Nós não hesitamos quando tivemos a oportunidade de pular de cabeça na morte. “No dia em que dela comeres, morrendo, morrerás”—era a sentença. Mas estendemos a mão e comemos do fruto do Conhecimento do Bem e do Mal. Caímos, e continuamos a cair…mas não desistimos de existir e nem de tentar reinventar a vida…como pudemos até aqui.
Fale de mim e da espécie humana!
A existência humana acontece como risco o tempo todo. Acontece como vertigem da queda. A morte é certa e o risco dela é inafastável. Eu posso simplesmente não ser capaz de terminar esta frase. Meu coração pode parar agora, ou meu cérebro pode colapsar.
Mas assim mesmo eu vivo como se isto não existisse, e tento lidar com cada coisa como se elas tivessem valor eterno. E com isto também admito que sempre existi de modo muito arriscado em tudo o que fiz, e que me sinto um representante dos seres humanos caídos que sabem que, a seu modo, tomaram do fruto, e comeram deliberadamente, apesar de temer os riscos.
Ora, existir é assim, em entrega a morte todo dia, o dia todo…tão frágil é minha existência mortal.
Acontece que essa morte se me tornou em única existência real. Desse modo, passei a tentar viver a morte como se fosse vida. A eternidade precisava caber no tempo, pois tempo era tudo o que eu tinha.
Então encontrei a morte e dela fugi. Ela colocou virado para a Face da Vida. Vi Jesus e o segui. Parecia impossível imaginar coisa diferente. Ele me fascinou. Mas foi no caminho com Ele que comecei a descobrir que eu só poderia experimentar alguma coisa em Deus se eu tivesse a coragem de simplesmente me entregar a Jesus assim como eu andava cada passo desta existência sem pensar na morte. A diferença é que em Jesus o convite era para saltar para vida, embora soasse como um convite à morte.
Descobri que leva tempo entre acreditar em Jesus, crer em Jesus, confiar em Jesus, e se abandonar em Jesus. E a gente só vai vencendo essas etapas quando nossas cordas de segurança vão se rompendo em nossa tentativa de ajudar Deus no caminho ou na escalada, conforme preferimos pensar em nosso caminho com Deus, uma obra de alpinistas.
Somente quando todas as cordas se rompem e você começa a cair em queda livre, sem nenhum amparo, e em total ausência de justiça própria, é que ou você se abandona Nele, ou você não sobrevive à tentativa de manter os olhos abertos durante a queda, e, então, tenta se distrair com a existência, embora eu saiba que jamais conseguiria me distrair por muito tempo com nada.
Jesus diz em João 7:17: “Se alguém quiser saber se meu ensino é a verdade, e se fui enviado pelo Pai, então, faça a vontade de Deus e creia em mim, e, então, você saberá se meu ensino é verdadeiro ou falso”.
Jesus está convidando os que comeram do fruto que implicava em morte para que pulem de cabeça na entrega total. Quem pulou apesar da certeza da morte não pode alegar temer pular para a promessa da Vida.
Ora, a ênfase de Jesus era em que quem se entregasse ao ato existencial de fazer conforme o ensino da Vida em Jesus, tal pessoa iria experimentar a Verdade como Vida. E Ele estava dizendo que esta era a única maneira de alguém conhecer a Vida, pulando nela de cabeça. Pois se essa pulsão operou para a morte, e nós comemos do fruto, por que não deve operar agora a fim de mergulharmos com confiança na Vida que é?
Quem comeu do fruto que prometia a morte, e achou que valia a pena correr o risco, é hoje convidado a pular de cabeça na Vida, mas só saberá se é Verdade se tiver coragem de o fazer.
Ele disse: “A minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida”. O convite nas dimensões profundas do ser é para comer carne e beber sangue, é para comer da Árvore da Vida.
Então aparece a ilusão do tempo, e dizemos a nós mesmos que a única vida que existe é esta que está disponível aos sentidos e às vaidades que se impõe como tiranias. Então, ficamos com medo, e preferimos a certeza da morte ao risco certo da certeza da Vida.
No fim a gente acaba tendo que lidar com a Entrega à Vida—mesmo que o convite seja para pular de cabeça e sem ver nada, ou mesmo que seja o convite para se atolar em carne e sangue na Árvore da Vida—, simplesmente usando as palavras singelas do salmista: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e o mais Ele fará”.
Confie, e pule!
Caio