CONFERINDO COISAS ESPIRITUAIS COM COISAS ESPIRITUAIS



—–Original Message—– From: Marcello Cunha Sent: quarta-feira, 14 de julho de 2004 15:18 To: Caio Fábio Subject: Conferindo no Espírito: coisas e coisas… Amigo Pastor! Teu povo é meu povo, teu Deus o meu Deus! Minha alma se apegou a ti, em Cristo. Louvo a Deus pelos fragmentos de relacionamento que posso ter contigo, através de alguns e-mails que me respondeste, e centenas de artigos e cartas que li neste lugar virtual tão virtuoso! Esses fragmentos de vida já me fizeram transportar grandes montes na vida! Algum tempo atrás o senhor respondeu a um e-mail meu que perguntava sobre possessão maligna. Ao final disse que poderia falar mais sobre o assunto em outra oportunidade se lhe escrevesse outra vez. O senhor falou sobre possessões que podem ser das mais leves até as mais entranhadas…como é isto? O endemoninhado gadareno vivia como um “autista” ou como um voluntário crente na identidade que a “entidade” lhe ensinou? Pode não ter muito a ver com isto, mas também gostaria de saber: como o Dom Pastoral se apossou do senhor? Ou foi o senhor que se apossou do Dom? Acho que li algum comentário seu dizendo que não passou pelas cadeiras de um seminário teológico. É isso mesmo? E esse conhecimento da alma humana? De onde vem? Fizeste alguma faculdade? Bem, de qualquer modo, é inegável que tens essa faculdade! Aproveitando que já estou viajando mesmo… Mais uma coisa: Que coisa linda o fato de Jesus virando semente e fecundando Maria, hein? Que coisa louca Deus se tornar embrião… Sonhar com os anjinhos na barriga da mamãe, como diz o folclore popular… Depois… choro de menino, sorriso de menino, todas as coisas próprias de menino… Tudo isso sendo Deus, que se tornaria Senhor! Tenho des-cobrido mais e mais, que Ele é Deus não pelo poder que tem, mas porque que não há nenhum outro tão amor, tão fiel, tão amigo, tão obediente, e tão crente como Ele! Há uma musica que eu amo, que diz: “Eu não conheço teu rosto, mas te re-conheço em todo lugar… Nunca toquei em tuas vestes, mas sinto o teu perfume no ar… Não sei como é a tua voz, mas o som dela me guia.. Eu não consigo viver sem você, na minha vida! Que amor é esse, Que se move dentro de mim? Me alcançou com perdão, Intensamente me atraiu… Impossível ficar distante desse amor que nos cerca… Eu amo… Eu amo… Eu amo te amar Senhor!” Pastor, o teu trabalho no senhor não será vão! Os campos já estão preparados para a ceifa de Deus! As ovelhas de muitos outros apriscos ouvirão a voz do Bom Pastor e o seguirão! Sim! Essa é a garantia do Meste: Elas o seguirão, pois re-conhecerão a voz do Pastor delas! Essas ovelhas não dão ouvidos a estranhos… Esse rebanho vive o cumprimento da promessa que diz: “Eis aí vem dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito, pois eles não continuaram na minha aliança,e eu não atentei para eles, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Nas sua mente imprimirei as minhas leis, tambem sobre o seu coração as inscreverei, e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão dizendo: conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Pois com as suas iniquidades usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Hb 8:8-12) Pastor, a tirania dos cães que dilaceram o rebanho de Deus terá fim! Ninguém mais se porá entre Deus e seu povo! Essa insuportável Besta que se chama de igreja, sendo totalmente anti-cristã na essência, será derrubada de uma vez por todas! Aí virá o Renovo de Deus! Aquela multidão de remidos que lavaram suas vestiduras no sangue do cordeiro de Deus, imolado antes da fundação do mundo! Por enquanto o ministério da iniquidade, que já era um embrião na época de Paulo, ainda opera…é ferido mortalmente…levanta…impressiona a muitos… que o seguem… Mas em tempo, Deus levantará o remanescente, que virá com o Cordeiro vencendo para vencer! Nunca mais o sangue dos profetas clamará da terra! O comércio maldito que sobe como aboninação diante de Deus, e enriquece a muitos, terá fim! Os mercadores prantearão revoltados!!! Então os céus, a natureza, os santos, os apóstolos e os profetas de Deus exultarão, quando Deus julgar essa causa! Isso quando a voz de harpistas, músicos, artistas e feiticeiros dessa grande meretriz se calará, e sua cidade edificada for aniquilada de vez! Aqueles nos quais a boca é cativa do