1 Quando o Deus Eterno nos trouxe de volta para Jerusalém, parecia que estávamos sonhando.
2 Como rimos e cantamos de alegria! Então as outras nações disseram: “O Deus Eterno fez grandes coisas por eles!”
3 De fato, o Eterno fez grandes coisas por nós, e por isso estamos alegres.
4 Ó Eterno, faze com que sejamos prósperos de novo, assim como a chuva enche de novo o leito seco dos rios.
5 Que aqueles que semeiam chorando façam a colheita com alegria!
6 Aqueles que saíram chorando, levando a semente para semear, voltarão cantando, cheios de alegria, trazendo nos braços os feixes da colheita (Salmo 126)
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São 5 da madrugada. Estou em Brasília. E não estou conseguindo dormir por excesso de alegria e contentamento. Tive muitas razões para ficar contente, mas nem uma delas justifica a profundidade desta alegria que me dá congestão de prazer bem no centro de meu ser.
De fato estou me sentido como me sentia ainda garoto na fé e jovem pregador, quando após cruzadas de evangelização, ou noites de grande benção, eu não conseguia dormir de gozo.
O sentimento de hoje também me remete para os muitos anos de jejuns prolongados, e nos quais meu espírito era visitado por Deus com tanta intensidade que dormir me era uma total impossibilidade.
Foi assim comigo durante duas décadas. Mas de 1990 em diante eu mudei, sutil e inconscientemente…mudei minhas prioridades, e mergulhei no ativismo. Sim, eu pregava com a mesma paixão de sempre, mas me sentia cansado e exaurido, não mais renovado no próprio cansaço.
De 1998 até há um ano e pouco atrás eu julgava que talvez nunca mais me fosse dado sentir o sacramento de tão inefável alegria. Cheguei mesmo a pensar que eu havia “amadurecido muito”, e que por esta razão já não me era possível experimentar o gozo das primeiras décadas, pois, quem sabe, aquilo fosse apenas um privilégio dado aos inocentes.
Os vinte anos de gozo na Palavra, na oração e no anuncio do evangelho foram dando lugar à correria ministerial, e esta acabou por me mergulhar num mundo missionário-empresarial. Então minha alma foi minguando e perdendo a alegria pelos singelos prazeres espirituais.
Hoje estou aqui depois de sete anos de trituração, humilhação, perdas, de-cisões traumáticas, angustias do inferno, depressão, tristezas de morte, mágoas, sentimento de abandono, uso e descartamento. E tudo isto me é, agora, como refugo para ganhar mais de Cristo, e experimentar o poder de Sua ressurreição como contentamento espiritual.
Só Deus sabe o volume das dores que senti, e as angustias de ser que experimentei, e isto era como quem estava perdido na floresta, andando, andando, e voltando sempre ao mesmo lugar. Um lugar de onde nada podia ser visto como razão de contentamento.
Então, de súbito, sem explicação, mas como se fosse a cessação dos sete anos de perturbação de Nabucodonozor, voltou-me a paz, o contentamento, a confiança pacificada, o prazer no dom que Deus me deu, e a alegria de servir com a pureza dos simples.
Há três meses meu filho, Lucas, nos deixou num abrir e fechar de olhos, pois, para ele, soou a última trombeta. E as dores que ele me deixou me surpreenderam como um sentir litúrgico, como um sacramento, como um gozo chorado, sofrido, e, ao mesmo tempo, carregado de felicidade.
Hoje estou aqui. Sereno. Contente. Pacificado. E cheio de sonhos e movido por novas alegrias no Espírito, e no meu espírito.
Estou tomado pela certeza de que viverei para ver a grande obra da Graça que Deus realizará nos últimos dias. E estranho é que me sinto mais chamado hoje para a vivencia plena de meu dom no Espírito do que jamais antes na vida.
Hoje me glorio nas próprias tribulação, e contemplo o peso de glória que já é meu em Cristo.
Insônia de gozo. Insônia de alegria. Insônia de um odre que sente o fermentar de um vinho que vinha sendo curtido e envelhecido em mim para esta hora.
Na realidade estou me sentindo como se eu fosse um daqueles vasos que receberam em si o milagre da transformação da água em vinho na festa de Cana da Galileia.
Agradeço ao Pai por esta insônia cheia de sonhos, e por estar sofrendo uma espécie de infarto de gratidão e gozo.
Por isto, oro, e digo:
Senhor, faze transbordar o meu cálice, e concede-me o gozo de beber de teu vinho de alegria na presença de meus adversários, unge-me a cabeça com óleo de alegria, e dá-me, em tua presença, gozar delícias perpetuamente.
Acima de tudo, ó Deus, te agradeço pela renovação da chama do ardor da Palavra de teu amor em mim.
Recebe esta minha feliz insônia de hoje como a vigília de um coração no qual tua morada é cheia de festa e dança, e na qual jamais faltará o melhor vinho, e nem as melodias da salvação que é plena de alegria em ti.
Restaura as minhas força para que eu não enfarte de prazer e alegria, pois que teu gozo é infinitamente maior do que meu coração.
Nele, que é minha força, meu sol, minha alegria e meu escudo de amor,
Caio
Escrito em 12/07/04