DESEJO DE MORRER…

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: DESEJO DE MORRER…

To: [email protected]

Sent: Thursday, June 26, 2008 1:40 AM

Subject: desejo de morrer

 

Querido Pastor Caio,

 

Preciso dizer ao senhor o que eu sinto já há muito tempo e não tenho coragem de dizer para os outros…

 

Pastor, eu não gosto de viver.

 

Não encontro satisfação na minha vida familiar, na minha vida profissional, na minha vida afetiva, na minha vida espiritual.

 

Estou cansada de tentar mudar as coisas. Estou cansada de orar e de esperar mudanças.

 

Quando imagino que eu ainda vou viver muitos anos, tenho desejo de morrer já.

 

Nunca me senti amada em minha casa. Minha mãe sempre fez muita diferença entre os filhos e, como resultado, sempre houve muita competição entre todos.

 

Uma das minhas irmãs faz de tudo para me humilhar e eu, sinceramente, acho que não sinto amor por ela. Se eu pudesse, eu preferiria não ter contato algum com ela. 

 

Gostaria de estar bem longe da minha família. 

Sofro com a solidão também.

 

Não sou casada, não tenho filhos, não tenho namorado.

 

Toda vez que gostei de alguém de verdade fui rejeitada.

 

Não agüento mais tanta rejeição.

 

Profissionalmente, também é difícil. Estudei tanto (fiz doutorado no exterior, agora tenho uma bolsa de pós-doutorado) e não consegui até agora um lugar na universidade.

 

Por que eu não posso ser feliz? 

 

Por que eu não posso encontrar amor na minha vida?

Por que eu passei anos e anos pedindo a Deus por algo que não me é concedido?

 

Cadê a resposta para as minhas orações?

 

O que eu sinto é que minha vida, como ela é, não vale a pena ser vivida.

 

Muito obrigada por seu site,

 

P.

_____________________________________________ 

Resposta:

 

 

 

Minha querida amiga: Graça e Paz!

 

 

Primeiro:

 

É necessário eliminar a possibilidade da depressão químico-orgânica estar presente em você. Por isso, procure um médico psiquiatra, relate os seus sentimentos [não busque medicação alguma de saída], e peça a ele para verificar [talvez via um encaminhamento ao um Endocrinologista] se você está com baixa de elemento químico essencial à motivação; pois, não raramente, as pessoas sofrem por causa de deficiências químicas ou alterações cerebrais em razão do vício em dor depressiva, e, sem o saberem, buscam remédio onde não há remédio. Ora, se esse for o seu caso uma pequena ajuda médica, seguida de terapia, muito lhe poderá ser útil.

 

Segundo:

 

Procure um bom terapeuta, o melhor de sua cidade, e exponha os seus sentimentos, pois, há muitos volumes de falta de amor em você, o que gera essa visão sem auto-estima e sem valor de significado. Se desejar procure aqui no site, no Divã do site, ajuda com minha irmã Ana, a partir da segunda-feira que vem.

 

Terceiro:

 

Independentemente de qualquer outra constatação proveniente de exames e resultados médicos, digo a você o seguinte:

 

a)        Pelo clima inafetivo de sua casa, com ódios e antipatias oriundos das escolhas de sua mãe entre os filhos, uma pessoa de mente fraca, de alma vulnerável e de espírito sem esperança transcendente, pode perfeitamente desenvolver este tipo de sentir que a tem abalado tanto.

 

b)       Não é possível negar que certas pessoas acabam desenvolvendo desejos de morte em contextos familiares como o seu.

 

 

c)        Também não é possível negar que em tais situações algumas pessoas, inconscientemente, começam a pensar em morte [suicídio] como “vingança”, como ódio, como raiva, e como violência contra os que supostamente a “infelicitam”.

 

Entretanto, pela leitura de sua carta, o que pude sentir é que você, provavelmente em razão do ambiente familiar de “competição”, deixou que elegessem para você os elementos significantes da vida: marido, filhos, diplomas, bom emprego e atratividade sexual.

 

Tolice!

 

Homem algum dá significado existencial à mulher nenhuma. O mesmo se pode dizer de filhos, emprego, diplomas, cursos, e qualquer outra coisa; pois, de fato, nenhuma delas enche o coração com nada além de um “copo de água”.

 

Ou seja: quem apenas bebe de tais fugazes esperanças logo voltará a ter sede, a menos que se nutra de um sentido mais profundo.

 

Mais ainda: você é religiosa, mas sem vida espiritual alguma. Sim! A leitura de sua carta está carregada de dor e insatisfação religiosa e existencial, mas nada tem de vida no espírito.

 

Você pergunta: “Cadê as respostas às orações?”

 

Ora, Deus é Deus de vida, de alegria, de paz, de amor, de verdade, de justiça e de tudo o que essencial à vida. Entretanto, Ele não é cupido, nem o deus do emprego, nem o deus das soluções de mudança do mundo por nossa causa.

 

O tesouro de Deus só cabe no coração, e isso apenas de pessoa em pessoa.     

 

Leia em João 12 que Jesus “conseguiu um jumentinho e, montado nele, entrou em Jerusalém”, embora os Seus discípulos não entendessem o significado do que estava acontecendo, a ponto de João dizer que eles só compreenderam o significado depois que “Jesus havia sido glorificado”.

 

Ora, eles estavam vindo da ressurreição de Lazaro, a qual, de tão majestosa em seu feito, não necessitava de grandes discernimentos para que se visse o seu significado. Entretanto, a vida não é feita de “ressurreições de Lázaros”, mas sim de muitos e muitos pequenos e “inexpressivos jumentinhos”.

