DESCONSTRUÍRAM A MINHA FÉ
—–Original Message—–
From: Pastor “B”
Sent: terça-feira, 22 de julho de 2003 17:11
To: [email protected]
Subject: Des-construíram minha fé!
Mensagem:
“Então, eu fazia “saques” do meu próprio passado para poder viver o presente…”—foi o que você disse.
Pastor Caio:
Como me identifico com suas palavras!
Sempre me sinto assim!
Meu coração ardia em chamas pelo Senhor.
Tinha temor de Deus, ansiava pela sua presença, amava a Palavra…
O amor desvaneceu-se, o temor desapareceu e a fé ruiu…
Busquei com afinco o estudo, des-construí as Escrituras e quase não consigo mais crer em nada!
Clamo que Deus interfira!
Que me prove a sua existência… e só experimento um profundo e dilacerante silêncio!
Vivo a experiência da ausência de Deus…
Prego a Palavra todos os domingos e me sinto hipócrita!
Andei por caminhos trôpegos, fiz coisas erradas e fico remoendo o medo de que descubram.
Os homens são implacáveis em seus julgamentos.
As mãos que hoje me aplaudem serão exatamente as mesmas que me apedrejarão.
Ainda creio em Deus, mas não tenho mais uma fé literalista, bíblica.
O NT parece-me uma “releitura” do VT.
Algo “forjado”, “arrumado” para convencer…
Tudo o que eu queria era voltar a crer!
Tendo um amor puro, genuíno, vibrante pelo Senhor…
Não consigo mais!
A exaustão já tomou conta de mim.
Me sinto covarde e me retro-alimento da minha própria vaidade.
Dos muitos elogios que recebo.
Não consigo largar a Igreja, mas também não consigo mais amá-la como antes…
Vivo “sacando” do meu passado para poder me arrastar no presente…
Se puder, por favor me responda algo…
”B”
Obs. O e-mail é fictício. Resolvi ocultar o meu nome verdadeiro.
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Meu amado irmão e colega “B”:
Não posso exatamente dizer que conheço esse lugar existencial-teológico-psicológico onde você está, pois, de fato, nunca estive nele. Não com os perfis e contornos que você apresentou.
Conheço muitos outros buracos…
Mas jamais me senti assim, e, nem, tampouco, experimentei tais conflitos em relação a Deus e a Palavra.
Depressão, já tive muita!
Tristeza de morte, só Deus sabe!
Culpa, meu Deus, o mundo inteiro se deu conta!
Senti culpa até do que não tinha culpa…era meu modo de ser responsável com dores herdadas!
Acho que nunca tive problemas com a Teologia porque para mim tudo o que “gia” não me seduz. Além disso, tive a benção de só entrar em seminário para dar aulas ou para falar como Paraninfo em cultos de Formatura.
Você está vivendo a crise de milhares de pastores. A diferença é que, Graça a Deus, você ainda está vivo, com a consciência ativa e sadiamente sofrida.
Que benção, meu irmão!
O duro é quando você encontra aqueles caras para quem a religião virou apenas um negócio, e o pastor se enxerga apenas como um gestor de atividades nas quais ele não acredita, mas faz isso sem nenhuma perturbação ou conflito.
O que creio de coração é que você perdeu o romance com Deus e com a fé, em razão de seu caso com a “igreja” e com a “teologia”.
Ambas são péssimas amantes!
O que transcrevo a seguir, já estava escrito por mim, mas achei que poderia fazer bem a você.
Leia com todo o carinho, pois, é com sincera oração que transcrevo o que segue.
Que o Espírito abra seu coração e ilumine sua alma e espírito com a Luz da Graça.
Boa Leitura!
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A fim de não ser por demais exaustivo, quero apenas que você medite comigo num dos mais cruciais textos da Escritura: a tentação de Jesus no Pináculo do Templo!
Hoje em dia aquela tentação é comum-mente—e a mente, comumente, mente!— interpretada como sendo a do materialismo dos milagres e do carismatismo do poder de personalidades que impressionam por suas “mágicas sobrenaturais”.
Ela é vista também como a tentação do marketing da piedade pessoal—o que também é poder—; ou ainda, como a tentação de “encurtar” a longa estrada do discipulado e da vivência na Palavra, por uma “rota mais curta”, especialmente visando a auto-afirmação ministerial no ambiente cristão, ou como Eliú, entre os “amigos de Jó”.
