DEUS E DEUSES
Deus está na assembléia divina; julga no meio dos deuses…
Pequenos deuses se enfrentam na Terra enquanto grandes deuses se escondem nos porões da Civilização. Tais deuses, todos eles, são conhecidos na Terra por aqueles que lhes representam.
Há o deus da verdade absoluta, que teria criado todas as coisas e que estaria irado em razão de sua criação ter se enfeiado. Porém, como estratégia de conquista, ele diz que é bom, que ama a humanidade. Mas se alguém não chegar a ouvir acerca disso, ou não entender a linguagem, ou não gostar do modo como tal comunicação é feita, irá para o inferno. O inferno desse deus supostamente seria um lugar como qualquer outro lugar no tempo e no espaço, só que fechado em fogo, enxofre, e gemidos intermináveis, um dia depois do outro, semanas, meses, anos, séculos, milênios, bilênios, trilênios, para todo o sempre! Aquém!
Há um outro deus que é da mesma família do primeiro, aliás, seria seu anterior, e que disputa pedaços de terra num certo lugar deserto do Planeta.
Compete diretamente com este último um outro deus, que é ressentido e vingativo, que se confessa aparentado com o anterior, aliás, seu meio irmão, ou coisa assim… — e que de tão complexado que é, se vestiu de ódio como devoção. Seus fieis seguem o ódio como piedade.
Num outro canto há o deus “Todos são Tudo e Tudo é Todos”. Os que o adoram desenvolvem profunda virtualidade, não virtude necessariamente; visto que a observação adoradora de cada coisa… suga o ser para dentro de cada elemento… diluindo-o na mais profunda subjetividade. Esse deus não é de briga, mas não é de vida. Ele parece não sentir, não se importar. Seu nome é Nada. Seu reino é o do não-sentir para não-sofrer. Mas cresce em seu útero uma grande sombra, e que deseja arremessar seu não-sentir contra todo o sentir da terra. Por enquanto ele nada diz. Mas em algum tempo o dirá. A voz do Nada se fará ouvir.
Soberana sobre todos esses pequenos deuses existe uma Potestade. É aquela que dá valor mensurável àquilo que não pode ser medido. Sem tal potestade o mundo não gira. Seu amor é a raiz de todos os males. E não há deus que dela não se sirva na terra.
Há outros deuses superiores a esses… Não aparecem, mas se fazem representar por todos os outros que aparecem na história. Todos eles se alimentam das produções que o andar terreno desses pequenos deuses levanta como poeira. Eles comem o pó da Terra faz muito tempo; ou melhor: desde que a Terra virou Mundo.
Mas sobre eles há um que se alimenta de tudo o que todos os anteriores comem. De tal modo que não se divide nunca, porque existe de comer a si mesmo. Está em sua natureza ser solidário com a morte, e amá-la como o dom do anti-amor e da anti-vida. Daí o comer a si “mesmos” em intensa e sôfrega solidariedade na morte.
Acima desses todos há Um Alguém!
Ele olha e diz que em todos os lugares há pequenos corações humanos sendo iluminados, que todo o trabalho dos deuses e toda a sua presunção, não passam de um sonho ante a Sua Revelação.
O Dia do Despertar se aproxima, e todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Ele é Senhor para a Glória de Deus Pai.
Sim! Confessar-se-á que Ele é a verdadeira Luz que ilumina a todo homem, e que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis na Graça. Pois Ele é o Cordeiro imolado antes da fundação do mundo, para que Nele, por meio Dele, e para Ele sejam todas as coisas.
Um Dia, na Cidade de Portas Abertas, todas as gentes poderão comer das folhas da Árvore da Vida e receberão a cura dos povos.
Os deuses, todavia, não estarão mais presentes, pois, na Cidade das Portas Abertas, não existe santuário, muito menos deuses e religião.
Nele, que com Seu Calcanhar feriu a cabeça da serpente, de seus deuses, e dos deuses de seus deuses,
Caio
Escrito em 2005