BUSCANDO APRENDER OS CAMINHOS DO AMOR


BUSCANDO APRENDER OS CAMINHOS DO AMOR

 


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From: BUSCANDO APRENDER OS CAMINHOS DO AMOR
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Sent: Friday, February 17, 2006 10:04 PM
Subject: [Caminho] E por falar em amor … VALE A PENA AMAR?

Ontem a reunião do Caminho Jovem foi provocante no sentido que nos levou a pensar no que considero a dificuldade mas comum, e nem por isso não importante, das nossas vidas que é a de viver e experimentar o relacionamento amoroso apesar das desilusões e frustrações decorrentes do mesmo.

A partir da pergunta acima, feita pelo Jack, passamos a discorrer sobre o que as nossas experiências fizeram-nos entender que o amor seria.

Respeitando o ponto de vista de cada um, tentei fazer uma síntese do que foi dito na minha mente, mas como organizo melhor as idéias quando escrevo, segue o que “aprendi” sobre o assunto ontem, com todos e com Deus, que não nos deixou de falar ao coração nem um instante:

Existem algumas premissas, amplamente validadas pelos testemunhos de ontem, que devem ser consideradas antes de responder a pergunta se vale ou não a pena amar;

a) O amor é eterno como ideal romântico mas pode acabar no dia a dia dos relacionamentos – Sempre existiram e existirão poetas para declamar o amor. Nossa música popular, bem como a literatura universal, está aí para mostrar que este é um ideal renovado a cada geração. No entanto esse amor tem se expressado em relacionamentos reais nem sempre bem sucedidos.
Esse insucesso ou decepção amorosa também é subsídio para artistas e compositores e acontece porque misturamos ao amor sentimentos, emoções, desejos, pulsões, expectativas irreais em relação ao parceiro, que, quando não atendidos, provocam o desgaste e por fim o fim da relação. Este sentimento de descrédito e desesperança em relação ao amor é expresso em declarações como; “na teoria é uma beleza mas na prática …”. Na prática misturamos muita coisa e rotulamos tudo de amor, um amor pra sempre que sempre acaba, como diria Renato Russo.

b) O amor e a paixão podem até andar juntos mas são diferentes – A paixão, como disseram na reunião, é fisiológica. Dura no máximo 18 meses (dizem os otimistas que pode até chegar a 3 anos) e é seguido de cansaço, desinteresse e até aversão. Não suporta a realidade, mas é a artífice da fantasia. Na paixão as falsas expectativas são montadas e as futuras desilusões preparadas. O amor (ou o que entendemos ser o amor), ao contrário, pode utilizar-se da paixão como gatilho mas precisa que a mesma arrefeça para mostrar a sua força. Pois quem ama o outro com seus defeitos e imperfeições não o quadro pintando na mente fantasiosa da paixão. A paixão é egoísta, o amor não visa seus interesses. A paixão é impaciente, o amor tudo espera. Paixão se sente, amor se tem. A paixão vinga a ferida, o amor perdoa a falta. O amor é primo da fé e da esperança. Como eles tem em comum o fato que não se trata de um sentimento mas de uma atitude frente à realidade da vida nem sempre colorida como a pintada pela paixão. A paixão não cria amor, ele fruto de decisão como veremos a seguir, no entanto é possível tirar do amor o cultivo da paixão como alvo do prazer conjugal. c) O amor é fruto da capacidade humana de decidir – Somos , como também foi dito, o único animal capaz de decidir. Quando o homem perde sua capacidade de decisão ele está nas mão de outrem, sejam as drogas, os sentimentos, ou mesmo quem ele ou ela se declara perdidamente apaixonado(a). Não importa, quando nos entregamos às pulsões em compulsões que nos atiçam, abrindo mão da nossa capacidade de decidir e de ter discernimento vivemos ao sabor das paixões mas não do amor. Amar requer decisão e comprometimento como o que se decidiu. E essa decisão não se baseia em lógica ou razão, visto que é amor. É por isso que o amor é o princípio da graça.

d) O amor é provado por meio de ações – Em não sendo um sentimento, o amor pode até se expressado poética e musicalmente, mas se revelará nos atos e não nas palavras. e) Não se ama sem a si mesmo amar – A falta de amor próprio distorce qualquer tentativa de se amar alguém. Isso por que quem não se ama, vai procurar no outro aquilo que não acha em si, vai sugar do outro a vida como um vampiro, vai, na sua insegurança, se segurar ao outro com unhas e dentes impedindo-o de respirar. Com isso vai matar qualquer possibilidade de desenvolver no outro a reciprocidade sadia do amor. Dito isto acho que estamos prontos para responder a pergunta que nos trouxe até aqui. Valeria a pena amar? E eu responderia: Sim, vale a pena amar um amor que vala a pena! Do contrário, é melhor ficar sozinho. E esse amor existe?

