CAIO, COMO VOCÊ VAI VOTAR SOBRE O
—– Original Message —– From: CAIO, COMO VOCÊ VAI VOTAR SOBRE O “DESARMAMENTO”? To: [email protected] Sent: Tuesday, September 20, 2005 11:02 PM Subject: Referendo sobre a comercialização de armas Amigo Caio, Sou leitor assíduo de seu site… o considero a “voz que clama no deserto” de nossos dias. Gostaria de ver em seu site a sua opinião sobre um assunto muito pertinente. Teremos em breve um referendo sobre a comercialização de armas em nosso país. Pois bem, a pergunta é a seguinte: Você é a favor ou contra a comercialização de armas de fogo? Sei que no passado você estava à frente de campanhas a favor do desarmamento, como a “RIO DESARME-SE”. Porém tenho amigos cristãos, e alguns são contra e outros a favor da comercialização de armas de fogo… e os argumentos dos dois lados são plausíveis. Desta forma seria de grande proveito ouvir sua opinião. Se puder responda. Fique na PAZ! Jerry ____________________________________________________________ Resposta: Jerry, querido amigo no Senhor: Graça e Paz! O “Rio Desarme-se” define com clareza minha vontade de desarmar todo mundo, não apenas os bandidos, ou os que assim são considerados. O movimento “Rio Desarme-se”, querendo ao não os atuais líderes do movimento, é o pai histórico-motivacional de todos os demais movimentos de desarmamento que vieram depois; até porque, alguns dos animadores originais deste desarmamento — pessoal do Viva Rio está mais que envolvido desde o princípio —, foram os motivadores do “Rio Desarme-se”. De acordo com Alfredo Sirkis, o “Rio Desarme-se” foi o movimento popular mais simples e impactante que ele já viu acontecer espontaneamente no Rio, com adesão em massa da população. Naquele tempo, entretanto, ainda que tenhamos levado sugestões para os Generais Mey e Câmara Senna — comandantes da “Operação Rio”, a qual aconteceu paralelamente ao “Rio Desarme-se” —, afirmando que sem um trabalho de “inteligência” nas fronteiras, portos e aeroportos, necessitava-se, também, de uma lei ampla, e que levasse a questão para o debate nacional, não fomos ouvidos. O próprio Genaral Câmara Senna fez ar de riso quando dissemos isto; e, especificamente para mim, disse que eu estava assistindo muito filme de “ação”. Falamos não apenas com os dois Generais, mas me recordo de termos levantado a questão com outras autoridades — no meu caso, falei com o Governador, o Secretário de Segurança, e alguns Senadores —, mas, aquela altura, todos achavam impossível mexer no tema de modo “tão profundo”. Há tempo e hora para cada coisa debaixo do sol. Também sob ele não há nada novo! Ou seja: o “Rio Desarme-se” era uma iniciativa de cidadãos, sem nenhum apoio oficial, e sem nenhuma lei ou projeto de lei que o estimulasse; e, menos ainda, sem que se “comprasse a arma de ninguém”, como hoje acontece; e não se pode negar que é um gigantesco “estimulo”. Ou seja: no “Rio Desarme-se”, o cara tinha que dar por dar, numa espécie de conversão da compreensão cidadã; e não “vender”, fazendo uma graninha quando está duro, ou querendo pedagogicamente estimular os filhos. Nada contra. Afinal, quem pagou pela arma, podendo ser ressarcido, sente-se melhor ainda! No entanto, como o Governador Marcelo Alencar acreditava que tudo o que eu estava fazendo era para desmoraliza-lo, chamando a atenção para a “violência no Rio” — coisa essa contra a qual eu lutava: o preconceito contra o Rio, criado e exacerbado pela mídia, especialmente em razão da briga entre Brizola e Roberto Marinho, a qual foi autofágica para a cidade —, não recebemos ajuda oficial de ninguém, exceto da mídia. Ora, a atenção da mídia também aconteceu em função do fato de que aquele era um movimento “maluco”, e que foi “crido” pelos pobres da favela, mais do que pelos “cidadãos conscientes do asfalto”. Como já disse, o clima na cidade era horrível. Tudo começara no final de 94, enquanto Nilo Batista ainda era o Governador. Da parte do Nilo tivemos ajuda e incentivos totais. Porém, em janeiro de 95, ele saiu, e Marcelo assumiu; e, com ele, vieram todas formas de boicotes; e, depois, de perseguições, as quais, posteriormente, me foram por ele declaradas como sendo “ciúme político”, visto que ele cria que seria impossível um homem ser tão aceito e incensado pela mídia e pela população, e não tirar proveito disso, candidatando-se ao Governo ou à Prefeitura da Cidade. Tudo o que o Nilo havia facilitado antes, dando ordem para que os Quartéis se abrissem para recolher armas doadas, o Marcelo fechou. Até mesmo o monumento simbólico que seria erigido no Aterro do Flamengo com parte das armas recebidas, o qual já tinha projeto, dinheiro e lugar para a edificação, foi de súbito cancelado pelo então governador, em associação como prefeito (embora fossem inimigos políticos), pois ambos