DIFERENÇA DE IDADE: o senhor juiz e a jovem… (I e II)

 

 

 

—– Original Message —–
From: DIFERENÇA DE IDADE: o senhor juiz e a jovem…
To: [email protected]
Sent: Monday, September 04, 2006 11:32 AM
Subject: meu pai.

 

Conheci seu site através de uma amiga, e o tenho visitado regularmente. Admiro muito você; e fico fascinada com seu jeito humano de ser.

Preciso de sua ajuda.

Casei com um americano. Só durou um ano. Ele era frio, insensível, não me olhava nos olhos, não me ouvia, era indiferente… Eu não sou uma mulher feia. A genética até que foi generosa comigo. Sempre fui uma menina bem humorada, alegre… Ele detestava meu modo de ser. Comecei a fazer o “que o mestre mandava”; e quando olhei para o espelho, não me reconheci.

Separamos-nos. Não deu tempo de termos filhos, ainda bem.

Aí fiquei mais seletiva. Depois de dois anos vivendo sozinha por opção, conheci um homem maravilhoso, com as características que eu admirava. Era gentil, atencioso, bem humorado, inteligente, cheiroso, e se preocupava comigo. Ele é juiz. A diferença de idade entre nós é de 23 anos. Quando saímos as pessoas às vezes perguntava se eu era filha dele. Ele brincava dizendo: “essa é a mais nova, você precisa conhecer a mais velha”. Aí as pessoas percebiam a gafe e se desculpavam. Isso nunca foi
problema pra nós, eu só tinha o cuidado ao sair com ele, de evitar decotes, roupas um pouco curtas… Tinha medo das pessoas acharem ou me confundirem com prostitutas. Ele achava bobagem minha.

Aqui onde moramos é assim… Um homem bem sucedido com uma menininha é sinal de interesse financeiro da menina. Ele me apresentou tudo: o amor, bons restaurantes, hotéis, países, uma vida interessante.

Meus pais não aceitaram nosso relacionamento. Eram indiferentes, rejeitavam qualquer aproximação. Ele sempre cordial fazia de tudo para conquistar a amizade deles, mas tudo inútil. Faz dois anos que estamos juntos.

 
O sexo entre nós é maravilhoso. A química é perfeita. Ele me satisfaz  plenamente.

Estava tudo bem entre nós. A única queixa dele era que ele não participava de nenhum acontecimento da minha família. Isso o incomodava muito, porque ele é uma pessoa querida por todos, nunca foi rejeitado… Mas meus
pais não aprovaram nossa união por causa da diferença de idade.

Aí ontem, Caio, ele deu um basta. Disse que não poderia ficar comigo. Disse que meus pais venceram. Eu arrumei minhas coisas com ajuda dele, chorei muito, ele me acompanhou até meu carro e me desejou boa sorte.

Estou desorientada, tonta… Está tudo tão estranho. E agora o que fazer? Termino porque as lagrimas impedem que eu continue teclando… 
 

Abraços


P.



Minha querida amiga: Graça e Paz!

 

Você não disse sua idade. Mas sendo a diferença entre vocês de 23 anos (talvez próxima da mesma diferença de idade que existe entre você e sua mãe) — creio que posso pensar que você tem entre 24 e 26 anos. Se for assim, ele pode ter entre 47 e 49 anos.

Ora, somente pais interesseiros no dinheiro, no status, nas oportunidades para a filha e a família — é que achariam o máximo que a filha casasse com um homem bem mais velho; e isso apenas ou, sobretudo, porque ele é bem-sucedido. Há também aqueles pais que querem ficar livres da filha, e entregam a menina a um senhor bem mais velho, pois, assim, a menina tem casa, dinheiro e status. Ora, isto acontece toda hora. Do contrário, pais sadios, preocupados com a filha e com seu futuro como mulher — não têm como gostar de tal união; pelo menos antes de conhecerem muito o cara.

Namorados da filha quase da idade dos pais é algo que raramente deixa pai e mãe felizes. O pai especialmente se sente muito mal. Sim, porque ele projeta uma relação de natureza incestuosa acontecendo entre a filha e o senhor juiz. Isto sem falar no que eles possam ver no juiz (e que você não enxerga) ou sentir nele (e que você não percebe).

