COMO É O CAMINHO DO VARÃO PERFEITO?
—– Original Message —– From: COMO É O CAMINHO DO VARÃO PERFEITO? To: CAIO FABIO Sent: Tuesday, May 24, 2005 7:14 PM Subject: O cálice de Jesus. Querido Caio, Em muitas cartas que vejo no “site”, sempre temos a “fragilidade psicológica humana” diante das tragédias, traumas, pressões, etc…, como um assunto recorrente; o que me faz lembrar de Jesus quando está no Monte das Oliveiras, pouco antes de ser preso, onde Ele ora ao Pai “…se possível afasta de mim este cálice”; mas Graças a Deus Ele conclui: “…mas que seja feita a Tua vontade”. Esse momento de Jesus é unicamente Dele; ou seja: somente Jesus seria capaz de tomar o cálice que estava proposto. Mas eu pergunto: através desse fato seria correto afirmar que um dos aspectos práticos da varonilidade perfeita em Cristo é também essa “saúde” psicológica, na qual o homem pode até chegar ao ponto de quase desesperar-se, mas acima de tudo confiar no que Deus lhe propôs, mesmo que seja a morte? em que nível nós estamos? Se puder responder, lhe agradeço muito e desde já um abraço e um ósculo santo, dos seus irmãos aqui de Goiânia. João e Carmiranda. ____________________________________________________________ Resposta: Meus amados amigos: Graça e Paz! Está Consumado! E, do ponto de vista de nossa justiça diante de Deus, nada há mais a ser feito que nos “justifique mais um pouco”. No entanto, no que tange a nós mesmos, há ainda tudo a ser feito; e esse tudo não é algo que aconteça para que Deus nos veja melhores, mas sim para que nós melhoremos para nós mesmos, e para o nosso próprio bem. Portanto, é porque está Consumado, que eu posso andar o caminho de tomar a minha própria cruz, e não fazer isso como auto-salvação, mas apenas como escolha da consciência que foi tomada pelo entendimento do Evangelho, e, assim, segue Jesus nos caminhos inevitáveis da Cruz. O discípulo tem que tomar a sua cruz porque não é possível ser discípulo se já não se está seduzido pela Cruz; de tal modo que tomar a sua cruz é como abraçar o maior amor, mesmo que seja aquele amor que a gente ama enquanto sofre, e sofre sem “dor” porque o amor tudo sofre sem se amargar. Paulo disse que “resta um sofrimento a ser cumprido na carne” daqueles que se identificam com a Cruz. Ora, para Paulo, crer na Cruz era equivalente a viver na Graça. Nesse caso, os sofrimentos na carne a se sofrer como complemento aos sofrimentos de Cristo, são as dores das perseguições pelo nosso compromisso com a vitória da Cruz e da Graça de nosso Deus, o que sempre nos põe no caminho da cruz, posto que a mensagem da Graça sempre provoca a surgimento de uma cruz bem adiante de cada um de nós; cruz essa que a gente pega porque a gente é povo da Cruz. Ora, isso implica em renuncia de algumas vontades; às vezes até da mais legitima vontade: sobreviver. Mas como tudo isso é fruto do amor, até a renuncia é romântica; posto que o coração rendido a Deus sente prazer em escolher o bem contra a possibilidade de fazer opção por um bem imediato, mas que acabaria impedindo um bem maior. Aí entra a renuncia! “Renunciar a tudo quanto tem” é, antes de tudo, uma coragem para ficar nu; e somente confiante na Graça de Deus; mesmo que isso, muitas vezes, signifique ser desvestido das coisas que nos eram mais preciosas, pois se fez a escolha pelo que é duradouro. A alma sadia não deseja a morte e não a teme. Pede para ser poupado dela, mas se necessário for, encara-a de frente. Não é sem angustia e desespero que as grandes renuncias são feitas. Pode-se, às vezes, até suar sangue. Mas as grandes renuncias são fruto de certezas incomunicáveis, porém, inabaláveis. Por isso, mesmo com muita dor, segue-se na direção do cálice. Nossa geração hedônica e devotada ao prazer, pensa que renuncia é equivalente a repressão psicológica. A repressão psicológica é a renuncia que foi feita em razão de algum código moral. Já a renuncia sadia é feita como fruto de uma entrega a um amor maior, e que é verdadeiro o suficiente para que se troque prazeres imediatos pela alegria do encontro com aquilo que se chama vida. Daí a repressão gerar pulsões contra o equilíbrio da vida; ao contrário das pulsões que decorrem da renuncia feita pelo amor, as quais colocam a vida ainda mais serenamente sobre o controle de sua própria consciência do que é bom. A maioria das renuncias feitas quando se tem a cabeça da religião, são renuncias que o Evangelho não demandaria como renuncia. A religião é a Mãe das Renuncias Neuróticas. As renuncias do Evangelho são renuncias à maldade, à vingança, ao olho por olho e dente por dente; ao descontrole que lança perolas aos porcos; à cobiça que idolatra o objeto do desejo ou da posse; à vontade de fazer o bem como auto-promoção; ao culto à imagem; ao poder malévolo do julgamento do próximo; e a tudo quanto não seja manifestação de amor e justiça. Ora, o que nós temos de sobra e prezamos de montão é justamente esse arsenal de “poderes e de direitos” que a religião nos concede e até estimula, enquanto o Evangelho nos demanda que os lancemos para longe de nós. Que difícil é essa escolha! Assim, antes de se dizer que se vai para a África servir a Deus, a pessoa deve ter a coragem de entrar na África de sua própria alma e contemplar esse tesouros do mal, e que nos são tão preciosos; e, em nome do amor ao que é bom e bem em Deus, renunciar a tais coisas; e, assim, ser por muitos visto como quem carrega uma pesada cruz, embora, ele próprio, não sem lágrimas, sinta que carrega sobre os ombros o doce fardo de possuir consciência; ou a mente de Cristo. Quanto ao “varão perfeito”, o melhor a fazer é pensar pouco nele, e viver o melhor possível como ele; sem, todavia, a preocupação de proceder de qualquer que seja o ‘bom modo’, apenas para parecer com ele—o tal varão perfeito; o qual sempre perde a perfeição sempre que julga tê-la alcançado. Com amor nada faz mal para a alma. Sem amor tudo faz mal a alma. Assim, Jesus também teria dito: Se alguém quer ser meu discípulo, negue-se a si mesmo; entregue-se ao amor; e siga-me. É a mesma coisa! Recebam meu beijo carinhoso! Nele, em Quem tudo é apenas uma só coisa, pois Deus é amor, Caio