CAIO, E O PROBLEMA ENTRE A IGREJA E OS HOMOSSEXUAIS?

—–Original Message—–
From: Café com Graça 
Sent: quarta-feira, 19 de maio de 2004 16:14
To: Contato@Caiofabio. Com
Subject: CAIO, E O PROBLEMA ENTRE A IGREJA E OS HOMOSSEXUAIS?


Mensagem:

Amado Caio,

Moro em Boston, e aqui em Massachusets legalizaram o casamento de homossexuais. Começou no dia 17 de maio.

Nesse mesmo dia, pela manhã, eu estava dirigindo para o trabalho e me lembrei disso. De repente me deu uma tristeza muito grande, um desejo profundo de orar; então orei ao PAI por todos aqueles que se “casariam” naquele dia, e também pelos legisladores do estado.

Algumas igrejas brasileiras e americanas fizeram vigília em frente ao Fórum nos dias de votação desta lei. As igrejas estão mesmo indignadas com tudo isso.

Você crê que existe mesmo motivo para tanto?

Como você acha que deveríamos reagir a isto como IGREJA?

A Bíblia diz: “Não vos conformeis com este mundo…”; mas, como tenho aprendido (e muito) aqui no site, homossexualidade não é uma questão de “possessão”, como a igreja geralmente “afirma”. O que fazer?

Sabe, Caio, gostaria de poder descansar, de não me entristecer por isso tudo (a igreja e os homossexuais, etc.), mas, sinceramente, não consigo.

E as leis dos homens podem mesmo trazer conseqüência para toda uma nação quando vão explicitamente contra os princípios bíblicos?

Eu tento compreender a grandeza e poder de alcance da GRAÇA, mas a GRAÇA só é para quem crê em JESUS, não é mesmo?

Temo por essas pessoas, de verdade!

O SENHOR fez bastante para salvar Nínive, mas não poupou Sodoma e Gomorra. Não temo pela cidade, estado ou até mesmo a nação, mas por essas pessoas. Sei lá…

O que você pensa de tudo isto, pastor?

Desde já, um beijo no seu coração…

Edicarlo

____________________________________________________________

Resposta:

Meu querido amigo Edi: Graça e Paz!

Você consegue ver Jesus na porta de tribunais fazendo protesto porque as leis deste mundo não são como os princípios do Reino de Deus?

Ora, quando Ele esteve no Tribunal não respondeu nem mesmo o que era a Verdade!

Esse clamor não vem de Jesus, mas do ladrão amargurado: “Se és o Filho de Deus, salva-te a ti mesmo e a nós também!”

Se Deus fosse olhar essas questões apenas quando uma lei passasse, meu Deus, o melhor seria não fazer leis!

Essas leis regulamentam relações humanas, e entre elas há leis boas e leis más; mas a igreja só tem interesse naquilo que diz respeito à Moral, pois no que diz respeito às injustiças ela sempre fica do lado mais forte.

Quem quiser lutar contra essa lei, faça-o em seu próprio nome, mas não o faça levando o nome de cristão, visto que tal comportamento tanto não condiz com Jesus como também não se o vê nos apóstolos.

Só pensa assim aquele para quem o reino de Deus é neste mundo, e vem com visível aparência!

Essa igreja que vai fazer protestos na porta do Fórum foi criada não por Jesus, mas por Constantino, em 332 d.C.

Antes disso, para os discípulos de Jesus, cabia viver o Evangelho; e eram as leis dos homens que iam contra os discípulos. Veja que diferença!

Em Roma era elegante ser gay. Mesmo quem não era muitas vezes praticava. Não era algo Legal, mas era Moralmente aceito e até estimulado, pois, em muitas ocasiões, isso fez parte da melhor educação de um homem.

E o que os discípulos fizeram? Fizeram passeatas e protestos?

Não se conformar com este mundo começa por não acreditar que os meios deste mundo sirvam à causa do Reino de Deus!

O Caminho de Jesus é outro:

“Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam para que eu não fosse entregue… Mas, agora, o meu reino não é daqui”, disse o Senhor.

O único tipo de protesto da igreja deveria ser é aquele que Jesus ensinou, e Gandhi praticou, não nós. Ou seja: esmagar os adversários da verdade com amor e graça, sem medo, sem moralismos e sem ódio.

E mais: as causas não seriam jamais essas… E os meios jamais seriam esses — não em nome de Deus!

Para mim tudo isso é bobagem; são os mortos sepultando os seus próprios mortos. Tanto quem briga de um lado como quem briga do outro. Ambos os grupos são infantis quando tornam isto uma questão religiosa, como acontece com a criação de igrejas-gay, o que, a meu ver, é bobagem também, pois se leio, sinto e vejo corretamente as coisas, a Igreja deveria ser, no mínimo, uma Cidade de Refúgio, um lugar onde as leis cessassem a fim de que os homens pudessem tomar fôlego!

Por isso, ouço Jesus dizer: “Quanto a ti, vai e prega o reino de Deus!”

Não se conformar com este século é renovar o entendimento, conforme o Evangelho da Graça. Não é nada além disso. Não nos leva com placas na mão a nenhum lugar de protesto, mas nos põe no chão da vida com um olhar de misericórdia.

Meu Deus! A Graça é só para cristãos? Ora, de acordo com Jesus, quem pensa assim são os pagãos, pois amam apenas os amigos e os iguais.