estavam convencidos de que me ajudar seria como incrementar a campanha do próximo Prefeito ou Governador. Muitos me contaram esta história, mas o próprio César Maia a contou para mim, um ano depois, quando me chamou para um café da manhã e me pediu desculpas pelos modos e pelos equívocos dele. Até o General Mey, vendo que eu entrava e saía de todas as favelas, de dia ou de noite, gozando do respeito de toda a população, inclusive dos traficantes e donos dos morros, me pediu que fizesse “um trabalho de espionagem para o exército”, mapeando tudo, e dizendo onde encontrar o “pessoal do movimento”, como os traficantes são chamados nas comunidades. Zuenir Ventura e Rubem César Fernandes o ouviram me fazer tal proposta no Quartel Geral da Central do Brasil! Ora, estou expondo superficialmente o contexto, apenas para você ver que aquele era um movimento da paixão, da maluquice, dos bagos da sinceridade, do grito que dizia: “Parem essa insanidade em nome de Jesus!”; visto que era nessa força que eu e os que comigo estavam, iam aos lugares considerados os “antros da terra”. Ora, apesar de que tanto a policia quanto o exército nos tentavam seguir, a fim de ver se tomavam carona conosco para identificarem “as bocas” e os “esconderijos” dos líderes do “movimento”, sempre os ludibriamos, e sempre fizemos nosso caminho sem eles. Na realidade, algumas coisas aconteceram: a primeira é que o pessoal preso (aos quais eu visitava em Bangu I), deu ordens para que seus comandados, do lado de fora, doassem armas boas para a campanha. Ora, até AR15 vieram em alguns pacotes, juntamente com escopetas, rifles, revolveres, e outras armas. A outra coisa que aconteceu foi que as crianças das comunidades, que na sua maioria só gostavam de brincar de “Polícia e Bandido”, sendo que ninguém queria ser “polícia”— disputando no palitinho quem teria o “azar” de cumprir o papel de “polícia” na brincadeira —, aderiram aos milhares ao “Rio Desarme-se”; e, assim, trouxeram milhares de brinquedos com “cara séria” de arma (alguns até usados em “assaltos de intimidação” no asfalto); e receberam, em troca, milhares de bons brinquedos. Com parte das armas das crianças e adolescentes, fizemos um monumento na Fábrica de Esperança. E as armas pesadas e de verdade, as quais seriam para o monumento do Aterro, foram escondidas por nós, algumas centenas, até vermos se o Governador e o Prefeito dariam a ordem para a edificação do monumento simbólico; mas quando vimos que a posição deles era ciumenta, invejosa e hostil, nós quebramos as armas todas, destruindo-as, e jogando-as no mar. Então, conquanto aquele tenha sido o “movimento-semente” deste que agora aí está, o que os difere é muita coisa. O de hoje é algo que vem com a chancela do Governo Federal, como política publica, e contou com muito dinheiro a fim de “comprar as armas”. Já o “Rio Desarme-se” era um movimento de fé, loucura e coragem; e não comprava nada, mas apenas dizia: Em nome de Jesus, me entregue a sua arma! Foi pelo tamanho da maluquice, pelas circunstancias adversas, com o Exército acampado à volta das favelas na chamada Operação Rio, e, sobretudo, pela coragem simples de se crer que se poderia ir sem medo, como ovelhas para o meio dos lobos —, que o “Rio Desarme-se” marcou tanto o imaginário carioca e até do país inteiro; posto que foi dali que São Paulo e outras cidades iniciaram as suas mobilizações. Ora, felizmente eles encontraram muito mais boa vontade dos governos estaduais, e, também, acharam disposição por parte das presentes autoridades quanto a fazer disso uma lei, e uma política pública. Eu votarei pelo desarmamento da população. E explico o por quê. Primeiro porque estatisticamente está provado que mais de 90% das pessoas que mantêm uma arma em casa para proteção, acabam por perder a arma para o assaltante na hora do assalto; assim, apenas enriquecendo o arsenal do crime, sem falar que a maioria tem a arma usada contra eles mesmos pelos malfeitores. Segundo porque a presença de armas em casa, num tempo de tanta violência generalizada, acontecendo em família, na vizinhança, no transito, e em outros lugares, só tende a ficar pior quando o cara tem uma arma em casa; posto que a arma faz qualquer “frouxo” se encher de “falsa coragem”; e, assim, partir inconseqüentemente para a sua idiota bravata. A segurança que os portadores de armas pensam que possuem por tê-las consigo, é falsa; posto que pouca gente sabe ou está preparada para usar uma arma. Ora, uma arma nas mãos de um leigo, é uma arma contra ele mesmo. Não é tão simples quanto de pensa usar uma arma; está longe de ser algo que tenha apenas a ver com “puxar o gatilho”. Além disso, a “proibição legal” é também uma boa e eficaz forma de colocar na ilegalidade total as centenas de grupos paramilitares que hoje