Caymães, caypays, cayfilhos, caycaios, cayeu, caytu, caynós,
Caymães… caypais… cayfilhos… caycaios
Há aproximadamente cinqüenta anos, Albert Camus publicou o seu livro “A Queda”, descrevendo a crise de princípios e valores que atingia sua geração. Camus adentra os meandros da natureza humana e retrata os efeitos nefastos de sua queda e progressão de cima para baixo.
A queda é parceira inseparável da nossa existência. É um animal impossível de ser domesticado. Afinal de contas, a lei de Newton permanece a mesma desde que o mundo é mundo. Em síntese, ela nos mostra que a força da gravidade atrai todos os corpos para baixo. Curioso é que desde os tempos de Babel que o homem insiste em fazer o seu caminho para cima; na contra-mão de sua própria natureza. Fomos então gerados para a queda? É claro que não! Não queremos ser fatalistas e, muito menos, fazer aqui uma apologia do erro. Contudo, não devemos nos esquecer que a queda é um dos métodos universais de crescimento e progresso humanos. Se não fosse assim, o psicólogo Thorndike jamais teria desenvolvido a célebre “Teoria do Ensaio e Erro” aplicada ao processo da aprendizagem. Coisa terrível é quando negamos nossa natureza falível e “inclinada para baixo”. Essa natureza habita o nosso ser e como “fantasma” do inconsciente nos atormenta dia e noite. Ela está ali para nos mostrar que a única via para o verdadeiro crescimento é a consciência da nossa pequenez e mediocridade. Portanto, não temos o direito de julgar a quem quer que seja por aquilo que fez ou pelo que dizem a seu respeito. Nos últimos anos, o Rev. Caio Fabio D’Araujo Filho tem sido submetido a verdadeiros “fogos purgatoriais” e a um linchamento público sem precedentes na história de líderes religiosos desse país. Hora é um comentário maldoso e leviano, hora uma notícia infamatória nos jornais. Na dimensão secular, Caio tornou-se o “prato do dia” por causa do trágico Dossiê Cayman e todo o seu histórico de contribuição social e trabalho para resgatar os que habitam na linha de exclusão caiu por terra. Na dimensão familiar, Caio enfrentou problemas conjugais que levaram ao desfecho da sua separação. Na dimensão eclesiástica, Caio perdeu o seu ofício pastoral. Que tragédia! Caiu tudo ao mesmo tempo! Entretanto, fico a pensar se não temos uma enorme “dívida de amor” para com o Caio e se não estamos nos portando como o único exército que atira nos seus feridos. Fico também a pensar se Caio é a única vítima desse “monstro” de vários tentáculos chamado “queda”. Creio que não! A próxima vítima pode ser qualquer um de nós! Afinal de contas, na espiral da queda todos caem: Caymães, caypays, cayfilhos, caycaios, cayeu, caytu, caynós, cayvós, cai…
Rev. Eurípedes da Conceição
Pastor da Igreja Presbiteriana da Tijuca