Enquanto isto, no Pináculo do Templo Satanás deseja que Jesus dê uma prova irrefutável de que Ele é o Filho de Deus. Era a violação da Lei de causa e efeito no mundo físico—“atira-te daqui abaixo”—a fim de estabelecer uma outra relação de causa e efeito: “Quebra deliberadamente o efeito e tu serás a tua própria Causa!”.
Ou seja: Satanás convidava a Jesus muito mais do que para um Show Messiânico. Ele convidava a Jesus para o “Pináculo do Templo”, para aquele lugar de onde o “Querubim da Guarda” foi derrubado, tornando-se Diabo e Satanás.
Figurativamente, Satanás tenta colocar Jesus acima do Pai, no Pináculo de Sua Habitação!
Essa é a tentação de todos aqueles que desejam se afirmar acima de sua vocação e que desejam se tornar independentes de Deus no “lugar sagrado”.
E pior: é a tentação dos que confundem Deus com o “lugar sagrado”, que rejeitam sua situação de criaturas, que pensam que possuem auto-suficiência para cumprir sua própria missão e que enganam-se pensando-se detentoras da chave da vida, ou do significado pessoal de suas próprias histórias—baseados em suas próprias virtudes—, sendo que, na maioria das vezes, tomam para si também a prerrogativa de juizes de toda a vida na Terra.
E isto tudo fundados no sucesso de suas performances espirituais ou materiais. Ora, Satanás também tem anjos à seu serviço E se estavam disponíveis para o “sucesso do salto de Jesus”, não estariam também disponíveis para o sucesso da “igreja”?
Sucesso não é problema para quem disse “tudo isto te darei se prostrado me adorares”. E se fosse mentira, não seria, pelo menos para Jesus, nenhuma tentação!
A tentação é a possibilidade! Exatamente como lá no Jardim do Edém. Tanto era possível, que aconteceu! Tanto era mentira, que aconteceu sem realizar a promessa de Vida e Saber para o Bem!
As “verdades” do Diabo realizam o possível. O que não realizam é o impossível dos homens—e do Diabo também—, que só são possíveis para Deus, e, no caso, a maior impossibilidade da Terra e do Céu é a salvação de um homem por seus próprios méritos ou pelo apropriar-se das “possibilidades disponíveis”.
E isto pode se manifestar como objeto de fabricação espiritual, de invenção Moral, de auto-glorificação, de saúde psicológica, de poder político ou eclesiástico, ou de qualquer outra coisa que tire você do caminho de ser de Deus apenas por Deus!
Em suma: a proposta de Satanás realiza qualquer coisa, menos a entrega verdadeira ao Deus de Jesus !
E, aqui, devo dizer o seguinte:
Esta é especialmente a tentação do virtuoso, do artista, do intelectual, do psicólogo, do analista, do filósofo, do sacerdote, do pastor ou mesmo do monge!
Um homem com capacidade excessivamente “criativa” corre mais facilmente o risco de se con-fundir com o Criador num surto de auto-glorificação do que os que “criam menos”. E, na maioria das vezes, fazem isto até inconscientemente, e, por esse auto-engano, tentam “substituir” Deus pelas impressões de seus criativos corações.
Hoje em dia nós temos muitas justificações éticas, morais, teológicas, políticas e de natureza mercadológica—ou seja: marketeira—, para nossa entrega freqüente aos “convites de Satanás” para que subamos ao Pináculo do Templo!
Todas são fruto da Teologia da Terra que é a sistematização teológica da Escolha de Adão. Afinal, é Adão quem decide assumir responsabilidade sobre o que é Bom ou Mal!
Neste sentido eu diria que a Religião—e nisto incluo, obviamente, o Cristianismo e todas as suas variáveis históricas— é a mais sedutora forma de tentação.
A Religião—que é sempre Teologia da Terra—, se “vende” como o meio de nos fazer “obedecer a Deus”, supostamente conhecendo o “bem” e o “mal”, enquanto é apenas uma invenção humana que é fruto da obediência aos desejos de auto-justificação ou fruto da mera neurose de obediência de almas não atingidas pela Palavra e pela Graça. Ou seja: a inclinação normal do Homem Natural é para Religião ou para qualquer outra forma de auto-justificação ou de auto-glorificação!