Você mesma, nesta carta, nada disse sobre amar o juiz. Apenas disse o seguinte: “Conheci um homem maravilhoso, com as características que eu admirava. Era gentil, atencioso, bem humorado, inteligente, cheiroso, e se preocupava comigo. Ele é juiz” — “Ele me apresentou tudo: o amor, bons restaurantes, hotéis, países, uma vida interessante”.

Quanto ao mais, você apenas falou que ele gostava de tirar uma onda dizendo que você era a filha mais nova, e que, em não sendo aceito por seus pais, se sentiu rejeitado, pois, “todos gostam dele”. Portanto, pergunta ele: “O que os pais dessa menina têm que não dão valor a quem sou e ao fato de que todos me respeitam e adulam?”

Sim, esse foi o Retrato Falado da relação de vocês: amor, bons restaurantes, hotéis, países e uma vida interessante.

É verdade que você começa falando de amor, mas a seqüência quase que por completo dilui a afirmação acerca do amor, posto que somente algumas “vírgulas” o separam de grandes basbaquices e banalidades: bons restaurantes, hotéis, países e uma vida interessante… 

De fato, provavelmente seus pais não sejam chatos e nem implicantes, mas viram e sentiram algo que você, provavelmente, só venha a saber quando o bicho pegar.

O fato de o juiz curtir a diferença de idade com bom humor, é simples: primeiro porque ele não pode mudar os fatos (ele é bem mais velho e você é uma menina); segundo porque ele curte andar com uma gata jovem ao lado dele (ele é divorciado? A quanto tempo?) — o que dá a ele um troféu e um sentimento de rejuvenescimento.

Ele não ama você. Sim, ele gosta. Ele se sente bem. Ele ama o sexo. Ele tira boas ondas ao seu lado. Ele comenta com os amigos sobre a gata que ele “pega”. Ele ouve os amigos dizerem que “ele se deu bem”; e gosta muito de ouvir (Eu sou homem, ouço os homens, e sei como é). De tal modo que a brincadeira acerca da diferença de idade entre vocês, ao contrario do que você pensa, não é um constrangimento para ele, mas uma curtição. Afinal, esse é um senhor que não tolera o que é desagradável. Portanto, caso tal coisa fosse a ele constrangedora, saiba, ele teria feito a mesma coisa que fez em relação a seus pais: diria que não poderia ficar com você, que a diferença de idade venceu. Porém, objetiva, gentil, e educadamente ajudaria você a arrumar as suas coisas, ouviria você chorar muito, embora ele mesmo acompanhasse você até o seu carro e lhe desejasse: “Boa sorte!”

Para mim, sinceramente, a questão verdadeira não é esta. Ele é, como quase todo juiz, um cara com síndrome de onipotência, e que não suporta ser tratado na vida de modo diferente daquele com o qual ele é tratado como magistrado. Foi o fato de que seus pais não o viram como juiz, mas apenas como um homem, e que ao ver deles não seria bom para a filha deles — o que o deixou louco. Ora, ele é adulado aonde vai. “Por que, então, esses caras não vêem o privilegio que têm pelo simples fato de eu estar com a filha deles?” — pensa e sente ele. Sim, como se estar com ele, o juiz respeitado, fosse um privilégio para quem fica.

Se ele amasse você de fato, e não apenas gostasse de curtir uma namorada bem mais nova, saiba: ninguém e nem circunstância alguma faria com que ele deixasse você. Ao contrário, se ele a amasse, ele enfrentaria tudo e todos; e não haveria poder humano para fazer com que ele deixasse você.

O que ele não suportou foi a falta de honra e glória que a ele não teve em sua família!

O ego gigantesco do juiz não aceitou ficar no banco dos réus da família. O que, para um homem apaixonado, seria algo simples; especialmente quando se ama. Pois, em tal caso, maduramente, ele reconheceria os limites dos pais; porém, também saberia que o amor perseverante vence tudo. Assim, ele não se queixaria como uma criança adulada, dizendo que não suporta ficar com você porque a sua família não julga ser um privilegio tê-lo em suas festas de fraternidade. Afinal, todos os querem. “Por que então esses pais recalcitrantes não vêem que ter-me ao lado é uma honra para eles?” — pensa o juiz.

