DEIXEI DE SER EVANGÉLICO POR AMOR AO EVANGELHO!




From: Marcio Alexandre Bahiense da Fonseca

Sent: quarta-feira, 1 de setembro de 2004 15:13

To: [email protected]

Subject: Clero – Idade Média

 

Oi Caio,

 

Eu sou aquele jovem que não sabia se era mais evangélico, a quem você respondeu e mandou um glorioso glossário.” NÃO SEI SE AINDA SOU EVANGÉLICO…E FAZ DIFERENÇA?”

 

Rev. Caio Fabio, tenho acompanhado seu site diariamente. Não tenho mais dúvidas – não sou “evangélico”. Cansei de ir contra a minha consciência em Cristo. Engraçado, estou em paz, sem culpa. Também sem ressentimentos. Não quero converter meus irmãos evangélicos.

 

Há tempos tenho uma percepção que se confirma a cada dia (o seu site só reforça essa idéia): estamos vivendo o retorno da Idade Média.

 

O que a Igreja Católica foi, os evangélicos querem ser. Veja-se a hierarquia na igreja – apóstolos; bispos. Veja-se as categorias jurídicas com que se pensa a fé – sacrifícios; autoridade.

 

Talvez, se atentássemos mais para a história, poderíamos voltar a pensar de maneira crítica.

 

Eu sei que você já tem dito que esse filme você já viu. E eu pergunto: qual será o fim do filme?

 

Pra terminar, o desespero é o grande aliado desses líderes. Eles se utilizam da fraqueza humana.O desespero econômico, o desespero familiar é o solo onde crescem essas plantas canibais – vale a contradição.

 

Bastaria a fé na bondade de Deus, bastaria fé na Palavra que afirma que Deus é amor, e esses homens teriam que arrumar outra forma de extorquir os desesperados.

 

Se puder, faça uma relação entre a Idade Média e o tempo em que vivemos. Servirá para o crescimento de muitos.

 

Um abraço,

 

Alexandre

 

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Resposta:

 

 

Meu amado amigo, Marcio Alexandre: Graça, Paz a Confiança!

 

 

Não farei o paralelo que você pediu por duas razões: primeiro porque já falei demais nisso; segundo porque basta olhar em volta, pois o cenário não necessita de paralelos no que diz respeito ao espírito da religião evangélica em relação aos conteúdos das crenças católicas da idade média. Com uma diferença: fora a impossibilidade da igreja mandar matar, as demais coisas de hoje são piores, pois hoje são feitas com “cara de poder de Deus”, com impressão de fé, com muitas aclamações, com intenso trabalho, com muitas concentrações de povo, com ardente desejo proselitista, com muito fogo e sacrifício, só que o fogo é estranho, e o sacrifício é blasfêmia contra a Cruz de Cristo.

 

Sim, a diferença é que eles, os da Idade Média, eram frios; e nós somos ardentes. O fogo, porém, que nos consume, não é do Espírito, mas é o fogo de nossas próprias vaidades.

 

No mais, os ídolos mudos dominaram a maior parte dos evangélicos, e o espírito da confusão e dos muitos deuses possuiu a quase todos.

 

O movimento que começou com a Reforma Protestante chegou ao fundo de seu próprio abismo. E os evangélicos são o mais pernicioso desses sub-produtos da Reforma, especialmente na sua versão mais recente, e de natureza neo-pentecostal.

 

Ora, conquanto historicamente o que eu aqui diga seja uma ofensa para os reformados, pois, negam-se a ter ligações com muitas das variações do mundo evangélico, e especialmente em relação aos neo-pentecostais, mesmo assim, tem-se que admitir que nós mesmos sempre estivemos muito mais irmanados com o pessoal que grita Aleluia do que com o pessoal que diz Ave Maria. E, além disso, tem-se que admitir que quase todas as igrejas reformadas do Brasil são hoje em dia completamente evangélicas em seus espíritos e conteúdos de crença e pratica moral-moralista e legalista.

 

Você disse que deixou de ser evangélico. Eu acho que fiz minha definitiva profissão de fé como consciência não evangélica quando ocupei a posição de presidente de uma entidade de representação da “classe”, e vi que minha alma não combinava com aquilo e que não sobreviveria no ar respirado naquelas recamaras do medo, da culpa, da covardia, da média e do farisaísmo.

 

Daí, desde que começaram a falar na tão discutida “Volta de Caio Fábio”, eu não apenas ter veementemente negado, mas também muito me ri das declarações, posto que eu nunca tive a intenção de voltar para nada daquilo.

 

Aquilo já não é faz tempo!

 

Mas somente com a exalação da putrefação é que os odores se tornaram insuportáveis, e os próprios mortos disseram: Ih, morremos!

 

Como é que isso termina? Ora, assim como está. Com os mortos sepultando os seus mortos, e os que eles mesmos matam.

 

Como isto termina?

 

Termina como terminou o Judaísmo, como terminou o Catolicismo, como terminou o Protestantismo, como terminou o Puritanismo, como terminou o Pentecostalismo, e como já nasceu morto o Neo-Pentecostalismo. Ou seja: termina sem nunca acabar. Permanece. Vira religião. É a tal da Veste Velha ou é o tal do Odre Velho dos quais Jesus falou.

 

O que fazer com isto?

 

Ora, nada. Jesus disse pra nem perder tempo, pra nem tentar remendar nada, posto que quem se acostumou com isto, não quer aquilo, o Novo, o que é Hoje.