A Religião pode até mesmo se tornar o esconderijo de almas amantes do mal, e que escolhem o melhor de todos os escudos para sua camuflagem: a Moral religiosa!
Quanto mais perto do Pináculo do Tempo se chega, mais entregue aos ventos dessa tentação nós ficamos!
O mesmo se pode dizer da Moral ou, diluidamente, da Moralidade.
Afinal, o que o Diabo diz também é: “Prove, por você mesmo, e com seus próprios méritos, que você é Filho de Deus!”
Como criaturas nós também somos filhos de Deus e somos também freqüentemente tentados a fazer uma demonstração “milagrosa ou Moral” desse vinculo.
Note que quanto mais profunda é a filiação, maior é a tentação. Por isto, em Jesus temos o Ápice da tentação! A tentação de Jesus foi total, bem mais total do que a de qualquer outro homem, por inúmeras razões, mas aqui veremos apenas uma:
A tentação é tanto mais poderosa quanto menos fragmentado for o ser! Seres excessivamente fragmentados sofrem fracas tentações. Eles caem muito porque ficaram do tamanho delas, todos os dias!
E no mundo atual, eu diria o seguinte: o homem comum, não cristão—seja ele intelectual ou de pouca condição reflexiva—,sofre menos “tentação” que o homem “religioso”; e o “religioso”—não importando o credo—,sofre ainda menos tentação que o “cristão”.
O problema é que o “cristão” ainda tem que sofrer mais que a culpa— na maioria das vezes, mais neurose que “culpa”; ou mais cinismo do que “paz”—, que é a presença semi-divina da “igreja”, que se arroga ao papel de ser a detentora histórica do “bem” e do “mal”.
A “igreja” ainda não entendeu que ela se tornou a mais arrogante representante da franquia terrestre da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal!
Ora, aqueles que habitam o “pináculo”, tornando-se escribas dos oráculos que de lá advêm, são aqueles que sofrem a pior tentação e é neles também onde ela cresce ainda mais.
Lembre-se, o próximo passo é a “interpretação da Escritura”, conforme uma “hermenêutica satânica”. Aparece, então, a exegese do Salmo 91.
Pois, então, lhe disse o Diabo: “Se és o Filho de Deus, atira-te abaixo, por que está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem; e: Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”.
E que ironia: no pináculo teológico e religioso a tentação é muito maior!
E nesse particular é bom que ninguém esqueça os fariseus e os escribas da Lei dos dias de Jesus. Eles eram homens do templo, sua piedade e religiosidade externos eram inquestionáveis; suas boas obras, irrepreensíveis; suas esmolas e jejuns, impossíveis de não serem reconhecidos; seu interesse pelas Escrituras, obsessivo.
Mas, e daí?
Quanto mais uma pessoa se dedica à letra, menos se dedica à Palavra e mais distante fica de Deus.
A letra mata!
E, aqui, Satanás nos chama para a tentação do letrismo, do literalismo, das exegeses sem o Espírito, para os códigos de obediência externos, para o marketing religioso, para o exame anatômico das letras da Escritura para ver se “nela” encontramos o “espírito”—inversamente-conforme os “materialistas russos” do século passado que dissecavam o corpo para demonstrar a inexistência do espírito—; e, nesse ponto, Satanás também nos incita à “possibilidade” de escravizar Deus às “ordenanças de nossas profecias”.
Afinal, “está escrito!”
E, neste aspecto, basta ouvir a programas cristãos no radio ou vê-los na televisão, ou mesmo, basta ir à maioria das “igrejas de poder”, que se verá a “hermenêutica de satanás” sendo pregada.
É quando Deus tem que “obedecer” à Sua Palavra em sujeição à ignorância humana—o que é o de-menos em toda a história—; ou quando Ele tem de se tornar “cúmplice” da pilantragem realizada em Seu nome, cumprindo, supostamente, promessas que Ele não fez; ou quando Ele é o “estivador celestial” que apenas realiza a “agenda” de curas e milagres que os agentes de publicidade e marketing da religião pre-definiram.
E mais: isto acontece também quando Deus tem que cumprir a “Escritura”, que no caso foi objeto não só de exegese satânica, mas também teve seu aplicativo “cristão” muito bem “apropriado” aos interesses financeiros, psicológicos—no caso de “messias” que sofrem de surto religioso—, ou, “teológicos”, daqueles que dizem: “Deus não pensa assim!”