O que eu creio (e apenas em razão do que você soltou nas entrelinhas) é que vocês iriam ainda para bons hotéis, bons restaurantes, alguns países, e transariam muito — porém, em algum tempo mais, você começaria a achar as coisas diferentes; e, em um tempo além, apareceria o fato de que ele já estaria desfilando com outra criança-troféu.

Pedofilia psicológica!

Narcisismo!

Síndrome de onipotência!

Insegurança travestida de poder!

Síndrome de Peter Pan togada de juiz!

E mais: toda essa gentileza esconde um cara que usa a educação (ele é juiz) a fim de agora poder dizer: “Eu fui bom pra você, mas eles não me reconheceram!” — como se pais sinceros e maduros estivessem interessados em gentileza, dinheiro, e bons programas para a filha…

Ora, tudo isso sem falar na diferença de idade.

Veja: ele deve ser mais novo do que eu algo entre dois e quatro anos. Imagine: dentro de quinze anos ele terá sessenta e quatro e você quarenta (ou terá 62 e você 38). Em mais dez anos, você teria cinqüenta (ou 48) e ele setenta e quatro (ou 72). E mais: você teria deixado a juventude e a chance de conhecer jovens como você, e, agora, chegando à idade da loba, com toda chance, olharia à sua volta e sentiria inveja da normalidade da vida. E, como vejo em quase todos os casos desse tipo, o marido pega menininhas mais novas do que a mulher antes nova (você), e a esposa (você) começa a sentir um enorme desejo de conhecer homens somente um pouco mais velhos. Aí, então, o bicho também pega!

O que de fato creio é que ele gosta de você, que acha você jovem e bela, que curte com você, e também com os amigos, por sua causa; que é bem humorado porque você não é mulher dele e nem compartilha o peso da vida com ele; e porque você dá a ele uma forte sensação de rejuvenescimento.

Você é a fonte da juventude para ele, mas não é água de vida.       
    
Além disso, a desistência dele foi muito tranqüila. “Boa sorte!” — e pronto. O que isso revela? Primeiro que ele gosta de você, mas ama muito mais o respeito que a ele é devido como juiz. Afinal, com tantos pais na cidade dispostos a entregar suas filhas a ele em troca de status e de bons restaurantes, hotéis, países, e conforto, por que os seus não ficaram se sentindo honrados? — é a questão dele. Segundo porque ele não quer stress. A vida dele é boa. Ele não tem que sofrer “rejeições” (ele é o juiz). E ele não precisa passar por isso, tanto porque ele tem alternativas em abundância como porque ele não ama você; e, portanto, não vale a pena para ele o ficar se sentindo um cara mais velho e rejeitado em sua família apenas porque ele resolveu pegar uma menina, podendo simplesmente chegar a outra família e ser chamado de “Excelência!” — coisa essa que, graças a Deus, para seus pais é bobagem, banalidade e pirotecnia social das mais bregas e tolas.

Ora, tal postura, muitas vezes, é típica de autoridades infantis e inseguras.

Por outro lado, sinceramente não creio que um homem maduro e desejoso de ter uma vida com alguém una-se a uma menina-troféu.

Tendo dinheiro e independência, qualquer homem que ame uma mulher, não sendo aceito na casa dela, apenas a tira de lá, casa-se com ela, vive uma boa vida com ela e espera o tempo em que os pais dela possam dizer: “Nós não queríamos, mas nos enganamos; pois, esse moço é bom mesmo, e ama a nossa filha; e, portanto, não deve mais ser objeto de nossas preocupações. Pois nossa filha está feliz!”

Não tendo feito isto, é porque apenas gosta de você. E meninas ‘gostáveis’ ele sabe que existem às pencas. Ou, como diz um amigo: “Meninas boas para se correr uma milha, mas não pra tirar um cria”.

Ele quer uma gata para correr algumas milhas (restaurantes, festas, hotéis, motéis, viagens, etc.), mas não pra tirar uma cria (casar, ter filhos, e, juntos, enfrentarem o mundo).

Se eu fosse você, agradeceria a Deus!

Espere só mais um pouquinho e você verá que ele passa desfilando com “outra você”. Espere e veja!

