COMPANHEIRO DE CAMINHO EM BRASÍLIA

—–Original Message—– From: COMPANHEIRO DE CAMINHO EM BRASÍLIA Sent: quarta-feira, 21 de julho de 2004 13:52 To: [email protected] Subject: COMO É BOM ESTARMOS JUNTOS…E ALGUMAS REFLEXÕES Suas mensagens da semana passada aqui em Brasília me abençoaram muito, aliás, como sempre também fui abençoado por seus livros e etc. Li ao menos dez títulos. O interessante é que Nefilim foi um dos que mais gostei. Talvez por misturar ficção, filosofia e psicologia; mas talvez, e principalmente, porque o li num momento de transição, no início de 2001, e acabei me identificando com o personagem. Tenho 35 anos, embora não pareça, e o ano de Dois mil foi para mim o pior ano de minha vida. Estava submerso num abismo depressivo sem fim, fruto de minhas próprias complicações e de vulcões não extintos que entraram em erupção naquele ano. Eu havia me perdido em 2000, e havia perdido comigo mesmo muito da alegria de ser cristão, e muito de minha fé também. Estava cheio de grilhões, de mulheres me culpando ou se vitimizando (fruto do que eu mesmo havia plantado), de situações mal resolvidas, e, no final do milênio, abri falência. Minha única alternativa foi viajar para mim mesmo e me reencontrar com Deus de uma maneira mais profunda, mais consciente. No final do ano viajei para o litoral do Estado do Rio ( pro lugar onde fui criado), e depois de 17 anos sem ir pra lá, acabei reencontrando lugares perdidos em minha memória e tantas outras coisas que deram a essa viagem um clima especial de “renascimento”. Numa breve viagem ao Rio, para passar o reveillón, encontrei seu livro “Nefilim”, numa livraria do Barra Shopping, e voltei pra praia. Senti-me o próprio Abellardo Ramez II, voltando pra sua terra Natal a de fim se reencontrar. Depois de ler o livro, me interessei por Jung (que é citado) e adorei conhecê-lo. Sou formado em Direito, embora minha paixão e aptidão principal seja música. Mas, como o sr., também me interesso por muitas outras coisas, e nesse meio tempo li muitas coisa de filosofia, psicanálise, psicologia, astronomia e até auto-ajuda (sem preconceito), como a “Síndrome de Peter Pan”. (O texto que mando em anexo foi escrito nessa época) Estava valendo qualquer coisa que eu sentia que pudesse me ajudar. O Novo Testamento ecoou em mim como até então jamais o tinha percebido. Todas essas leituras abriram caminho para um amadurecimento inevitável, embora tardio. Decidi amadurecer. Sim, decidi, pois toda a demanda para isso já estava latejando em minha alma, e a cura veio a galope. Eis o texto: “FILOSOFIA INCIDENTAL Estamos presos na dualidade: Devemos ser tudo o que precisamos ser ou simplesmente o que queremos ser? O que queremos ser coincide com o que precisamos ser? Se não for assim, há um conflito ético em andamento ou uma indolência em amadurecer… Devemos trilhar o caminho da resignação, que apregoa a mortificação do eu dia a dia, ou simplesmente devemos descansar, aceitando profundamente o que somos, com todas as implicações desse fato, sabendo que nada do que fizermos ou pensarmos mudará a essência do que somos? Dessa forma, estamos num limbo filosófico, presos em algum lugar entre a estética e a ética. A estética nos induz a acreditar naquilo que está frente aos nossos olhos e a viver o momento. O prazer e as sensações são o que importa, ao tempo em que nos reduz (a estética) a uma massa disforme e impessoal, tornando-nos aquilo que for mais aceitável perante a sociedade. Já a ética nos impele a tomar decisões e fazer escolhas dia a dia, baseando-nos em padrões morais e no auto-conhecimento. A ética prega um senso maior de responsabilidade para com os outros e para conosco mesmos. Todavia o mundo em que vivemos não é a rigor estético? Tudo o que sabemos e somos não é a soma das informações que recebemos por meio de estímulos, sentidos, e de toda essa parafernália sensorial que pode ser facilmente considerada como a matriz do universo que conhecemos? O problema em entender-nos puramente estéticos é descartar a problemática da limitação dos prazeres. Aceitar-nos apenas, ou principalmente, estéticos é negar o universo alheio, é “coisificar” nossa humanidade e nivelar-nos a objetos ou animais. Afinal, as coisas existem apenas para nós ou existem para os outros também? Dentro desse contexto, devo ser mais humano ou mais eficiente? Mais prático ou mais teórico? Mais objetivo ou mais subjetivo? Quem tem a síntese perfeita entre produtividade e compaixão? Quem pode, neste mundo esteta e competitivo, ter amor incondicional? Nossa objetividade e necessidade de produção tende à desumanização, e nossa subjetividade humana pode ser disfuncional neste século, tornando-nos párias . Tal conflito e a noção de que estes extremos existem acenam com um desalento assustador, pois, afinal, o que tenho de ser? O que quero ser? A idéia de mascarar-me e “simplesmente existir” transgride meu pensamento, pois é absolutamente impossível desentranhar nossas questões. Não há como fugir da própria complexidade. O mais viável parece ser “existir complexamente”, ou em um nível de desfaçatez que nos permita um convívio não alienado. Entretanto existe um projeto mais avançado de humanidade. Esse projeto percorre a percepção de que a mais sincera auto-aceitação que podemos ter de nós mesmos inclui uma “incompletude” incurável e visceral. Não existe como teorizar sobre tudo e todos a ponto de formular milhares de conceitos sobre as coisas