inferno e do diabo, de tanto que os apregoam, terão o inferno e o diabo por herança. E os moradores da rua-caminho entrarão para as bodas do Cordeiro. E isso tudo em uma hora…. Desde já o Espírito e a Noiva dizem: vem Senhor Jesus! MARANATA! Viajei muito meu pastor? Se puder, responda-me… Um beijo! Em Cristo, profundidade da riqueza e conhecimento de Deus. ____________________________________________________________ Resposta: Querido amigo Marcello: Paz, muita paz e contentamento! Ler suas cartas é sempre um grande prazer. Maior prazer é perceber seu crescimento no Senhor e no amor ao Reino. Você me fez algumas perguntas, e tentarei respondê-las com simplicidade e objetividade, já que algumas delas são em-si material que demandaria tempo para expandir e fazer jus à questão. Mas vamos lá assim mesmo. ____________________________________________________________ Algum tempo atrás o senhor respondeu a um e-mail meu que perguntava sobre possessão maligna. Ao final disse que poderia falar mais sobre o assunto em outra oportunidade se lhe escrevesse outra vez. 1ª O senhor falou sobre possessões que podem ser das mais leves até as mais entranhadas…como é isto? Resposta: Possessões leves, por incrível que pareça, são aquelas contraídas em cultos e rituais. Nesse caso, quando a Palavra é ministrada, em geral, a pessoa manifesta o espírito. Ora, em minha experiência, essas possessões são menos arraigadas, visto serem de “hora marcada”. A pessoa, em geral, só fica possessa quando invoca. Portanto, quando “manifesta” sem ter invocado, mas por ter sido “provocada pela Palavra”, a saída do espírito é rápida, e demanda apenas a confrontação. Na minha observação as possessões mais renitentes são de dois tipos: a não invocada, e que acomete a pessoa “do nada”. E a possessão de um “estado psíquico demoníaco”, porém, auto-fabricado pela identificação da pessoa com a “imagem” do demônio. As possessões “do nada” são do tipo que vi muito no Amazonas, mais do que em qualquer outro lugar. E elas se tornam renitentes porque, na maior parte das vezes, a “habitação do espírito” acontece de modo longo, e muitas vezes é confundida com um estado de “doença mental”…e vai se arraigando. Nesse caso, a possessão acaba por gerar profundas disfunções psíquicas no indivíduo, e o arraigamento dela acontece pela vida dessa simbiose entre o indivíduo e a possessão. Nesse casos—ou castas—o tratamento tem que ser paciente e com longanimidade, e, na maioria das vezes, não se deve nem “falar com o espírito”, mas apenas ir chamando a pessoa de volta. A possessão invocada normalmente sai rápido. Mas essa outra, pode levar dias, até que a pessoa vá saindo, e nos lampejos de sua consciência, ela vá recebendo entendimento, até que a consciência assuma outra vez. Já no terceiro caso, o da possessão de um “estado psíquico demoníaco”, porém, auto-fabricado pela identificação da pessoa com a “imagem” do demônio, a sutileza é tão grande que a tentativa de expulsar o “demônio” apenas reforça a enfermidade de identificação do individuo com a imagem da qual ele, inconscientemente, se apossou. Ou seja: é uma possessão ao contrário, pois é o indivíduo quem se apossa da “imagem psíquica” de uma possessão. Nesse caso, são pessoas que possuem auto-imagem muito adoecida, e que sentem necessidade de “justificar” suas “feiúras”—segundo sua auto-percepção—com o álibi do diabo. Como tenho dito, psicologicamente, a figura do diabo cumpre muitos papéis nas vidas de muita gente. Eu acho este terceiro caso muito mais difícil, embora a cura seja certa, pois demanda cuidados muito grandes, a fim de não aceitar e nem reforçar a demonização auto-fabricada. E a tentação é grande, posto que se “parece” muito com uma possessão real. Mas quem está ajudando no processo de cura não pode cair na armadilha de lidar com um demônio; ao contrário, ela precisa insistir na relação com a pessoa, e jamais aceitar tratar com a “criação demoníaca” que a própria pessoa fez a fim de se esconder, chamar atenção, ou se justificar como sendo definitivamente incapaz de viver uma existência normal. 