De um Amigo Psicanalista!
—–Original Message—–
From: Amigo psicanalista
Sent: sábado, 23 de agosto de 2003
To: [email protected]
Subject: Igreja no Divã!
Mensagem:
Reverendo, admiro bastante a forma que você expressa suas opiniões, sem nenhum quê de religião…
Gostaria de lhe fazer uma pergunta.
De alguns dias para cá venho observando o comportamento de muitos dentro da igreja. Dessa forma estou, como pode se dizer, definhando na fé.
Pois observo as coisas com olhar analítico, e vou ficando cada vez mais assustado.
Percebo que muitos deveriam estar comigo, falando de sua “infância e de seus pais”..rs…
Como terapeuta tenho procurado fazer sempre uma checagem em minha fé para ver se estou sendo envolvido por influência do grupo; ou se de fato estou exercendo a fé genuína.
Isto tem me preocupado; não consigo me destituir de olhares analíticos quanto a esta questão; estou sempre avaliando as pessoas, mesmo sem querer…
Percebo que muitos cultos não passam de pirotecnias evangélicas…
Como devo portar-me? será que tenho que mudar de igreja? devo conversar com o pastor? e se ele não aceitar o fato?
Confesso que estou confuso quanto a este fato…reconheço que não se consegue levar uma vida em paz fora da presença Dele, mas a igreja em-si, que deveria ser um ambiente no qual eu poderia me aproximar, está, de fato, me afastando…
Por favor me dê o seu parecer quanto a isto…
Em tempo, preocupo-me em ir para uma igreja demasiadamente fria e me sentir desconfortavel.
Aguardo resposta.
Na certeza que o sangue Dele nos garante a vitória,
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Resposta:
Amigo Psicanalista: paz e terapia na Graça!
Obrigado pela confiança.
Tenho poucas coisas a dizer.
1. Você deve ter feito psicanálise depois de ser crente, pois, caso você tivesse feito antes de vir pra “igreja”, ou não viria, ou viria já vacinado. Seus conflitos me parecem tão infantis quanto infantil é a “igreja”; daí eu imaginar que você tenha feito psicanálise com um “pé atrás”; ou seja: estudou para o consumo dos outros, mas nunca aplicou o instrumento analítico a fim de ler o laudo técnico, que, na ficha da “igreja” está escrito: paciente sofre de Complexo de Onipotência; surta com alucinações messiânicas; angustia-se com neurose culposa; sofre de paranóia persecutória; e ostenta imensa necessidade de aparecer: provavelmente fruto de uma insegurança essencial ligada a figura do Pai.
2. A “analise” mais fácil de se fazer é a da “igreja” como paciente. O padrão da doença está estabelecido arquetipicamente pelo menos desde o ano 332 da era cristã. A “igreja” não admite quem é, mas também não consegue esconder.
3. O problema da “igreja” é com a figura do Pai; e também uma total não compreensão acerca do Primogênito entre os Irmão.
4. O Pai é visto como severo—que colhe o que não plantou; e ceifa o que não semeou.
5. O Primogênito é amado mais pelo nome e pelo ato heróico de Sua morte na Cruz, que pela compreensão do bem que Ele ali realizava por todos os Seus irmãos, os filhos de Seu Pai.
6. A doença da “igreja” é simples e complexa. Na simplicidade, eu diria que é falta de Confiança no amor do Pai. Ora, isso gera toda sorte de inseguranças e mecanismos de barganha. Assim, ela diz amar o Pai, mas não confia Nele; diz amar o Primogênito, mas não tenta imitá-lo.
7. Essa “paciente”, a nossa querida “igreja”, sofre desse mal horrível: falta de fé na Graça do Pai. Ela ainda não entendeu que na casa do Pai há muitas moradas, e que o Primogênito foi preparar lugar para todos. E, de fato não crendo nesse amor, ela recorre, pela total insegurança, a mecanismos de auto-afirmação.
8. Os mecanismos de auto-afirmação expressam-se como legalismos, modismos, fantasias, moralismos, e um surto freqüente de megalomania.
9. Não procure o pastor para falar de sua insatisfação. Ele colocará a culpa na Psicologia ou na Psicanálise; e nada mudará.
10. Aliás, um dos mecanismos psicológicos em freqüente operação no comportamento desse “paciente” é o mecanismo de transferência. Sem falar num outro mal horrível: a projeção. Transferir e projetar são seus vícios psicológicos mais rotineiros.
Portanto, fica aqui minha sugestão:
Procure um lugar onde não haja frescuras.
Chega de pudor.
Aquilo que é são, é são.
Aquilo que é doente, é doente.
E, em Cristo, os sãos, são os que confessam sua doença.
E, também em Cristo, os doentes, são os que vivem de alardear sua pseudo-sanidade, enquanto fazem equivocados diagnóstico sobre a doença dos outros.
Então, não se preocupe com igreja quente e nem com igreja fria.
Preocupe-se com a igreja morna.
E a morna, conforme o Apocalipse, não é a equilibrada; é, antes de tudo isso, a igreja arrogante, auto-suficiente, e que se sente o “máximo”.
Se sua “igreja” se sente o “máximo”, o “mínimo” a fazer é buscar uma outra que celebre ao máximo a Graça de Deus.
E deve haver Bons Portos aí onde você está.
Se você puder, viste o Café. Veja o endereço aqui no Home do site.
Um abração,
Caio