existem no Brasil, aumentando a violência no campo, nos garimpos, nos lugares de extração ilegal de árvores e riquezas naturais em geral. Ora, se apenas armas legais e pessoas devidamente autorizadas puderem usá-las, e com a devida responsabilidade, inclusive criminal no caso de exacerbações —, é que se poderá diminuir também o já mais que prevalente espírito de “Far West” e “Bang-bang” que se instalaram entre nós. De fato, eu teria muitas outras razões a listar, porém, julgo que as que mencionei são suficientes para definir as minhas razões. Todavia, não me é possível deixar de lembrar que quando Jesus disse que aquele que com a espada fere, com a espada será ferido, Ele estabeleceu a seguinte referencia: escolhidas as armas, definidas as possíveis conseqüências. Por outro lado, quando Ele mandou não resistir ao perverso, dando a ele a capa, a e até mesmo voluntariamente a túnica, Ele também criava o principio da desmobilização de um certo nível de hostilidade. E quando Ele envia Seus discípulos como ovelhas para o meio de lobos, Ele ensina o mesmo principio da desmobilização da violência pela total despretensão de recorrer a ela. Também, quando cura a orelha de Malco, o servo do sumo-sacerdote cuja orelha Pedro decepara, Jesus declara como Ele mesmo trata o adversário. Pois, se o amor ativo e corajoso não desmobilizar o adversário, nem o evangelho dos Gracie conseguirá faze-lo. Deixo com você uma pequena história recente acerca de como armas de fogo, em mãos bêbadas e violentas, podem causar loucuras em qualquer lugar. ___________________________________________________________ Estava colocando a minha netinha no carro para ela ir de volta para a casinha dela. De repente…gritos! Esperei o carro sair… Olhei para trás e vi um homem bem vestido, de uns 55 anos, com um revolver na mão. A cena era em frente ao Bar dos Inocentes. Tenho alguns amigos lá. Hoje o bar estava lotado… Todos estavam gelados de medo. O homem, de fato, estava disposto a meter no mínimo uma bala em alguém. Foi instintivo… Gritei! “Paz seja neste lugar”—e caminhei na direção do homem. Fez-se silêncio total. “Olhe bem para mim e veja se minha cara é de guerra ou de paz!”—exclamei. O homem me olhou como se eu fosse um alienígena. Em Copacabana…um cara de bermuda vermelha, camisa branca, barbado e de mãos para cima…dizendo o que eu estava dizendo…? De fato, olhando “de fora” parecia uma cena surreal. Cheguei perto, abracei o homem e falei para ele guardar a arma. Guardou-a. Botei a mão no ombro dele e tirei-o dali…conversando sobre o ridículo de tudo aquilo. As razões? Bobagem…como sempre. Papo de quem “entornou” mais do que agüenta…então, fica tudo como o diabo gosta. Botei o homem do outro lado da rua e o mandei para casa. “Quem é você?”—me perguntou. “Sou amigo de Jesus”—foi o que eu respondi a ele. Dei-lhe um abraço e ele se foi. ____________________________________________________________ Hoje vejo o senhor do revolver todos os dias, mas ele baixa a cabeça e não fala comigo. Suponho que tenha ficado envergonhado. Nos últimos três anos, somente aqui na esquina de minha casa, já fiz a mesma coisa, ou coisa semelhante, outras duas vezes. E isto porque as pessoas estão armadas na alma, e, com muita disposição de cometer violências. No entanto, eu creio que a nova lei deve prever também alguns mecanismos legais para que pessoas que assumam responsabilidades criminais no ato da compra de uma arma, possam faze-lo; visto que, nem todo mundo que precisa de uma arma está fadado a ter apenas motivos ligados à violência para possuí-la. Todavia, tais pessoas, precisariam ser “técnicas e qualificadas”, e seus trabalhos precisam ser legitimamente definido como tal pela lei. Digo isto porque se não houver alguns dispositivos legais para o uso de armas por algumas pessoas, cujo trabalho ou atividade demandem tal uso ou a necessidade de serem proprietários de armas, não venham, pela proibição, acabar por deflagrar algo ainda pior: o mercado paralelo de armas, o qual, como todo black market, é muito mais lucrativo para os mal intencionados. Eu, de minha parte, nunca tive e nunca desejei ter uma arma. Desde menino que penso que aquilo que não pode ser resolvido no papo, ou, na pior das hipóteses, no “braço”, não merece ter solução de nenhuma outra natureza. De minha parte, se assaltado eu já tivesse sido na vida, preferiria estar sem arma, pois, tanto “relaxaria o assaltante”, como também, no meu caso, seria a melhor forma de tomar a arma do “sujeito”, na possibilidade da coisa começar a ficar perigosa. Mas se não se transformar em perigo de vida, o melhor a fazer é entregar tudo, e deixar o tolo seguir o seu caminho. É como penso e é como votarei! Nele, Que disse que quem quer que com a espada fira, com a espada será ferido, Caio Caio