O problema também é que você veio do americano frio e indiferente, e encontrou um juiz tarimbado, cheio dos bons modos, cavalheiro, e que lhe oferecia “uma vida interessante”. Então, pela inexperiência e pelo trauma-americano, você apenas transferiu as coisas. Porém, se vivesse com ele uns cinco anos, provavelmente você me escreveria dizendo como foi bom no começo, mas que agora, todos os dias sob o mesmo teto, você não suporta maia ser traída e ser deixada de lado; além de que também estaria se sentindo carente, e, por conta disso, passando a prestar atenção a um monte de homens jovens, e que olhariam pra você com uma avidez que nele já não existiria. E, quem sabe, até as gentilezas já se tenham desvanecido, dando lugar ao arbítrio e à grosseria.

Eu teria muito mais a lhe falar. Mas hoje é sábado, e a família me espera para juntos curtirmos “o Grand Sabath”, como diz minha mulher.

Pense no que lhe disse, e não queira mal aos seus pais. Eu, no lugar deles, desejaria comer muito sal com esse juiz antes de passar o veredicto de inocente; e só então poder “baixar a guarda”.

Um beijo pra você!

Você não vai perder nada!

 

Nele, que não fez Adão velho e Eva uma menininha,

 


Caio

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—– Original Message —–
From:
To:
Sent: Friday, September 15, 2006 8:30 AM
Subject: Você estava certo.


Olá Caio,

Não esperava uma resposta tão rápida. Todas as suas afirmativas estavam certas. Eu tenho 24 e ele 47. Ele gostava de mim, mas não me amava. A desistência dele foi muito tranqüila.

E acredite: ele, o juiz, já está com outra. Linda, e com idade parecida com a minha.

Quando vi os dois juntos, não tive ciúme, raiva ou sentimentos parecidos. Tive sim uma sensação de alívio; e lembrei de você me mandando agradecer a Deus.

Não perdi nada!

Acho que pelo trauma do meu casamento fracassado achei que ele seria o oposto de tudo que vivi… Aí projetei, idealizei coisas.

Já estou bem, mas confesso que ainda sinto uma saudadezinha dele. (rs)

Vê se pode?

Beijos em você e obrigada por ter desvendado TUDO. Nem precisei pagar um terapeuta. (rs)

Você é um homem especial — inteligente, atencioso e muito criativo (adorei o final — “Nele, que não fez Adão velho e Eva uma menininha”). Isso tem algo a ver com sua idade? (rsrs)

bye, bye

P.

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Resposta:


Minha querida: Graça e Paz!

 

Fico feliz que sua alma se submeteu à verdade no espírito e do Espírito!

Você falou de minha idade ou da do juiz?

Ora, eu sou mais velho do que ele. Aliás, quando tinha entre 20 e 30 anos, minha idade mental era de 80 anos. Hoje, com 52 (praticamente), estou mais jovem de alma do que nunca. Espero chegar ao fim bem jovem Nele. Meus filhos me rejuvenescem, e os netos também. E minha mulher tem quase 50 anos e é mais garota de alma do que a maioria das meninas que conheço — quase todas velhas, sem esperança, e entregues a qualquer bagulho ou projeção.

Mas o seu “ex-juiz” não só é bem mais velho que você, como também é totalmente idiotado. Sofre de profunda insegurança; e pensa que a fonte da juventude está entre os seios e as pernas de uma menina mais jovem. Pobre dele. Enrugar-se-á sem nunca virar homem.

Se continuar assim, será sempre um juiz-meninão!

Meu pai vai fazer 80 anos, e é tão jovem de mente, alma e espírito, que pôde se tornar um ancião leve, alegre, galanteador da vida, e forte e útil como uma oliveira de Jerusalém.

Não busque ninguém. Se buscar, apenas achará bagulho. Sim, bagulhos de alma.

Ande no seu caminho. Seja você mesma. E não se deixe escravizar pela carência. E você será achada pelo que é bom.

Jamais namore suas projeções. Elas são miragens que matam o senso de realidade!

Receba meu carinho!


Nele, que fez Adão para Eva, e Eva para Adão; e Adão não disse: “Meu Deus! Que menininha!” — mas disse: “Essa sim. Essa é como eu!”


Caio