Outro dia alguém me perguntou qual é o limite, a referencia “basta”, para o mandamento de fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam.
Sim, porque fazer incansavelmente à mesma pessoa o bem que gostaríamos de receber dela, e receber de volta apenas e tão somente o oposto, pode fazer com que o outro (o que recebe apenas o bem) se vicie no fato que de nossa parte só vem a mansidão; e, assim, se torne adoecidamente mimado, abusivo, injusto, e até perverso.
Nesse caso, aquele que continua infinitamente a tratar a pessoa daquele modo como gostaria de ser tratado, pode, inconscientemente, desenvolver a doença da bondade, que é a manifestação de uma bondade que não sabe fazer o bem, mas apenas a “bondade”, a qual, sendo recebida por um ser abusivo, pode receber dele a reação que a pouco descrevi; e, naquele que é o ser da bondade, desenvolver uma “bondade adoecida”, posto que se torna co-dependente do outro-abusivo, e insiste em si mesma como “bondade”, apenas porque já não sabe viver sem ser sob o abuso.
Nesse caso, o que se deveria de melhor desejar a nós mesmos é que qualquer um que nos visse nesse estado de prática de abusividade contra o próximo, nos confrontasse, e nos acordasse para o fato que quem vive assim é doente e se torna perverso. Por isso, eu também esperaria que tal pessoa me tratasse com a necessária energia, pois, não desejo ficar doente de alma.
De fato, por onde quer que você olhe para esse mandamento do amor ordenado por Jesus, fica claro que ele não incita aos romantismos da bondade adoecida. Ao contrário, ele nos manda pensar o que seria o bem, e não o que seria “gostoso”.
Portanto, ele nos põe na vereda da propriedade e da pertinência em todas as coisas.
Nessa medida existencial ensinada por Jesus cabe o resposta-proposta certa para cada situação da vida, isso se se tem em mente o bem, e não os estereótipos de “bondade”.
Se alguém, por exemplo, trás essa questão para a dimensão conjugal, é inevitável deixar de pensar que os homens que traem suas esposas deveriam imaginar e se colocar na posição de quem vê a sua mulher sendo “devorada e traçada” pelo patrão ou por um colega de trabalho, isso a fim de saber se querem ser tratados conforme estão tratando as suas esposas.
Não é preciso haver moralismos de nenhuma natureza quando se tem essa medida do mandamento do amor ensinado por Jesus. Literalmente ele trás à existência tudo o que é bem e bom, e com toda a propriedade e pertinência; pois, sua aplicabilidade é ilimitada.
Esse mandamento de Jesus não gera seres tristemente bonzinhos, mas seres humanos fortemente bons.
Na realidade é para essa “uma só coisa” que Jesus faz o Evangelho inteiro se fazer condensar. Daí procedem todos os caminhos da vida, e nada que não nasça aí é realizador do bem em sua total propriedade.
Quem alcança tal disposição mental em todos os níveis da vida, sendo capaz de ver tudo, o tempo todo, com tais olhos, esse chegou na estatura do varão perfeito.
Essa deveria ser uma ambição de entendimento que todos nós deveríamos buscar. Afinal, fora de tal modo de ver a todas as coisas, o que sobra é apenas a militância nas leis do ódio e da vingança; ou então, cria a “bondade ineficaz”, e que gera seres passivamente bonzinhos, e que nada produzem de mudança em si mesmos e no mundo.
A Humanidade que o diga!
Caio