A Graça é para o mundo; para maus e bons; para justos e injustos; pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. O problema é que a “igreja” se alimenta de ressentimento e de ódio moralista e legalista; não do espírito da Graça, conforme o Evangelho.

De fato, isto só acontece assim porque a “igreja” crê que o reino é deste mundo. É por isso que a “igreja” busca poder na terra.

Quem gosta de uma religião de poder terreno deveria deixar de confessar a fé em Jesus e entrar na briga pela posse da Terra com os muçulmanos ou com qualquer outro grupo ou partido político ou religioso.

Jesus não veio fundar uma Teocracia. Ele não é o “Xeique Jesus de Nazaré”. Ele não labora nem na causa de Bin Laden e nem na do Rev. Jerry Fawell, da “maioria moral” americana.

A Igreja americana é católica em suas aspirações de poder. Os Protestantes americanos crêem que a América é uma Teocracia, ao mesmo tempo em que querem que ela seja uma Democracia. Pura contradição de termos e conteúdos!

Eu não creio em teocracias. Eu creio no Reino de Deus, e que hoje está entre nós; porém, sem visível aparência, visto que está em nós… e se manifesta por gestos e palavras de amor, justiça, misericórdia e Graça.

O poder da Igreja vem da subversão do amor!

Foi isso que Jesus ensinou, e é nisso que creio!

O resto, para mim, é fruto ainda da Síndrome de Constantino; um mal aparentemente sem cura para a igreja; uma espécie de AIDS da “igreja”: deixou-a vulnerável a tudo, e com uma consciência moralista tão infantil quanto a dos terroristas que em nome de Deus estão tentando mudar o mundo.

Todas essas coisas são filhas do ódio, não do amor!

Quem quiser discordar discorde, mas discorde em nome da moral, não do Evangelho; e se desejar ir… que vá em seu próprio nome e em nome de suas próprias ambições e morais, mas, pelo amor de Deus, não vá em nome de Jesus, pois é abominação; é um mal maior do que aquele pretendem combater.

Enquanto a “igreja” não entender que o mal é o ódio e a indignação vingativa, ela será apenas agente de Satanás, mesmo pensando que serve a Deus. Todo acusador de homens não trabalha para Deus.

Os profetas de Israel falavam coisas em nome de Deus para uma nação que havia feito um pacto com Deus. Esse tempo acabou. O Evangelho diluiu de vez esse geografismo santo, e nos pôs a todos com a missão de peregrinos e estrangeiros, servindo a Deus em todas as nações, anunciando a Boa Nova; e sem nenhuma ambição por poder terreno; não para a Igreja.

Sendo do Evangelho, nem mais Protestante eu sou. Não tenho um Protesto, tenho uma Proposta; e essa é a Boa Nova.

Se quisermos ainda ser ouvidos pelo mundo, temos que nos convencer de vez que o mundo não vai na nossa conversa, seja ela qual for, venha ela como vier. Jesus disse que o único poder capaz de esmagar o mundo e calá-lo é o amor (João 17).

E quanto aos gays, são gente também, como as prostitutas, os pastores, e os demais pecadores da Terra. Todos igualmente carentes da glória de Deus.

E sobre se tais leis mudam a nação, digo-lhe que não. Essa é uma lei de concessão, não de dever. E não conheço ninguém que faça tal opção só por fazer. Os que chamam isto de “opção” deveriam fazer outra opção, visto que se é só escolha, que escolham, então, o melhor para si mesmos; e certamente “escolher” ser gay é um imenso problema para a existência de qualquer um — vide o que você mesmo constata como resposta de ódio a tal “opção”.

A questão é que há muitos para os quais isto nunca foi uma “opção”, mas sempre foi um fato. E eu não me preocupo com isso mais do que me preocupo com qualquer outra coisa, visto que creio que Deus sabe como lidar com gays, pois vejo-o lidando com gente como eu, que pertence uma classe muito mais perniciosa, a dos pastores…

Sim! Os pastores! Jesus disse que quem ensina errado e se arroga a ser mestre receberá muito mais sério juízo, especialmente se o que ensinou não foi misericórdia!

Pobres dos credores incompassivos, esquecidos de sua própria dívida imensa; incapazes de usar de misericórdia, conforme a misericórdia recebida!

Quem prega o Evangelho não prega Lei. Quem prega Lei não prega o Evangelho. E quem crê no Reino de Deus sabe que tem muito mais o que fazer do que ser “satanás” de quem quer que seja.

Afinal, a questão das questões não é “Eu era heterossexual, e tu me defendeste; eu era senador, e tu me apoiaste; eu era um cristão, e defendeste as leis do estado em favor dos interesses da igreja…”

Ao contrário, a questão é bem outra, e não nos envia aos Fóruns, em nome de Deus, a fim de defender nenhuma moral; mas nos põe em lugares onde a “igreja” não tem muito prazer em freqüentar, e realizando missões que ela também costuma menosprezar: “Estive nu, e me vestiste; enfermo, e foste ver-me; preso, e foste visitar-me; sem teto, e me acolheste…”

Este é o Evangelho de Jesus. O Resto é Cristianismo, a Religião de Constantino!


NEle, que mandou chamar a todos —maus e bons— para a Ceia do Filho (Mateus 22),


Caio