DEUS ME ENGANOU!
—– Original Message —–
From: DEUS ME ENGANOU!
Sent: Friday, October 29, 2004 5:46 PM
Subject: A vida sem fé…
Querido Caio,
Antes de tudo sei que certamente vai levar tempo pra ler este e-mail e principalmente pra responder, contudo estou à espera de ajuda por tanto tempo que não me importa esperar mais.
Um “amigo” me indicou seu site por motivos muito óbvios… Eu sou espiritualmente doente.
Vou tentar ser bem clara pra agilizar seu entendimento.
Estou há 4 anos longe de Deus, ou melhor dos caminhos que um dia segui. Motivo de espanto foi para todos que me cercaram quando avisei em alto e bom som: “Cansei de ser cobaia de Deus. Ele criou-me simplesmente com o intuito de depois me destruir.”
Fui evangélica por alguns anos e desfrutei da incomparável presença de Deus; tinha contato direto com Deus; tive uma vida moldada de certa forma que tinha como entendimento que Cristo morreu para fôssemos livres, filhos de Deus, sem tirania, em santidade; e sempre achei que as pessoas dentro de qualquer igreja se fitam muito nos líderes. Sem dúvida que qualquer um líder tem que ter uma vida santificada, mas são homens como eu e você, por isso o patamar de santidade é Cristo, eu não tenho que olhar pra cá ou acolá, somente para Cristo.
Aconteceu que bem no “auge” dessa caminhada desejei algo. Como tudo mais em minha vida, pus diante de Cristo para que Ele aprovasse. Esperei por um longo tempo para saber se era ou não da vontade de Deus. Durante esta espera, orei, jejuei, e busquei incessantemente a direção do Pai, que em nada falta a seus filhos. Mas Deus por vezes se calava, outras vezes confirmava o desejo do meu coração. Foi uma época muito triste de minha vida, porém continuei a buscar, até que um dia recebi uma resposta: “Não é desejo do meu coração isso!” Senti-me arremessada ao inferno, arrastei-me até a superfície, somente pedi força; só isso; não deixaria de amar Deus por Ele não aprovar meus sonhos.
O problema é que depois disso me senti como uma peça de leilão, e os únicos clientes eram Deus e o diabo. Deus calou-se durante todo o leilão, o diabo levou-me como troféu.
Estou até hoje no inferno, cansei de buscar, minhas forças se esgotaram, aceitei viver no inferno espontaneamente, e me acostumei; tomei pavor de tudo referente a Deus, sejam canções, palavras, amigos, tudo… menos alguns princípios.
Depois de muito tempo consegui ir à igreja e assistir todo o culto, murmurando, blasfemando, mas assisti. Hoje queria muito voltar a conviver com Deus. Sei que Ele tem um propósito em minha vida. Sei que tudo o que aconteceu foi fruto do meu coração que, como todos os outros, é enganoso. Porém ainda existem vestígios da mágoa que fiquei de Deus.
Outro dia fiz contato com uma pessoa que fez parte dessa época do “desacreditar”. Tinha a firme convicção que a destruiria, assim como ela ajudou a destruir minha fé, pois hoje tenho armas o suficiente para destruí-la, reduzi-la ao pó. Mas trocaria tudo pelo prazer de simplesmente crer. Como é bom crer em Deus!
Não consigo voltar… Estou alheia a tudo isso… Já tentei, porém não consegui.
Me ajude, mas não me diga, “procure uma igreja, alguém que possa lhe ajudar em oração”, pois isso já tentei, e de nada valeu.
Atenciosamente,
Resposta:
Minha querida amiga: Paz e Paz!
Conseguiram confundir a sua alma. Ou, quem sabe, você mesma se autoconfundiu, num mecanismo intenso e quase que deliberado de auto-engano.
Digo isso porque quem diz certas coisas que você diz, e diz com “certeza”, não diz, também, com as mesmas “certezas”, as demais coisas que você afirma.
Você diz que o homem é falho (certo), que se tem que olhar para Jesus (certo), e que você sabe que o que lhe aconteceu é responsabilidade sua (certo), e que Deus é bom (certo), e que você sente saudade do “convívio” com Ele (legal). Ao mesmo tempo, você diz que no “auge” de seu amor, Deus lhe negou um pedido, e que, em razão disso, você passou a odiá-lo (pura maluquice).
Por que pura maluquice?
Ora, você não disse qual era o sonho, mas muito provavelmente fosse um amor, uma pessoa a quem você amava e queria. Então você põe isto diante de Deus; e Ele, certamente não por Urim e Tumin, lhe respondeu. Não creio que você também tenha colocado a lã de Gideão na grama de seu quintal. Portanto, sobram duas alternativas para tal “resposta divina”, já que se Ele tivesse falado, Ele mesmo, com você, ainda que fosse por visão ou sonho, sua reação ao Encontro seria tão poderosamente chocante que desse Encontro você não sairia amargurada, mas docemente esmagada pelo sublime, e, portanto, apaixonada por Deus.