Neste último caso, é quando se “usa” a Palavra para se “construir” uma teologia ou uma Moral que reflitam não a verdade da Palavra, mas um exercício satanizado de capacidade interpretativa, fundado na doença Moral-psicológico-teológica do “messias” ou “escriba” ou “fariseu” em questão!
Assim, aprende-se que é no lugar sagrado e no manejo autônomo da Escritura, onde mais corremos o risco de cair em tentação!
Jesus poderia até ter pulado do Pináculo do Templo. Anjos poderiam até ter vindo socorrê-Lo—e não faltavam voluntários celestiais satânicos para cumprir a missão de aterrissagem de Jesus no pátio do Templo—, mas a Gloria do Pai teria sido profanada!
Jesus teria feito o caminho de Lúcifer!
Na base de tudo está o seguinte:
A Escritura é absoluta. Sua interpretação, todavia, é relativa.
Isto porque as “mentes” que a interpretam já carregam suas próprias “certezas” fundadas no engano do conhecimento do “bem” e do “mal”, conforme a interpretação do “Pináculo do Templo”, onde o livro de hermenêutica por excelência é aquele cujo título é: “O Saber Conforme a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”.
É por isto que a manifestação de libertação de Paulo— em sua conversão da pre-suposição “legalista-farizaica” ao mergulho na Graça—, foi, na minha opinião, o mais revolucionário, lúcido e consciente passo de fé que alguém já deu depois de Jesus.
Paulo, atingido pela “revelação”, em obediência a Palavra de Jesus, se sujeitou a re-ler toda a Escritura, a fim de nela discernir o espírito da Palavra e a palavra do Espírito.
Agora, voltemos ao principio de tudo. Eu disse que Satanás convidara Jesus para quebrar um principio físico de causa e efeito—a Lei da gravidade—, a fim de faze-lo mergulhar num outro principio, espiritualmente negativo:
Quem quebra deliberadamente o efeito daquilo é absoluto, torna-se sua própria Causa. E, assim, se acumplicia a Satanás, quando subiu sozinho ao Pináculo do Templo Celestial e disse: “Eu subirei; eu ficarei acima do Altíssimo!”
O que não percebemos é que a tentativa de quebrar a Lei natural de causa e efeito é o que nos faz ser a “Causa” e os efeitos passam a ser apenas aquilo que nós criamos ao nosso bel prazer ou conforme nossas melhores barganhas com a nossa própria pseudo-divindade!
Afinal, nós viramos a própria medida de todas as coisas, mesmo que isto aconteça sob os disfarces de piedades religiosas, como é mais comum acontecer!
Sempre que o homem é a “causa”, Deus é um mero “efeito”!
E esta é a grande blasfêmia!
Daí, a Moral, a ciência, a teologia, a filosofia, a política, as artes e toda a produção humana que se percebem como “causa”, tenderem a tornar a Deus um mero efeito.
E a Cristandade é quem deu o maior exemplo e quem melhormente piorou essa ilustração!
Ora, como é possível ler-se os evangelhos, ver Jesus em ação e em vida— revelando Graça, amor, verdade e sentido de propriedade em tudo o que fazia; perceber Seu carinho e paciência com a necessidade e miséria humanos; Seu humor fortemente alterado frente aos Habitantes do Condomínio do Pináculo de Jerusalém, os fariseus e autoridades do Templo—e ainda pensarmos que o Cristianismo se parece com Ele, Jesus?
De fato, percebemos imediatamente como a pratica cristã, sua postura histórica, sua construção religiosa, sua atitude desumana, seu rigor maligno na defesa do Nome de Deus e, sobretudo, sua arrogância no falar como detentora da verdade, é uma inequívoca rendição da “insígnia cristã” à proposta do Diabo!
A salvação da Igreja está em não se impressionar com a citação das Escrituras, mas, antes disso, buscar obediência à Deus e à Sua Palavra, apenas e tão somente porque é Palavra de Deus.
Sempre que se obedece a Escritura por causa dela mesma se está cedendo à tentação do Diabo!
A “Escritura”, sem Deus, é apenas um texto religioso aberto à toda sorte de manipulações!
No genuíno encontro com Deus e com a Palavra, a Escritura vem depois. Sim! A Escritura vem bem depois!