 

Para entender o significado majestoso de Lazaro ressuscitado, basta não ser parte do grupo que sente ciúmes do poder de Jesus, e, portanto, mostrando-se desejoso de eliminar a Jesus e a Lazaro a fim de “apagarem as evidencias do feito milagroso”, como foi o caso do Sinedrio e da seita dos fariseus.

 

Entretanto, para entender “o sentido do jumentinho”, diz João, tem-se que ter “Jesus glorificado” no coração, do contrário, Jesus usa o jumento, e Seus discípulos, encantados com “grandezas Lazarianas”, ficam sem entender nada.

 

Hoje em dia a alma está viciada em apoteoses.

 

Daí você me dizer de seu doutorado fora e de sua bolsa de pós-doutorado dentro, e, ainda assim, ter ficado sem sentido para viver, pois, de fato, não houve uma “ressurreição de Lazaro”, que, para você seria um bom emprego na Universidade, um marido culto e amante de você, e, sobretudo, o reconhecimento da família acerca de seu valor.

 

O que há é um jumentinho ao qual você segue, embora creia que Jesus está montando nele, mas sem que isso faça sentido algum para você.

 

Não minha amiga! A vida, de verdade, é feita de coisas simples e singelas, de jumentinhos e de pequenas jornadas, de atos singelos e sutis em seus significados; sendo daí que procede nosso sentido de todos os dias, pois, esse é o “pão nosso de cada dia”.

 

Entretanto, se Jesus ainda não tiver sido entronizado pela fé em nós, como razão ABSOLUTA de nosso existir, tudo o mais perde a graça, a alegria e o significado, ainda que amanhã você descobrisse que sua mãe mudou para com você, e sua irmã tenha passado a admirá-la.

 

Jesus “glorificado” em nós é Jesus como o sentido total de nossa existência.

 

Ora, quando isto acontece essas coisas deixam de ser os deuses de nossas esperanças e passam a ser coadjuvantes pequenos no significado de nossa existência.

 

Ou seja: sem Jesus [o Pão eterno], se a pessoa tem a falsa idéia de que o pão humano é o alimento existencial da vida, o que resta é o que se instalou em você: frustração samaritana, que é viver em busca de uma água de poço que mate a sede para sempre, o que é loucura fantasiosa.

 

Somos todos filhos de uma geração alimentada por mentira existencial!

 

Para esta nossa geração de fracos e frustrados, a felicidade é marido, filhos, emprego e reconhecimento. Ora, esses são os deuses naturais de nossa geração.

 

Entretanto, para quem conhece tudo, já teve tudo, já provou tudo, já lambeu tudo, já comeu tudo, já foi incensado em tudo, e, ainda assim, vê que o vazio e a falta de sentido perduram — fica claro que todas essas coisas são boas coadjuvantes na existência, mas jamais devem ser vistas como razão de viver.

 

Na hora em que Jesus, não a religião, entrar em você por uma apropriação sua em fé, logo você verá seu espírito arrebentar-se em gozo indizível, mesmo que nada mude á sua volta.

 

Você falou que está cansada de tentar mudar as coisas, pois elas não mudam. No entanto, mesmo que mudassem, nada mudaria, pois, de fato, a única coisa que precisa mudar é seu olhar acerca do sentido da existência, o qual nada tem a ver com os “temas” por você eleitos como deuses do sentido da vida.

 

O mundo não mudará. Quem pode e tem que mudar é você.

 

Assim, pare de ter essa pena toda de você mesma, bem como pare de culpar sua mãe, sua irmã, os homens, a Universidade, etc.

 

O que sinto é que uma pessoa como você, com sua atitude, com suas esperanças sempre doídas e transferidas para outros, se torna chata, pois, exala uma energia que patrão algum quer ter por perto. Desse modo, até para ter o emprego que sua qualificação acadêmica permite você precisará parar de ser uma coitadinha, sempre esmolando favores, e sempre andando como quem diz: “Eu sei que não dará certo!”

 

Ora, o mesmo vale para homens também. Homem algum que eu conheça [exceto os mais coitadinhos que você] desejará estar com uma mulher negativa, depressiva, triste, coitada, e vergada por dores que só existem porque são nutridas pela própria pessoa.

 

Quem tenta mudar pai, mãe, mercado de trabalho e o mundo a fim de ser feliz, morrerá de dor e frustração.

 

Sim! Pois o único mundo que pode ser mudado por você é o seu mesmo. Sim! O mundo do seu olhar, do seu interpretar e do seu agir.

 

Entretanto, enquanto Jesus não for “glorificado” em você como seu Senhor em tudo, como sentido de sua existência, então, tudo será como está. Todavia, se em seu olhar Ele se tornar o Sentido Absoluto de sua vida, então, mesmo presa, com fome, com frio, sem amigos, sem presenças, sem ajudas e sem nada, ainda assim você entenderia o sentido das pequenas coisas, e, em todas elas veria o amor de Deus, o que daria a você sentido para ser em tudo, até nas coisas insignificantes como um “jumentinho”.

 

Pense no que lhe falei.

 

Não sei onde você reside, mas, entre no site, no link Caminhando, e veja se há uma Estação do Caminho da Graça próxima a você, e, em havendo, procure os meus irmãos, pois, eu sei, em qualquer uma delas você será não apenas bem-vinda, mas, sobretudo, ajudada.

 

Como dever de casa, além do que já lhe sugeri, peço também que você leia o site todo, cada página dele [ e são milhares], pois, eu sei, por ver isso acontecer aos milhares, que você não o finalizará sem ter entendido o que é carregar “Jesus glorificado” em sua vida.

 

 

Faça o que lhe disse, e, quando puder, me dê um retorno!

 

 

 

Nele, que nos chama a aprendermos a ser felizes em humildade, ou até chorando ou sendo perseguidos,

 

 

 

Caio

 

2 de julho de 2008

Manaus-AM