1. Mas quando alguém crê no que Jesus Consumou em seu favor, então, para ele morrem as Leis da Morte e nascem as Leis da Vida. As Leis da Vida são simples: 1a O que quereis que os outros vos façam, fazei isto vós mesmos primeiro a eles. 2a Quem ama conhece a Deus, pois Deus é amor. 3a Quem dá com alegria e como fruto da gratidão, esse recebe sempre boa medida, sacudida, recalcada e transbordante. 4a Quem é misericordioso sempre receberá misericórdia. 5a Quem com fé em Cristo examina e julga a si mesmo conforme a verdade em Deus, esse não será condenado. 6a Quem semeia toda e qualquer coisa com fé, esperança e amor, jamais deixará de colher os melhores frutos da vida. 7a Quem confessa sinceramente com a boca aquilo que honestamente crê no coração, esse carregará consigo a qualidade de vida que ele declara. 8a Quem com mansidão se controla, acabará herdeiro de tudo aquilo a que renuncia; pois os mansos herdam a terra. 9a Quem crê que todos têm o direito de serem quem são — pois em Cristo não há homem nem mulher, nem escravos nem libertos, nem judeus e nem gregos, nem diferenças de nenhum tipo —, esse, surpreendentemente, será mais pleno do que jamais seria se não reconhecesse o direito de cada um ser quem é. 10a Quem genuinamente busca o bem do próximo, esse não precisa se preocupar com leis, pois o amor cumpre a justiça com naturalidade; e também porque o olhar limpo e grato torna puras todas as coisas. Na realidade tudo isso é uma extensa lista de uma mesma coisa, e que é: ama o teu próximo como a ti mesmo. Viver na Graça é crescer na pratica da Lei da Vida. E a Lei da Vida não é escrita em pedras e nem é uma lista de deveres. A Lei da Vida é um entendimento, uma compreensão, uma decisão pelo que é bom, justo e verdadeiro. A Lei da Vida é o Caminho de quem vive na Graça. O Evangelho é a Lei da Vida! Ora, tudo isto começou em razão de se jogar pão aleatoriamente num rio, e, tempos depois, se comer o peixe que do rio voltou para você, como socorro divino e carinho da Graça. O maravilhoso é que esse estado de felicidade e harmonia com Deus e com a vida não nos isenta de termos que caminhar em humildade; às vezes chorando ou perseguidos ou enfraquecidos; porém, muitas vezes sendo chamados de filhos de Deus por sermos agentes de paz onde chegamos. Aquela instrução de Jesus para que ao se entrar num novo ambiente (“uma casa”) se deseje a paz, bem ilustra o que estou dizendo. Jesus disse que ao se entrar num lugar se chegue desejando e anunciando a paz em palavras e vibrações espirituais, que são as vibrações do amor e do olhar aberto e limpo. Ele disse que esse que assim proceder sempre encontrará de imediato sua conexão espiritual no ambiente (“um outro filho da paz”); ou, não havendo ali um ser da paz, que ele não seria vampirizado pelos vampiros do lugar; posto que sua paz voltaria para ele. Ora, Jesus disse isto quando enviou Seus discípulos para o meio de lobos, para a vida, para o mundo, para as cidades, para os grupos humanos mais diversos, e para o risco de viver e pregar o Evangelho nos ambientes da hostilidade. Eu creio que quando genuinamente se deseja a paz, se a anuncia, e empenha-se por alcança-la, se fica imune de muitas vampirizações espirituais e psicológicas às quais se está sujeito quando o nosso caminhar é espiritualmente distraído e desavisado, do tipo que sempre “dança conforme a música espiritual”, e sem se dar conta de que certas “músicas” (trocas espirituais), têm grande poder de contágio; a menos que se ande com o entendimento protegido pela pratica da paz. Em suma: Estas são coisas simples que o Povo da Graça de Deus precisa saber sobre como a Graça opera de modo poderoso na simplicidade da fé e do amor que segue conforme o fluxo da vida ensinado por Jesus no Evangelho. Bem-aventurado é todo aqueles que as praticar. Esse conhecerá o Evangelho como Boa Nova. Caio