O processo começa com a testificação do Espírito— pelo testemunho da Palavra— de que somos filhos de Deus. Depois, nos aproximamos da Escritura, pela Palavra. E, então, salvos da “Escritura” pela Palavra, estudamo-la buscando não o seu poder ou o seu saber, mas a “revelação” imponderável acerca da natureza e da vontade de Deus, que daquele “encontro”—entre a Escritura, a Palavra e o Espírito— pode proceder.
Um ser “pre-disposto” ao sucesso teria pulado do Pináculo em “obediência” à Escritura e à sua literalidade, violando, para sua própria morte, a Palavra.
Sim! Estava escrito. Porém, não estava dito!
Ora, é em cima do que está “escrito” mas não está dito, que não só cometemos “suicídios”, mas também “matamos” aqueles que se fazem “discípulos” de nossa arrogância, os quais, motivados pelas nossas falsas promessas, atiram-se do Pináculo do Templo abaixo.
E é também por causa desse tipo de obediência à letra da Escritura que nós morremos.
A letra mata!
Olhamos em volta e vemos o Livro de Deus em todas as prate-Lei-ras. Vemos o povo carregando-o sob o braço, e percebemos que eles são apenas “consumidores de Bíblias”.
Vemos seus lideres e os percebemos, muitas vezes, apenas como “mercadejadores” de Bíblias e dos “esquemas” e “programas” que se derivam do marketing que oferece e vende sucesso em “pacotes em nome de Jesus”.
Sim! E isto tudo não porque nos faltam Bíblias e muito menos acesso à Palavra. O que nos falta é buscar a Deus por Deus. Ser filho amado de Deus não porque isto nos dá status Moral sobre uma sociedade que não é mais perdida que a própria “igreja”, coletivamente falando, é claro!
A Teologia Moral de Causa e Efeito é filha da observância externa da Lei, tornando o homem a Causa e Deus o efeito!
A Teologia Moral de Causa e Efeito é uma produção que tem o Diabo como consultor e tutor teológico do Curso. É o “uso” da Escritura a fim de “adulterar” a Palavra. Esse é o grande adultério, e que é aplaudido, consentido, aprovado, entusiasticamente estimulado e do qual, a maioria de nós, se faz, no mínimo, um voyer, sendo que boa parte de nós, faz parte ativa dessa confraria, onde o Diabo dá aula de Moral, de teologia sistemática e, sobretudo, de hermenêutica.
O que parece é que nos é impossível perceber que a única ética cristã possível, é fruto da liberdade!
Tudo o que não for escolha pelo bem-revelado, feita como resultado de uma liberdade responsável, é Moral; não é Ética. É Estética, mas não é Verdade. É Dogma, mas não é Revelação!
Moral não agrada a Deus. É filha do medo. É governada pela imagem. E tem como sua “filha de criação” a hipocrisia. E pior: sua mansão mais pomposa é a Religião.
Ética, todavia, é filha da liberdade de escolha. E é apenas quando, sem medo, se escolhe o que é bom, é que o bem do bom, nos faz bem. Do contrario, até o que é bom, escolhido por medo, faz mal.
Se o interesse de Deus fosse ter filhos que o obedecessem por ignorância ou medo, melhor teria sido que nos tivesse deixado no estado adâmico, antes da Queda; ou seja: no Jardim das Não Escolhas—onde não houvesse também a Árvore da Tentação!
Isto porque, sem a presença da “porta”—a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal—, estaríamos em melhor situação: des-assombradamente sem consciência e sem medo!
Se, todavia, Deus colocou uma “saída” para fora desse “Pleasentville” na Terra, é porque o único comportamento humano que faz sentido é aquele que é filho da liberdade que escolhe sem medo, pois, escolhe com con-ciência em fé, que significa automaticamente fazer opção pela Árvore da Vida, não como um caminho humano, mas como uma entrega em fé.
Afinal, para os que desejam encontrar o Caminho Para a Árvore da Vida com as próprias pernas, deve-se lembrar que o Senhor posicionou um Querubim, com espada na mão, a fim de impedir tal acesso, pois, é da presunção de comer de seu fruto sem a mediação da Graça de onde procede toda Perdição!
A ciência da consciência que escolheu a Árvore da Vida é aquela que existe em fé na Graça; ou seja: no fato de que Deus sabe por mim, e sabe somente para o meu Bem, nunca para o meu Mal. Por isto eu ando em fé!
