CARTA DO AMOR E MINHA RESPOSTA



 

A CARTA QUE O AMOR ME ENVIOU


Eu não quero saber se você fala bem português, inglês, italiano e francês, e nem tampouco se o anjo Gabriel ou o Arcanjo Miguel e os Seres Viventes ensinaram você a falar em línguas de anjos.

Interessa-me saber se você aprendeu a falar o meu idioma, onde não há linguagem e nem som; embora por toda a terra se faça ouvir a minha voz.

Eu não quero saber se você tem o dom de predizer o futuro, ou de enxergar dentro dos corações; ou se tem tanta fé, que nada para você seja impossível; nem ainda me interesso em saber quantas coisas você sabe; e nem o quão sábia é a sua apreciação da existência.

A mim apenas interessa saber o que você construiu em você, e viu acerca de si mesmo, e conquistou em seu próprio coração… E qual foi a matéria prima.

Eu não quero saber o quão solidário você foi com as causas populares, ou com as questões de direitos humanos. Também não me preocupo se você já demonstrou – ou não – seu espírito sacrificial; nem me interessa saber se você empobreceu de tanto dar o que tinha para os outros.

Interessa-me saber é se alguma coisa, ou o quê, você fez em mim.

Eu nunca pude estar até hoje plenamente em você.

Você não espera nada além de alguma espera; você não crê tudo, pois ainda desconfia; você é muito sensível para o mal que lhe tentam fazer; nem tudo você suporta…

Você se ressente de alguns males, você se exaspera, você arde em alguns ciúmes; você é benigno, mas ainda cansa do bem; e o seu sentir lampeja… Ainda sem a completa obediência à sua consciência.

Fique sabendo que, por enquanto, é assim mesmo; pois, neste momento da caminhada, toda percepção é parcial e todo poder só se experimenta para o bem se for em fraqueza.

Nada se vê com clareza. O mais sábio, o mais profeta e o mais visionário, ainda enxergam embaçados.

Mas um dia tudo o que hoje é em parte, será feito pleno.

Nesse dia, Caio, você vai me conhecer como eu conheço você; e você me verá como eu vejo você.

Por enquanto, não desista; pois nada há de bem-bom e bom-bem nesta terra, se não for aquilo que proceda da fé e da esperança.

Mas há ainda algo sempre maior a conhecer. Conhecer esse algo maior é a vida. Tudo é importante. Mas nada há mais importante que me conhecer.

E, meu filho, nunca esqueça; preciso lembrar a você que eu sou o único dogma que existe. Sabe por quê? Porque Deus é amor!

Agora, continue…

É assim mesmo… Sem ver, porém conquistando.

Escrito no dia 17 de março de 2004– antes da morte do Lukas, em 27 de março do mesmo ano.



AMOR, VOCÊ ME ESCREVEU UMA CARTA…
AQUI VAI A MINHA RESPOSTA:



Querido amor, tudo você é!

Recebi sua carta com cheiro de Coríntios 13 alguns dias antes de dar mais um passo em sua direção.

Com minha razão, às vezes, eu sinto que muitas vezes estou longe de você, pelo menos por alguns minutos; mas de coração, você sabe, NUNCA!

Você me conhece, e sabe que longe de você e sem você, eu fico sem ter como viver. Você também sabe que eu só consigo viver; existir, para mim, é o inferno…
Aliás, faz muitos anos que você me ensinou que sem você, nada me aproveitaria.

Você também sabe que você é simples em seu ser, porém infinito em suas faces. Já eu sou complexo em meu ser, embora terrivelmente finito em minha face.

Assim, em razão do que não preciso explicar – você sabe tudo! – (e até porque você me ensinou que em sua presença não há falações, mas apenas o que é) eu quero apenas dizer que a tarefa mais difícil que tive em toda a minha caminhada, tentando seguir Seus passos, foi discernir as várias formas e as muitas faces com as quais você se mostra.
E aí é que sua infinitude é chocante. E minha complexidade, muitas vezes, é asfixiante.

De nove dias para cá tenho a sensação de ter andado com você léguas de novas percepções. Sinto você mais perto. Sinto-me mais perto de mim mesmo. E até meu rosto vai ficando menos opaco para minha própria auto-percepção. Eu já havia mergulhado, em vôo livre, em você.
Mas agora não estou abrindo mais os braços, tentando dar direção ao salto; estou indo ao sabor de Seus desejos e mistérios.
Quero conhecer extensão, altura, profundidade, e a multiformidade de quem você é. Quero conhecer de você até aquilo que excede o entendimento.

Ainda falta muito para eu conhecer como sou conhecido por você, mas nós dois sabemos que Hoje nós nos conhecemos muito melhor do que há dez dias.

Obrigado pelo carinho que tenho recebido da Fé e da Esperança. Sobretudo, obrigado por você ser assim como você é; assim, tão você, tão eu, tão tudo, tão todos, tão inconcebível.
Sim! Tão misterioso; tão chocante; tão amargo; tão doce; tão tudo, tão nada; tão o que é.
Sim! Obrigado por você ser quem a própria vida é.

De Seu filho, amigo, irmão, adversário, amante, traidor, esposo, servo e eterno aprendiz,


Caio



Escrito 9 dias depois da morte de Lukas (meu filho), no dia 27 de março de 2004