Desse modo, sou levado a crer que a “resposta de Deus” veio a você por “Biblioroscopia” ou “Bibliotarografia” (que é quando a pessoa abre a Bíblia ao acaso, põe o dedo, e o que “cair” é a “vontade de Deus”) ou então foi por profecia; nesse caso, uma “profetada”.
Portanto, minha querida, o que você chama “Deus” nesse pacote, respeitosamente, eu chamo loucura, maluquice e transferência imatura de responsabilidade. Sim, eu chamo essa “boacumba” de infantilismo espiritual e total falta de vontade de crescer, de ser adulto, de ter uma consciência pessoal e de ter coragem de escolher, acertar, errar, e viver pela fé.
O “Deus” que você quer —esse que controla, que teleguia e usa um GPS celestial para mostrar a você o mapa do caminho e onde você deve se posicionar— não é o Deus Vivo, que é sutil em Seu todo-poder, e que é amante da liberdade humana, e não intervém sobre os homens como se eles fossem teleguiados, andróides controlados pelos céus.
Na realidade esse projeto de “Deus” é mais parecido com o do Anticristo, que a todos quererá controlar, que a ninguém permitirá qualquer forma de autodeterminação, pois a tudo e todos deseja e desejará possuir como é próprio do demônio. Assim, esse “Deus” muito se parece com o diabo.
Ora, o que você chama “Deus”, vamos deixar claro, eu chamo de piração, de infantilismo, de religião fanática, de profetada maligna, de curso de imbecilização humana; e que muito freqüentemente atende pelo nome de “igreja” ou “profeta”.
Ora, como Deus não teve nada a ver com o que lhe aconteceu, e jamais terá, enquanto você pensar que Ele é essa maluquice, nada tenho a lhe dizer acerca de Deus mesmo.
Sugiro que você procure o seu “ex-Deus” —ele deve atender pelo nome de algum profeta ou amigo de fanatismo religioso do tempo do “auge”— e lhe diga que você está “pau da vida com ele(a)” e que a culpa é toda sua, pois uma menina ou mulher que sabe escrever bem como você, e que tem a acidez de alma e mente crítica que você tem, não pode e não tem mais o direito de atender a “Deus” conforme criações religiosas e psicológicas, e nem tampouco tem permissão para embarcar na otariedade das profecias de Pinochio.
Chame esse “Deus”, ou o seu representante profético para conversar, e diga como seus olhos se abriram, e que agora você sabe que se há um “Deus” precisando entrar no cacete, é esse “Deus” que diz que decide quem ama quem, quem casa com quem, e quem tem que fazer o que da vida.
Sinceramente, esse tipo de “Deus” nunca banca o engraçado e nem fala comigo, pois esse “Deus” e seus representantes sabem que eu sei Quem é Deus de fato, e também sabem que eu sei que eles nada mais são que estelionatários. Assim, se viessem com essa conversinha oracular para comigo, ficariam com um problema auricular, bem no pé do ouvido, e zumbindo por dias e dias… Sim, sem voz alguma, mas apenas o som duradouro de um estampido no ouvido.
O que me incomodou na sua carta foi seu infantilismo arrogante e bobo. Pare de besteira (aqui no Rio se diria: de frescura) e ande com Deus, pois, eu sei, você sabe, e qualquer um que não seja idiota também sabe que sua história inteira tem apenas a ver com as frustrações de alguém que entregou a sua vida para ser controlada por “Deus” (por “Deus” entenda-se os “profetas”), e que quebrou a cara, como é de se esperar que aconteça 99% das vezes.
Portanto, ao invés de ficar com esse papinho de “Deus me traiu…” ou “Estou com raiva de Deus…”, apenas diga: “Fui uma otária, boba, imatura; e mais boba fui ainda por ficar dizendo que Deus tem alguma coisa a ver com isso”.
Portanto, se enxergue… e tudo ficará bem.
O que me impressionou foi o seu mecanismo de auto-engano e autoboicote. Eu diria é que é tão bandeiroso e deliberado, além de ser praticado com uma certa arrogância boba, que não fosse esse o nosso primeiro contato, sinceramente eu diria que antes de falar com “Deus” você deveria procurar um psicoterapeuta.
Meu pai me ensinou que é “pau grande que mata cobra”. Daí, com todo respeito, esse cacete que estou lhe dando é para matar essa sucuri que está amarrando você, e que hoje é alimentada por você mesma.
Dou essa cacetada com todo amor, pois tudo o que você não precisa é de massagem nessa brincadeira de “estou com raiva de Deus”.
Minha filha, Deus é outra realidade; e se um dia você o tivesse conhecido, não estaria “de mal” com Ele por causa de um pirulito, que era sua prerrogativa chupar ou não, mas você transferiu a responsabilidade para outro “menino-profeta” e ele vetou, por razões que podem ir da mais simples mesquinharia humana, ou fome de poder e controle, ou até ciúme do pirulito.
Pense no que lhe disse e me escreva. Mas antes leia o site. Mergulhe nele. Vi que você nunca entrou aqui, pois, caso o tivesse feito, já não viria com as questões do pirulito.
www.caiofabio.com
Entre e leia tudo. Depois me escreva.
Com muito carinho e sinceridade,
Caio