Todavia, a consciência que se arrima no saber que vem do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal existe com a arrogante certeza de pensar que conhece sempre para si e para os outros o que é bom ou mal. Portanto, ela caminha no chão do juízo, da culpa e do medo, quando está sob surtos culposos; e existe em arrogância existencial, justiça própria Moral e julgamento togado da vida dos outros, quando as exterioridades dos comportamentos encobrem, eclipticamente, as sombras do ser que não se enxerga. E, assim, caminha com “certezas” mas não em fé. “O meu justo, todavia, viverá pela fé”—disse o Senhor!
Fé, Esperança e Amor são o Fruto da Árvore da Vida!
É por isto que Paulo diz que contra o fruto do amor não existe Lei. Ao mesmo tempo, João diz: “Onde há medo, não há amor”.
Portanto, é só somar:
Se há medo, não há amor. Se não há amor, pode haver sujeição, mas nunca obediência. E sem liberdade, nenhuma obediência é fruto de uma escolha. E uma escolha que não seja livre, não é obediência, é sujeição. E, na sujeição, não há amor, pois, este só se realiza como livre escolha.
Portanto, o que sobra, é a Lei e seu maior derivado: a culpa amedrontada e que nos joga nos braços insaciáveis do pecado!
Isto porque a Lei, é a norma dos seres que não têm consciência própria, pois não têm liberdade para escolher por si mesmos o que é bom, sendo, portanto, escravos da Lei mesmo quando a cumprem, visto que, neles, a obediência não é verdadeira, não sendo, desse modo, nem pura e nem genuína. Portanto, não agrada a Deus.
E por quê é assim?
É porque não é fruto da consciência movida pela liberdade do amor!
Pelo contrário: é o produto do medo que se sujeita ao “Tirano”—no caso, Deus—, ao qual tem-se que confessar um amor que não se sente e cumprir regras que nem se aceita e nem se entende, na maioria das vezes!
Assim, nasce a Teologia Moral de Causa e Efeito. E por quê? Porque quem não se sujeita a ela, sofre as conseqüências. De modo que o importante é evitar o efeito-pecado ao invés de se amar a Causa-Deus!
E aqui, voltamos, outra vez, ao engano:
Quem tem medo do efeito não ama a Causa e quem não ama a Causa, submete-se à ela até encontrar uma razão ou um meio de transgredi-la ou de “negociar” com ela. Assim, nascem os “sacrifícios” e as “trocas” com a divindade.
Jesus, todavia, responde ao Diabo com o que estando “escrito”, estava também dito; e não com aquilo que estando “escrito”, não fora jamais dito. É quando o que está “escrito” não eqüivale ao que foi dito. O que está “escrito”, é estático. O que foi “dito”, é vivo e produz vida onde chega.
“Não tentarás ao Senhor teu Deus”—respondeu Jesus.
O que eqüivale a dizer: “Não use o que está escrito contra aquilo que Deus disse!”.
Dessa forma, Jesus ensina, que a obediência à letra da Escritura pode se transformar em obediência a Satanás, se o texto, sob qualquer que seja o pretexto—consciente ou inconscientemente—, servir para produzir isolamento e independência em relação Àquele que o inspirou.
A obediência medrosa pode esconder até mesmo ódio de Deus por ter-se que obedece-Lo contra nosso próprio desejo ou concupiscência, que é a única obediência que os reprimidos e raivosos tem para oferecer em “sacrifício” de sua “fé”.
Ou, quem sabe, a “devoção ao texto”, é apenas um instrumento de auto-afirmação psicológica ou até mesmo social.
A obediência letrista à Bíblia não garante nada à saúde do homem interior, muito menos bem o faz o seu mero estudo teológico; ou seja: “o fazer teologia” é inócuo para a saúde da alma!
Às vezes, infelizmente, é esse letrismo ou essa liberdade construtivista ou critica em relação ao texto, o que nos impede de ouvir a Voz de Deus!
Se eu busco o texto bíblico, uso-o, o exploro para meus próprios fins— sejam eles quais forem—, de fato, estou é obedecendo a hermenêutica de Satanás, que não possui, necessariamente, um método com nomenclatura especifica, mas possui um espírito anti-Graça, um véu, uma nuvem que cega o entendimento— mesmo que se faça boa exegese da Escritura—, e, que, sobretudo, manipula o texto com o fim de faze-lo ser a “nossa palavra”.