Creio que sim por três razões:

1 – Deus é amor, e Ele existe.

2 – Deus é nossa referência de amor. Provou o seu amor para conosco entregando Seu Filho na cruz quando ainda éramos pecadores, ou seja, com uma ação prática e direta. Fez isso por que decidiu fazê-lo. Nada tivemos a ver com isso a não ser sermos pela graça objetos desse amor. Sua atitude para conosco gera em nós uma resposta que não poderia ser diferente. Amamos então porque ele nos amou primeiro mas amamos por conta disso e isso faz do amor uma realidade presente nas nossas vidas. Somos

3 – Somos a Sua imagem e semelhança, portanto dotados de várias capacidades herdadas do Pai, uma delas é a de amar. Na reunião, veio-me a mente o amor de Deus como parâmetro e chave para a resposta da pergunta do Jack. Fiquei pensando nas desilusões de Deus conosco em comparativo com as nossas desilusões uns com os outros. Quem leu Oséias sabe que Deus se sentia perante Israel da mesma forma que um marido traído se sente em relação à esposa adultera (ou vice versa) tanto que fez o profeta passar por tal situação para expressar essa verdade ao povo. Não obstante, ele deu cabo sua intenção de resgatar os seus por meio da cruz, aos que amou desde o princípio. Logo, Ele nos ama! E aí o que ele faz quando lhe viramos as costas? Vai atrás da gente como bom pastor. Nos recebe com festa como na parábola do filho pródigo.

Diante de tudo isso fiz a seguinte reflexão: Valeu a pena Deus nos amar? Se a nossa resposta a essa pergunta for positiva automaticamente estaremos respondendo que o amor vale a pena, pois esse amor (o de Deus) é o pai de tudo o que possa, nas nossas relações humanas, ser chamado de amor.

E esse amor transforma, cativa e sustenta qualquer relação tornando-a resistente aos vendavais da vida.

Se cultivarmos esse tipo de amor nas nossas relações quem sabe a pergunta título dessa reflexão não seja mais tão perturbadora em nosso meio como tem sido atualmente, pois já terá resposta a resposta afirmativa de bate pronto nos nossos corações. Ao autor do amor que conheço e que por vezes expresso.

E a minha mulher, que me faz sempre pensar que esse amor é possível na relação a dois.

Ido

Caminho Brasilia

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Resposta:

Ido, meu querido amigo e irmão no Caminho: Graça e Paz!

Li com muito contentamento a súmula existencial e reflexiva que você fez acerca da conversa-estudo que o Jack e a moçada do “Caminho Jovem” fizeram; e muito me alegrei com tudo; especialmente com a maturidade que todos.

Há uns dias atrás colei aqui no site um texto chamado “Uma Bula de Amores”, no qual eu desejava expressar, filologicamente, as distinções que há nas várias formas de amor, conforme as palavras gregas que nos serviram de referencia conceitual para o termo e seus derivados; inclusive mostrando que muito do que se chama “amor”, nada mais é que instintualidade compulsiva.

E mais: disse que não entender tais distinções é o que mais prejudica o encontro do verdadeiro amor, posto que falsifica a sua real interpretação.

O amor de Deus, que é aquele que tudo espera, tudo suporta, jamais acaba, e só tem prazer no que é bom, e nunca se alegra com qualquer forma de injustiça, etc…— de fato é o único amor a se buscar que esteja presente na base do ser, a fim de que qualquer outro modo de amar seja educado no amor divino. Não ter a consciência do amor de Deus em nós, é o que nos faz projetar sobre “certos amores” expectativas frustrantes e acabrunhantes para aquele (a) que, um dia, confundiu as coisas e se arrebentou.

Paixão, por exemplo, acerca da qual muito se fala nas cartas aqui do site, na maioria das vezes é apenas um estado de enfatuamento fortemente produzido por projeção, transferência, carência, paixão pela paixão, compulsão e derrame químico —; estado esse que os gregos desejavam dele fugir mais do que o diabo da cruz, pelo simples fato de que para eles, paixão era algo de natureza patológica, sendo, portanto, um surto, uma loucura, um estado de prevalência da fantasia sobre o mundo real.