 

“Isto” existe, agora, apenas para ser usado, posto que há gente dentro disto. Mas a agenda do reino já não passa por isto. Isto teve sua chance e não quis. Agora “Isto” terá que também dizer, junto com o judaísmo: “Bem dito é aquele que vem em nome do Senhor!”

 

No entanto, nada há de novo nisto. Não há nada debaixo do sol que não viva esse ciclo. Nada. Portanto, assim como foi antes, assim será depois. E não há fatalismo nisto, posto que falo da vida, não da morte.

 

Sim, a vida acontece nesse processo de morte, de coisas que perdem o significado a fim de que o significado reapareça de outra forma, de troncos que são cortados, e de renovos que brotam.

 

O discípulo de Jesus precisa saber que é peregrino sobre a Terra, e que por essa razão ele tem que viver o seu próprio caminho na sua própria geração. Ou seja: não dá para ser um filho peregrino do reino, caminhando como um hebreu desinstalado, e carregar todo o peso de uma descomunal história morta, e que nada mais tem a dizer ao momento que nos sobrevém como desafio histórico e existencial.

 

O discípulo de Jesus examina todas as coisas, e só retém o que é bom. É por isto que a sua fidelidade para com o reino o mantém em permanente estado critico e re-processador de todas as realidades históricas, posto que para ele são apenas realidades históricas, mas jamais seriam a verdade feita história, pois esta só se manifestou em Jesus de Nazaré. Todas as demais coisas estão abertas para exame e entendimento critico, inclusive os Atos dos Apóstolos.

 

O discípulo chama a Pedro e Paulo de irmãos, e crê no fundamento de suas confissões, mas não crê que eles eram irretocáveis. Ora, o discípulo tem apenas um como seu Pastor, Guia, Bispo, Apóstolo e Mestre: Jesus.

 

O discípulo sabe que o Evangelho é para a vida, logo, não sendo compatível com pedras e paredes, e nem com leis de homens. Sim, o discípulo sabe que a religião é um sapatinho de japonesa que o diabo tentar calçar no Evangelho a cada geração, durante toda a história. Foi assim. Será assim. E o discípulo não tem ilusões a esse respeito. Por isto ele vai e prega o reino de Deus, inclusive nas sinagogas e igrejas.

 

O discípulo segue a Jesus, por isto ele não pode pertencer a nenhuma torcida organizada da religião, e nem perde tempo vendo jogos que já iniciam perdidos, posto que os jogadores já se matam antes de entrar em campo.

 

O discípulo olha para isto, e faz como Jesus. Diz aos Mestres de Israel: “Importa-vos nascer de novo”.

 

Ora, o novo nascimento pode salvar o fariseu Nicodemos, mas não pode salvar o farisaísmo. Assim como o Evangelho pode salvar o evangélico, mas não pode salvar a Igreja Evangélica como manifestação histórica.

 

A Igreja Evangélica preferiu a si mesma à ser somente de Jesus!

 

Estou afirmando isto apenas para dizer que não muda nada. É apenas mais um campo missionário. É apenas a Janela 318, esse novo campo missionário, e que está aqui, bem adiante de nós, e clamando por Boas Novas.

 

Faz muitos anos, meu amigo, que eu prego levando em consideração que todo crente pode ser um incrédulo e que todo incrédulo pode ser um crente.

 

Assim, transforme sua desistência em foco missionário, e pregue a Palavra também para os evangélicos. Muitos crerão, e encontrão o Caminho da Vida em Jesus, e saberão como proceder, conforme a Graça de Deus.

 

Um coisa a mais que quero dizer, é que a gente tem que crer que Deus é Deus mesmo, e que Ele cuida de Seu povo. Ou seja: não podemos cair na armadilha do diabo que é nos fazer pensar que “nós” é que cuidamos dos interesses de Deus na Terra. Não. Nós apenas pregamos o reino, e rogamos aos homens que se reconciliem com Deus, visto que Deus já se reconciliou com eles em Cristo.

 

Veja como o cara se converte e começa logo a orar. No princípio ele crê que tudo vem de Deus. Por isto ele ora. Depois ele começa a crer que tudo vem de um líder, por isto ele segue. Então ele começa a crer que tudo depende da igreja, por isto ele trabalha. Em seguida ele começa crer que tudo depende dele, por isto ele busca ser um líder. A seguir ele crê que tem uma visão incomparável e divina, por isto ele a semeia no mundo. Então ele vê que ela cresceu, por isto ele acha que sua mão tem poder. Chega então a ora em que ele decide, e Deus obedece. Ora, desse ponto em diante ele já é um líder evangélico de responsa, e não ora faz anos e anos, e não chora sozinho há séculos, e não pensa em mais nada que não dê lucro em benefício próprio há muitas eras paleontológicas, e vive para apostar “de quem é o maior” com todos os demais concorrentes no mercado dos egos iluminados pela presunção da divindade.

 

Então, meu amado, se esse caminho é uma descida, que fazer nele? Subir de volta cansa muito. É melhor seguir a viagem, posto que não fomos chamados para retroceder.

 

É melhor ser como criança na fé, voltar ao que é simples, enquanto se anda adiante para o que vale.

 

Pregue a Palavra, e você verá que milhares de evangélicos ainda hão de se converter, e também verá que Deus mesmo saberá o que fazer com todos eles.

 

Basta crer, confiar, e andar na Palavra e no Espírito. O mais Ele fará.

 

Um beijão carinhoso. Ah, não deixe de se congregar. O coração não é uma ilha.

 

 

Nele, em Quem a Igreja é,

 

 

Caio