e viver da aplicação deles no mundo fático. A teoria pura perde força frente à prática. Não há uma filosofia que explique e abrace tudo e todos bem como não há uma física que abarque todos os universos. Acreditamos que parte desse desejo de definir ou ordenar o cosmo seja fruto de ansiedade. Uma natural (e humana) falta de habilidade de lidar com o que não está sob nosso controle, por assim dizer. Uma alma impregnada desse esteticismo doentio possui tais características. Apavorar-se frente à adversidade, por exemplo… Além do mais, ser de todo estetas priva-nos de enxergar a outros, e andar inadvertidamente por sobre o terreno alheio, invariavelmente, prejudica a sanidade e a saúde. Por outro lado, ser de todo éticos priva-nos de existir nesta dimensão material e tende, com o passar do tempo, a ficar cansativo e impraticável. Sendo apenas estetas, o hedonismo não conhecerá fronteiras. É tênue a linha entre a fome de viver intensamente e a insaciedade suicida. Acreditamos que cada um de nós recebeu uma parcela dessa fome, mas cabe a nós não deixá-la ditar o andar da carruagem de nossa existência. O desejo impossível (por que não dizer “pecado”) existe, mas cumpre-nos dominá-lo. No entanto, se fôssemos apenas éticos, estaríamos num processo de negação insuportável e dissimulado, o que, dada nossa materialidade, ruiria com o tempo, levando consigo nossa natureza voluptuosa e imergindo-nos numa depressão sem fim. Acreditamos ser impossível (nos padrões humanos, e não nos espirituais) encontrar as doses certas de cada maneira de ser e proceder. A bem da verdade, estamos em franca reconstrução nesta virada de milênio – e aqui não cabem teorizações sobre o passado ou pensamentos positivistas sobre o futuro. Apenas uma profunda aceitação do que somos e do que vamos fazer disto, hoje. E por que, mesmo depois desta explanação toda, ainda resta uma inquietação sobre a eficiência deste texto? Muitas vezes, esta “derrapagem” cerebral apenas espalha idéias por todos os lados, permanecendo-se no mesmo lugar e sem uma finalidade determinada. Reconhecemos, entretanto, que muitas destas idéias sem rumo podem unir-se às idéias alheias; e é desse ajuntamento e dessa celebração da diversidade que nascem as descobertas e a evolução do pensamento coletivo. Pronto, aí está. O senso estético nos induz a querer desfechar brilhantemente, mas desta vez não vamos obedecê-lo. Com o fim de retratar nossa complexa “desinteireza”, façamos questão de não externar frases conclusivas, pois hoje elas seriam apenas de efeito. André Barcellos, 11/01/2001″ Foi também no final de 2000 que encontrei muitos amigos maravilhosos. Já caminho com um deles, que é seu amigo, há uns três anos e meio, e pra mim vocês vão se dar muitíssimo bem trabalhando juntos. Ele me ajudou muito, com um interesse desinteressado (eu era de outra igreja na época) e um amor e paciência raros de se ver. Pastor Caio, ele é um tesouro de Deus, uma jóia de amigo. É um homem espiritual, verdadeiro homo pneumático. A princípio é uma criatura tímida, até certo ponto. Uma “pomba” à flor da pele, mas prudente como serpente, como recomenda a Bíblia. Hoje em dia somos mais que amigos, quase irmãos. Jogamos tênis juntos toda semana e viajei duas vez com ele e a esposa para Angra dos Reis. Eu o ensinei a jogar tênis e a pescar, e ele me ensinou a andar no Caminho. De certa forma, eu apresentei a ele um mundo menos “monástico”, e ele, com muita sabedoria, me ajudou depois a caminhar com minhas próprias pernas. Depois de um tempo, saí da minha igreja, onde não era respeitado como ser humano, apenas como instrumentista, e fui trabalhar com meu amigo pastor. Minha vontade desde então é somente servir, e entregar as dádivas que tenho recebido. Minha cura foi relativamente rápida, do ponto de vista terapêutico, mas na verdade foi milagre de Deus em mim. Obviamente a cura se estende por toda a nossa vida, mas isso não nos impede de andar, não é verdade? Há uns dois anos o pastor me deu “alta”, e nesse meio tempo já fui promovido no trabalho, onde estou há 11 anos. Casei há quatro meses, com o pastor amigo como celebrante. Veja bem, aproximar-me de Deus não teve nada a ver, diretamente, com as bênçãos profissionalmente recebidas. Mas a cura, operada por Deus e em Deus, me tornou uma pessoa de grande capacidade relacional, sem medo de encarar os desafios da vida e com concentração para me submeter a fazer toda espécie de coisas. Em outras palavras, não sou mais o “artista neurótico” introvertido e narcisista que era, mas uma pessoa que sabe que a cada metro ou dois na estrada, os problemas aparecerão, mas meu caminho hoje é outro, sem negociar minha cura com ninguém. Porque estou aproveitando para falar do nosso amigo pastor? Porque sei que o sr. vai conhecê-lo, e tenho certeza de que suas impressões serão as mesmas. Quanto a mim, já me sinto íntimo seu há muito tempo, embora não seja. Torço apenas para que o tempo apresse seus efeitos e possamos comer o quilo de sal no tempo em que se comeria meio (risos). Com mais para o momento, mas sem tempo para tal, despeço-me aqui, na esperança de ser lido e entendido. Na paz e no amor de Cristo, ____________________________________________________________ Resposta: Meu querido amigo e companheiro: Deus sabe como estou feliz com tudo o que ele está fazendo, e com o grupo lindo que Ele está reunindo aí em Brasília. Meu coração testemunha de que você diz a verdade. Nele, Caio