Da Boca de Taxista Procede Louvor!
Acho que ninguém ignora aqui neste site que eu adoro um papo dentro de um táxi.
É rápido.
É visível.
É intenso.
É descomprometido.
É humano.
É franco.
Ninguém deve nada a ninguém.
Um paga.
Outro recebe.
Todos lucram.
E pode-se até fazer uma terapia…
Quando um chega, o outro sempre ganha.
É um grande negócio!
Pena que paga tão mal!
Muitos me reconhecem quando falo; dizem: O senhor tem a voz do Caio Fábio…
Outros dão uma olhadinha a mais no retrovisor, e perguntam se eu sou eu mesmo.
O senhor tá diferente!—dizem sempre.
Mas há muitos que parecem desejar não ver você, e nem desejar ser vistos. Esses, ou viajam em silencio, ou são ótimo papo.
Alguns foram conduzidos por anjos; ou os conduziram; e nunca ficaram sabendo…
Ontem eu estava com um desses.
Voltava de Niterói para o Rio.
O taxista era negro, belo, cabeça branca, digno em gestos, sereno em presença.
QUE DEUS ESTEJA NESTE LUGAR!
Dizia um adesivo plástico tipicamente evangélico, e que estava pregado sobre o porta-luvas.
Eu perguntei: O senhor é evangélico?
Não, não sou não senhor! Mas lá em casa tenho uns que são. De vez em quando eu vou a igreja. Mas não foi por eles que eu botei o plástico, não. Foi porque eu gostei. Fala de Deus neste lugar. E é assim que eu creio em Deus. Ele está aqui nesse lugar. E abençoa a todo mundo!
Achei uma delicia a resposta do homem.
Sentei gostoso e pensei: Graças a Deus estou em excelente companhia!
Toquei a bola pra frente.
Estimulei-o a falar.
Gosto de ouvir sem a obrigação de responder.
No ministério cristão, todo mundo que ouve tem que responder.
Cansei disso faz muito tempo.
Hoje só falo o que falo. E falo do jeito que vem, com todas as liberdades e espontaneidades do momento.
Aí você sente que não está nem sendo sutil na evangelização.
Sabe por quê?
Porque não tem nem mais este assunto.
Desse modo, eu faço muito mais evangelização com evangélicos, do que com muita gente que eu sei que em Deus já está pacificada.
Com esses a boa nova vem como sempre vem: boa e nova.
E você não tem uma agenda e nem uma obrigação. Você apenas interage em graça de vida. E, pode até fazer como Priscila e Áquila, que melhor instruíram a Apolo. Mas sem neura nenhuma.
Em geral tudo viaja por dentro da Palavra, mesmo que o tema seja mulher, gay, política, prostituição, economia, laser, cultura, negócios, falências, futebol, corrupção policial, fofoca de passageiro importante—enfim, tudo chega no mesmo lugar, e sem que se busque chagar lá.
Até o tema da “igreja” não atrapalha que se chegue lá.
Simplesmente chega!
O homem então me disse porque ele não ia muito a igreja, apesar de viver em fé.
— Vou dizer pro senhor. Eu gosto de tomar uma cervejinha. Vô lá e eles dizem que eu não posso isso, num posso aquilo…Eu vejo eles viverem. É todo mundo cheio de intriga. É pastor competindo com pastor. Todo mundo só fala em dinheiro. Ouço uns pastores dizerem que quanto mais a pessoa dá, mais dinheiro Deus dá. Eu fico pensando: Que Deus será esse? Não tenho as respostas. Mas sei que sei a verdade. Eu falo com Deus. E não é possível que ele seja pior que a minha consciência. O senhor acha que Deus não é parecido com a consciência da gente?
Eu delirei.
Então falei que era por essa razão que as pessoas na “igreja” estavam tão doentes.
Elas agem o tempo todo contra a consciência, violentando a consciência a fim de seguir mandamentos perversos de homens adoecidos, e que lhes são pregados como se fosse a mensagem do Evangelho.
Contei pra ele algumas histórias do Evangelho.
Falei da mulher adúltera, de João 8, e disse como Jesus fez os homens exercitarem a consciência ali. Eles foram acusados pela própria consciência.
Depois mencionei a questão do sábado, e de como Jesus violava o sábado por uma questão de consciência. Não fazer o bem somente porque o dia era o sábado aviltava a Sua consciência.
O Filho do Homem é Senhor do sábado porque o Filho é Homem.
E a consciência do Filho do Homem prevalece sobre qualquer mandamento exterior.
O amor não transgride nunca!
Chegamos em Copacabana.
Ele disse: E eu ainda vou receber por uma corrida dessa!
Respondi: E eu paguei tão pouco por pra ter sua agradável companhia!
Subi, e fiquei pensando em como é impressionante o que as pessoas fazem, em nome de Deus, o tempo todo–um monte de coisas contra a sua própria consciência!
Quantas decisões perversas!
Quantas intromissões malignas!
Quantas obrigações de hostilidades não desejadas de serem praticadas!
Quantas opiniões não cridas!
Quantas “certezas” cheias de certeza acerca da total incerteza da “certeza”: mas ditas como “certezas” totais assim mesmo!
Quantas ações de impiedade praticadas como zelo!
Quanta falta de misericórdia escondida atrás de tanta inveja!
Quanta santarrice servindo de tapume pra tanta tara!
Quanto show pra Deus onde todo mundo sabe que o único deus sendo ali cultuado, é a divindade daquele pobre e inseguro coitado, que se arroga a ser quem não nasceu pra ser; mas que assume aquele papel pra poder se sentir melhor ante seu próprio juízo de mediocridade!
Ele é mais uma vitima da baixa auto-estima, e não sabe!
E continuei pensando outras coisas.
Quanta fixação sexual manifesta como comportamento pudico, e que de fato encobre pessoas sexualmente adoecidas, e que vestem saia grande pra esconder a grandeza de outra coisa!
Quanta capacidade de destruir o próximo com língua, e que se disfarça de voz profética ou ortodoxa!
Quanta frustração que vira vocação!
Tudo isto porque as pessoas estão sendo ensinadas a não ter consciência própria.
A lavagem cerebral está feita!
Na minha opinião a maior libertação que precisa haver hoje na Igreja Evangélica, é a da libertação desse estado de cativeiro, no qual a consciência de cada pessoa se colocou.
Sim! falo a cada crente, pastor, bispo, apóstolo, professor de seminário, seminarista, lider de convenção, dono de empresa, cantor, músico, missionário, funcionário de missões, etc…—sim, todo mundo tem que saber isso.
Vou repetir:
A maior libertação que precisa haver hoje na Igreja Evangélica, é a da libertação desse estado de cativeiro, no qual a consciência de cada pessoa foi posta.
Esse cativeiro é do Diabo!
Enquanto não tivermos uma consciência, não nos adiantará ter Bíblias.
Bíblias que são lidas sem consciência apenas nos farão mais duros; tanto quanto a Torá fez os judeus religiosos mais duros que os centuriões, os gadarenos, as siro-finícias, e os cornélios!
Se a fé em Jesus não nos gerar consciência, ela não terá nos libertado!
Enquanto as pessoas se submeterem a quem quer que seja, indo contra a própria consciência, não teremos uma igreja, mas apenas um bando de doentes, balbuciando imbecilizadamente o que nenhum deles crê, nem mesmo aqueles que os ensinam a crer.
O taxista tem razão.
Pra freqüentar um lugar desses, é melhor ficar na rua, domingo a noite, com um adesivo plástico generoso, e a espera de um papo humano; e melhor: ainda ganhar pela corrida!
Caio