No fundo, é apenas um “outro evangelho”, mesmo que seja pregado por um anjo de Luz ou um ministro de justiça.
Muitas vezes eu corro o risco de “usar” o texto a fim de provar que estou certo; ou, quem sabe, que não estou tão errado!
Talvez, seja para demonstrar minha devoção, meu compromisso com a verdade, ou meu zelo pela inerrância da Bíblia.
Não importa. Em qualquer que seja o caso, eu estou manipulando a Escritura, usando a morte e a ressurreição de Jesus, usurpando simbolizações e outras formas pre-condicionadas de comunicação, a fim de “estabelecer” minha própria opinião sobre as Escrituras, adulterando, desse modo, a Palavra!
E esse mal pode acometer também a “publicanos” e não somente aos obvios “fariseus”, amigos de Jó!
Dessa forma—pela pseudo-certeza de saber a verdade sobre toda a Escritura—, nós negamos a radicalidade absoluta de nossa própria Queda—com a total separação de Deus que ela estabeleceu—, e tentamos criar nosso próprio mediador entre Deus e os homens: a sã doutrina, que nesse caso, não é a Palavra, é a produção dos “doutos”, é a verdade como tradição e a tradição como verdade.
De fato, toda tra-dição implica também numa tra-dução. Assim, a Palavra fica escrava do fixo, da letra e do hermeneutico-formol-da-razão, que é oferecido sob rótulos variados, sendo o mais freqüente, aquele que diz: “interprete autorizado”. E esta validação pode vir pela intelectualidade, pelo carisma, ou, como na maioria das vezes, pelo muito gritar!
Dessa forma, não é a relação de fé com a Graça de nosso Senhor Jesus Cristo o que nos salva, mas a doutrina correta e a “igreja certa”.
E, assim, mais uma vez, fica desfeito o Escândalo da Cruz!
Aprendemos também como a Escritura pode se transformar num concurso de verdades e de sabedorias. Jesus, todavia, não entrou na disputa. Respondeu não com um discurso, mas com a Palavra. E se colocou na fragilidade que Ele escolheu para si, pois, sendo Deus, não julgou, como usurpação, ser igual a Deus. Antes pelo contrário: se humilhou e confiou apenas na Palavra.
Afinal, o grande conflito está entre obediência e auto-afirmação!
Ele escolheu não uma vitória “escriturística” ou mesmo “hermenêutica”, mas a simples obediência ao que estava dito—ou seja: à Palavra—, pois, a promessa não era que o homem teria poder de chamar anjos para acudi-lo quando este julgasse importante ou necessário.
O que se diz é:
“Ele dará ordens a teu respeito para que te guardem…”.
Portanto, é Deus quem sabe a hora. É Dele e somente Dele a agenda. E qualquer tentativa de tirar a Palavra de Deus das mãos de Deus e colocá-la nas mãos do homem, dando a este o poder de decidir, de ordenar, de demandar, de liberar, ou de trazer da mera “Escritura” o cumprimento de suas promessas, conforme a agenda humana, é aceitar a sugestão de Satanás e é ensinar as pessoas a usarem a “Escritura” contra a Palavra e contra elas mesmas.
Na tentação de Jesus—e quando falo de “tentação”, obviamente não me refiro apenas às três “clássicas”, conforme os evangelhos, mas a todas, conforme Hebreus—, o que vemos é Deus se entregando ao “risco supremo”.
Entregar Seu Filho ao confronto verdadeiro com a tentação em sua maior plenitude, foi, sem dúvida, um risco divino imensamente maior que qualquer outro. Torna a narrativa do Éden um brincadeira de criança; afinal, o primeiro Adão não tinha as complexidades infinitas do segundo Adão, e, portanto, não contemplava as implicações da “aceitação” da proposta satânica da mesma maneira conscientemente objetiva que acometeu a Jesus, o homem—e que é também o segundo Adão!
A vitória de Jesus sobre a tentação é também vitória da Cruz. É a decisão da liberdade do Messias. É o fruto de Seu amor ao Pai e de Sua escolha pela Escritura como Palavra de Deus. Ele é livre e usa Sua liberdade na submissão de um amor obedientemente livre!
