—– Original Message —–
From: CASAMENTOS DE CRISTAL E CASAMENTOS DE BARRO
Sent: Friday, May 11, 2007 7:08 AM
Subject: Preciso de ajuda
Oi Reverendo,
Ando, há muito, lendo os textos no site e muita coisa mudou em minha vida, principalmente minha relação com Deus. Já ouvia falar do senhor, mas nunca tinha prestado muita atenção, só agora depois do contato com o site é que me “familiarizei’ com seu trabalho”.
Sei que o senhor é um cara ocupado, por isso vou expor meu problema sem rodeios: Sou casado com a segunda esposa, tenho dois filhos e duas enteadas. Há cerca de três anos nosso casamento começou a apresentar problemas, coisas do tipo: discussão, ofensas e diferenças sendo lançadas em momentos inoportunos.
Atitudes que geram pensamentos do tipo: “Será que vale a pena?”.
Acontece que a falta de carinho e atenção, nos colocam numa situação perigosa e há tempos venho sentindo uma “atração” por uma pessoa do meu círculo social.
Confesso que tal situação me incomoda, já que, sinceramente, não pretendo trair minha esposa. Não quero expor ninguém. E o pior é que a tal “pessoa” me confessou estar também interessada.
Reverendo, falando sério, estas coisas mexem!
Coloquei-me em oração sendo muito sincero a Deus:
“Não sou o que falo, mas o Senhor me conhece. Ajuda-me”.
Pôxa amigo, sei que meu caso pode parecer besteira, mas me ajuda…
Tenho 40 anos e minha esposa 36.
Cara, preciso de PAZ.
Valeu amigão,
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Resposta:
Meu amigo querido: Graça e Paz!
Sendo seu 2º casamento, tendo você dois filhos do 1º e dois enteados do 2º, havendo desgastes no casamento, todas as discussões se misturam com o significado de um estar segurando um pedaço do mundo do outro, e, não raramente, isso suscita malditos “encontros de contas” (quem segura mais a “onda” em relação ao outro); e, desse modo, surgem as disputas insanas, que tanto criam amarguras quanto se alimentam delas, as quais (as amarguras), falsificam nossas percepções, nos deixam paranóicos pela incerteza em relação ao amor do e dos outros por nós — e é justamente isso que faz a pessoa perguntar se vale a pena.
Todo casamento, 1º ou 2º, têm seus próprios problemas. Por isso, entre tantas razões, não vale a pena se divorciar, se a questão é problema.
Divórcio só é uma solução quando a alternativa é indigna ou completamente insalubre para o ser.
Do contrário, a experiência mostra que se a questão é tédio, cansaço, mesmice, ou carência de adulações renovadas, ainda que nem sempre sinceras, em geral a opção pela entrega à “atração”, se manterá viva enquanto esta for “proibida”; pois, uma vez que se faça assumida, desenvolverá suas próprias idiossincrasias, deixando de ser relação apenas de prazer sem continuidade na vida; e passando a ser a existência como ela é; e na qual o prazer só se estabelece sobre a vida como amor.
Ora, tudo isso dá trabalho. Casamento é uma obra de tapeceiro. É manufatura diária. É obra de artesão.
Sim! É como a casa do oleiro.
Assim, o vaso quebra, muitas vezes, ou vai perdendo a forma, mas se há quem pedale para manter a roda girando (e quando são dois é melhor), e se não faltar água para manter o barro úmido, então, todo desmantelamento pode voltar ao lugar, e toda quebra no acabamento pode ser refeita.
Afinal, não se diz que somos como o “cristal nas mãos do oleiro”, mas sim que devemos ser como o barro, posto que assim é natural, visto que barro é o que todos somos.
Ora, o cristal não conhece a humildade de refazimento que existe na natureza do barro mantido em umidade em movimento.
Umidade vem de humos. Humor e Humildade também.
Humildade é para a alma assim como o barro mantido em movimento pelo amor. Esse é o humor do amor.
Casamentos de cristal são tão lindos quanto frágeis e sem a graça da cura para as quebras, e para as cicatrizes dos tombos e dos acidentes.
Casamentos de barro são sempre tão simples e limpos como o milagre da vida. Se houver a energia do amor que mantém o barro em movimento na roda da vida, e se houver umidade para mantê-lo em seu estado mais forte, que é o de quebramento, então o casamento barro sempre se renovará em fraqueza se estiver na roda do amor-vida.
Assim, calma!
Uma estranha com quem não se paga contas domésticas, não se divide tarefas cotidianas, não se discute os filhos, e que não nos conta tristezas, não nos embala ao som de preocupações, e com quem só se pode transar às escondidas — obviamente tem em si a força de atração da gravidade de Vênus endiabrada.
Mas a pergunta é: essa mulher existe? E se houver maturidade honesta, a resposta será: Só existe enquanto não for ninguém para mim. Só existe enquanto for minha idealização romântica e minha projeção fantasiosa e infantil.
Os dias são muito maus. Não vale a pena brincar de nada. Quem tem, veja se o que possui é sadio o suficiente para ser preservado, e, em sendo digno, que seja preservado com toda ternura, pois, saiba: as alternativas em geral são infinitamente piores do que aquilo que hoje você chama de “meus problemas”.
Também não ache que é fácil “dá umazinha ali na esquina”, com uma “pessoa amiga”, e que não haverá conseqüências. Sempre há. E mesmo as menores são muito ruins. A pior, todavia, é ficar acostumado. E digo: a maioria dá uma, dá duas, sofre aqui e sofre ali; mas logo começa a se acostumar, até que vira um cara tarado
Portanto, busque sua mulher em amor, e não alimente a monstra (rsrsrs), pois, ela vem tudo nada; e, de súbito, toma tudo, e se torna um fantasma imenso, dominando os pensamentos, dirigindo os sentimentos, e fabricando a realidade com as impressões da mentira, da paranóia e da amargura. Então você pensa que sua mulher é uma bruxa e que a outra é uma princesa. Mas é a agulha da bruxa da ilusão enfiando um encanto de engano em sua visão e em seu sentir.
É paz o que você quer? Então, é isso o que tenho a lhe dizer!
Nele, em Quem somos chamados à serenidade e à paz,
Caio
12/05/07
Lago Norte
Brasília