2ª O endemoninhado gadareno vivia como um “autista” ou como um voluntário crente na identidade que a “entidade” lhe ensinou? Resposta: Na minha opinião temos ali um fenômeno dos mais complexos. No meu livro Batalha Espiritual eu falo do vértice de fenômenos que podem ser percebidos naquele caso. Penso que ele começou leve, e cresceu com os anos. Até se tornar o que se tornou. Digo isto porque vejo aquele homem carregando muitas possessões: 1) uma espiritual; ou seja: ele ficara possesso de uma legião de espíritos; 2) ela carregava, como para-raio, as demandas e revoltas acumuladas do inconsciente coletivo de muitas gerações—o nome da cidade (geresa) vem da raiz de uma palavra que denuncia “habitação forçada”. No caso da comunidade de Geresa ou Gadara isto tinha a ver com trezentos anos de ocupação forçada—gregos, seleucidas, ptolomeus, seleucidas outra vez, judeus, e, por fim, as legiões romanas estavam lá. Toda sociedade oprimida precisa de monstros e possessos, que cumprem o papel dos loucos que exprimem todas as frustrações e medos de todos, só que de um modo explicito. Daí os moradores da cidade manterem uma relação de “co-dependência” com o gadareno, visto que construíam cadeias “para serem quebradas”—se se quiser, pode-se construir cadeias e grilhões que nenhum possesso pode quebrar. Ora, eles também o alimentavam todos os dias (o homem não morria de fome). Ou seja: o homem era o único ser livre da cidade, e, portanto, alguém que podia expressar, pela loucura, aquilo que ninguém podia dizer. 3) Além disso, o homem também expressava os poderes espirituais que naquele lugar se fundiam de muitas maneiras. Prova disso é que os demônios “rogaram a Jesus que não os mandasse para fora do país”. Ou seja: eles pedem para não serem removidos do estrato cultural no qual também tinham feito a sua habitação. Quando Jesus libertou o individuo, quebrou toda a cadeia daqueles poderes, indo da dimensão existencial—o individuo—à todas as demais camadas de poder implicados na questão, e que naquele homem faziam o seu vértice. O maior milagre ali foi o homem ter “voltado” por inteiro, e sem as demoras de readaptação que em geral vemos acontecer quando o “bolo” dimensional é tão complexo como era aquele caso. 3ª Pode não ter muito a ver com isto, mas também gostaria de saber: como o dom pastoral se apossou do senhor? Ou foi o senhor que se apossou do dom? Resposta: Primeiro ninguém se apossa de nada quando se está falando de Deus. Dom, é dádiva, é graça, é favor divino, é livre escolha de Deus, e, como é Graça, é favor imerecido. Segundo, nunca pedi a Deus nada além de discernimento, perseverança, paixão e poder no ensino da Palavra. Esta sempre foi minha oração, desde garoto de 18 anos, quando comecei a pregar. Meu pai dizia: “Peça discernimento e sabedoria”. Eu pedia em jejuns e orações. Mas sei que só pedia porque era isto que já estava em mim. Ou seja: em oração eu apenas reconhecia os dons. À medida em que você amadurece e pratica, os dons vão crescendo em você, mas tudo parte da mesma semente essencial, e cresce em conformidade com sua própria natureza em você. 4ª Acho que li algum comentário seu dizendo que não passou pelas cadeiras de um seminário teológico. É isso mesmo? Resposta: É verdade. Eu nunca cri que Deus me quisesse em nenhum seminário, e nunca senti necessidade, até o dia de hoje. A maioria esmagadora das vezes em que entrei em seminários foi para dar aula ou falar como “orador de formaturas”. Também já dei muita aula para professores de seminário, dentro e fora do Brasil, pela América Latina, e também na Inglaterra e na Austrália. Sem falar que passei a vida toda ministrando, também, para pastores e líderes. 5ª E esse conhecimento da alma humana? De onde vem? Fizeste alguma faculdade? Resposta: Não! Todos os títulos que possuo foram “honoris causa”. Como nunca me formei, nunca me senti formado. E como desde menino eu vi que a teologia não ajudava muito, fui cada vez mais lendo outras coisas. Meus interesses são múltiplos. E meu pai sempre me disse que quem lê e pensa, pode andar sozinho, e com a liberdade de não se condicionar pela pequenez das “escolas do saber”. Assim eu vou…e sempre vou fazendo minhas próprias sínteses. De fato, tudo o que penso ou leio só fica em mim se eu encontro significação de vínculo com a Palavra. Tudo o que leio, faço-o conforme a consciência da Palavra em mim. ____________________________________________________________ Bem, espero ter podido dar alguma informação útil a você. Receba meu carinho. Nele, em Quem estão todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, Caio