E mais: foi o Espírito quem o levou ao deserto para ser tentado, pois, num mundo caído, não há devoção genuína sem real tentação. A devoção dos não tentados é apenas algo semelhante a performance de robôs. O amor que escolhe ser de Deus, é também, paradoxalmente, filho da mesma “liberdade” que oferece “outras alternativas” de ser para fora e para “além” da Palavra revelada de Deus.
O modo como Jesus usa a Escritura no embate com o Diabo, mostra também o seguinte: à parte da Encarnação de Deus em Cristo, para Jesus, nada poderia ocupar o lugar e autoridade das Escrituras quando elas são tratadas como a Palavra Eterna de Deus.
Assim, Jesus também ensina que as Escrituras, como Palavra, são suficientes nos enfrentamentos com o Diabo. A Palavra põe tanto o Diabo como o Homem em seus próprios lugares diante de Deus e da Vida.
É por esta razão que Jesus cita a Escritura como expressão de Sua livre vontade de se submeter ao Pai. A vitória da Escritura não está nela mesma, mas na rendição livre da vontade humana à vontade divina nela expressa. É por isto que podemos dizer que a Palavra “repele” a Necessidade e estabelece a Vontade. E, assim, quebra o ciclo animal, onde a necessidade dita as regras da sobrevivência. Somente a Palavra gera um homem livre para viver e viver em e para Deus. Assim, a obediência à Palavra é a Verdade que liberta. E está só é realizada em nosso favor—Graça—, no Filho de Deus, pois, se o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres!
Além disso, como antes já afirmamos, na tentação de Jesus a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal é vencida pela escolha livre que Ele faz pela Árvore da Vida, a saber: a Palavra!
Liberdade, é, sobretudo, fazer a vontade do Pai e alimentar-se dela como quem come o que é essencial à vida. É liberdade não para socorrer à necessidade, mas para escolher o que gera vida. A verdadeira Liberdade só indica o caminho da Vida!
Os discípulos de Jesus não se tornam seres não tentáveis apenas por terem escolhido seguir a Cristo. Nossos hormônios, carências afetivas, necessidades físicas, desejos, animalidades e sabedorias demoníacas , continuam insistentemente presentes em nós. Todavia, a diferença, vem de outro lugar: podemos escolher livremente e por amor o caminho da Vida, que é a vereda da obediência livre à Palavra, e essa escolha convive com nossa própria relatividade, pois, apesar de libertos, ainda gememos em nossos corpos—juntamente com toda a criação—e também sofremos angustias até agora, aguardando a redenção de nossos corpos, isto, apesar também de sermos as Primícias dos Espírito. Alias, é por esta razão que o Espírito Santo, em solidariedade absoluta com as profundezas do desejo de Deus para nós e em solidariedade absoluta para com nossa fraqueza, intercede pelos santos, dando ao ser que aceita essa intercessão de gemidos inexprimíveis— portanto, para além de toda lógica ou comunicabilidade racional—, a certeza de que todas as coisas—boas e más—concorrem e contribuem para o Bem daqueles que amam a Deus e descansam em Seu amor!
Ω
Ora, quando eu estava escrevendo exatamente esta parte do livro, ouvi uma piada. E eu, ainda que “irreverentemente”, a repetirei aqui.
Conta-se que dois matutos mineiros andavam pelo caminho da roça. Um deles avistou uma montanha de excremento humano no meio da estrada.
Eis o diálogo:
— Cumpade, isso é melrda!
— Num é não, cumpade!
Então, o que achava que era excremento, se agachou e cheirou o objeto em questão. Levantou-se e disse: “É melrda, sim, cumpade!”
O outro, agora ainda mais estimulado a des-crer pela certeza do amigo, disse: “Mas cumpade, num parece com melrda, não!”.
O outro, abaixou-se outra vez e tirou um pedaço do excremento e o colocou no rosto do amigo, bem adiante de seu nariz.
— É melrda, sim!—reafirmou ele.
O outro, todavia, mais “duvidoso” ainda pela certeza do amigo, então, “prova do bocado”.
–Hi!!! É sim, cumpade!
O outro—o certo de suas certezas—, então, leva o bocado também à boca!
— Sô, cumpade, eu e cê tinha razão!
Respondeu-lhe o outro:
—Inda bem que nós num pisemo nela, né, cumpape?!
Ω
Pergunto-lhe eu, agora:
Chulo? Sim!
Verdadeiro? Sem dúvida!
É apenas mais uma versão do Éden só que contada com sotaque mineiro!
Cada um viv