É essa paixão-loucura, desacompanhada de amor e de seus nutrientes de carinho, amizade, companheirismo, fidelidade, e vida comum e constante, que, de fato, é algo ilusivo; e tendente a acabar tão logo as químicas orgânicas se arrefeçam, e os estados psicológicos de enfatuamento dêem lugar à imagem real do objeto de amor em questão.

Por outro lado, há aqueles para os quais o “amor é apenas uma questão de decisão”.

Ora, eu creio que amar é uma questão de decisão, e isto quando a manifestação do amor tem a ver com a lida de todos os dias.

Sim, você decide amar ou não; posto que o amor não é romântico, mas verdadeiro.

Portanto, não é abalável como os materiais psicológicos cuja estrutura é apenas o romance, o qual se alimenta também, bastante, de fantasia. Porém, sendo verdadeiro-amor, tem que ser verdade-amor; e, assim, não depende de fantasia para ser e existir; assim como não precisa de emulações a fim de se manifestar.

Neste sentido, amar é uma escolha existencial e de fé, e que se baseia num entendimento acerca do que Deus chama amor, e do modo como Ele nos ama.

Desse modo, por tal amor, viajo de A à Z, indo do meu adversário à minha mulher-amante; pois, há dias que tanto um quanto o outro têm que ser amados por minha decisão, e não por minha emoção. Todavia, a aplicabilidade desse amor que escolhe ser amor, cabe em todas as coisas, menos na cama de um homem e uma mulher. Sim, cabe na cozinha, nas arengas da vida, na paz que acaba com conflitos, no perdão dado ou pedido, etc…— porém, não cabe na cama de amar. Sim, porque é verdadeiro tratar a esposa com amor que “decide amar” em todos os lugares desta existência, assim como também é valido para tudo o mais.

Entretanto, na cama, não se deita e faz amor como “decisão”, mas como desejo.

Ora, a decisão procede de mim, de minha mente consciente. O desejo, porém, conquanto seja um “querer”, precede o estado consciente, e brota como fonte misteriosa da alma. Sim, brota como mistério, pois é isso que Paulo diz do encontro entre um homem e uma mulher.

Desse modo, a fim de que um casamento no qual existe desejo possa sobreviver aos embates da existência, tem que haver amor; do mesmo modo que, sendo o vínculo de amor algo que tenha seu desfecho na cama e no colchão de amar, o mero exercício desse amor que “decide”, mas não “deseja”, pode ser a morte do próprio casamento. Isto porque amar não é um acontecimento romântico (ninguém ama romanticamente um inimigo ou um contrário), mas uma decisão da consciência.

No casamento, todavia, esse amor que chega cheio de bondades, é bom; mas não agrada ao coração do outro, o qual, em tal caso, não quer somente ser objeto de bondades, mas também de desejos e alegrias que nasçam da inexplicabilidade do mistério. Ou seja: o amor entre um homem e uma mulher se alimenta não da lógica, mas da não-lógica, visto que nenhuma “equação” deve poder explicá-lo.

A paixão que vai… é aquela que é filha da “química e do enfatuamento”. Ou seja: é aquela paixão-surto da qual os gregos tanto fugiam.

Entretanto, quando se trata de um homem e uma mulher, se eles se cuidarem, se se tratarem bem, se não destruírem o respeito mútuo, e se alimentarem o amor com verdade e amizade, eu lhe digo que a paixão continua… Sim, continua porque ela não é apenas um produto “químico”, como os mecanicistas sugerem, mas também um elemento de natureza psíquica, o qual, pela sua própria natureza, sobrepuja as estações das químicas e das drogas de prazer apaixonado; podendo perdurar por toda a vida; e, muitas vezes, até crescer ainda mais com o passar do tempo.

O que tenho tentado mostrar é que o Amor é um só, mas que há muitas formas de amar; e sempre de modo próprio e adequado ao tipo de relação que está sendo tratada.

Encontrar tal equilíbrio e exercer esse discernimento é o que pode nos salvar da frieza de amores que são apenas decisões mentais, bem como nos salvar das paixões travestidas de amor, e que não passam de surtos de carência humana ou de emulação apenas química.

Um beijão para você, Ido.

No veremos no Caminho.

Nele, em Quem vale sempre a pena amar, pois, sem amor não há vida,

Caio

Fev. 2006