DYSCRASIA: papai está vivendo morrendo e morrendo vivendo!
Eu, Suely e Ana acabamos de voltar da UTI [são 3 horas da madrugada].
Aí pelas 18:00hs papai estava terminando uma diálise quando notaram que ele, até então em franca recuperação da última intervenção cirurgia [antes de ontem], estava sangrando sem sentido algum.
Nós nos preparávamos para ir ao Hospital quando o Dr. Marcel ligou pedindo que eu fosse logo, pois, estava acontecendo algo inesperado e negativo em face ao nítido melhor estado dele; e me disse que antes de maiores complicações, o abririam outra vez para ver se o sangramento vinha da última operação, na qual houve a remoção de um pedaço do intestino do bichinho, ou se teria outra procedência.
A primeira notícia que veio da sala de cirurgia foi boa. Não havia nada aberto ou infectado. Alem disso, todos os padrões vitais dele estavam ótimos [e ainda estão].
Depois o Dr. Marcel ligou lá de dentro e me disse que não tinha boas novas. O quadro era de uma dyscrasia.
Ora, a dyscrasia é uma desordem generalizada no sangue e que pode levar a pessoa a sangrar até à morte.
Veja o link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alternativas_m%C3%A9dicas_ao_sangue
Nem mais fecharam o abdômen dele. Puseram uma tela a fim de poderem continuar a encher o lugar mais danificado [a região abdominal, a loja prostática, os dois rins operados e, por fim, o intestino] com compressas de gelo, isso enquanto se infunde nele todo o sangue de que ele vier a precisar.
Pela primeira vez o médico veio a mim, com a cara de quem diria algo sobre seu próprio pai, e me disse: “Agora, na idade dele, só um milagre!”.
Levaram-no de volta ao “aquário da UTI”.
Acompanhamos seu corpo entubado e sangrado, inerte, ser levado da UTI para a sala de cirurgia, e, horas depois, de volta à UTI.
Dói muito ver aquele anjo de Deus sangrando. De fato, quando me mostraram o corpo dele desnudo, meu choque foi grande, pois, o que vi me parecia com uma cena artística de Jesus deitado, aberto, vazado ao lado pela lança, e todo ensangüentado, além de carregar a maceração da morte na pele pela imensa perda de sangue.
Preparam-no e nos mandaram entrar, como quem faz a concessão da despedida!
Suely, Ana e eu entramos…
Fui direto sobre ele e falei-lhe ao espírito tudo o que sei que ele falaria a mim. Impusemos as mãos sobre ele e oramos. Oramos pedindo a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Mas também pedimos que o Senhor lhe tiresse de mais essa região da sombra da morte, parando a dyscrasia, e dando a ele a chance de se recuperar o suficiente para voltar para casa.
Outro médico veio a mim na intenção de nos preparar para o pior, sem saber que já não vivemos de nada pior faz muito tempo. Somos gente da vida e da esperança; e a morte já não nos diz nada há muito tempo. E não dirá mesmo que ele se vá agora.
Fui ao banheiro da UTI e me prostrei em adoração ao Senhor!
Tudo parecia uma cena bíblia; e meu coração se curvou ante o Deus de Moriá; e, assim, o adorei em espírito na companhia silente de meu pai, que estava no aquário ao lado.
“A morte é vossa”, disse Paulo; e é assim que a vemos!
Do carro mesmo liguei para o Dr. Marcel, que estava triste como a tristeza pode ser. Consolei-o e disse a ele que nosso Deus não é possível, mas que é o Deus Impossível. E garanti-lhe que seja qual for o resultado, o trabalho dele foi muito mais do que o de um médico apenas. Manifestei-lhe toda a nossa gratidão e reverencia.
Voltamos para casa e consolamos nossa apaixonada mãezinha.
Agora minha mana Suely levou mamãe para dormir na casa dela, Ana foi para casa aqui ao lado, e eu estou aqui, na casa dos meus velhinhos lindos, só, andando de um lado para o outro, em paz, mas lavado; de fato, alagado de emoções.
Há pouco liguei para o enfermeiro-anjo, o Hilton, e perguntei como passava o meu santinho. Ele disse: “Olhe! Não sei não… Nem refiz o curativo. Aparentemente o sangue deu uma melhorada. Vamos ver. Vamos crer. Vamos esperar. Estou sentando ao lado dele e de olhos bem abertos”.
Eu estou em paz.
De fato, meu desejo ardente pela recuperação dele, além de ser fruto de tão sublime amor que nos nutriu a vida toda, é também pela minha mãe; pois, de fato, eu gostaria que ele voltasse para casa e que tivesse um tempo [não importa a duração] de convívio e despedida de todos nós; do jeito que eu sei que na Graça nossa alma aprendeu a viver e provar. Sim! Algo como morrer cantando, por exemplo.
O estranho é que até agora todos os parâmetros clínico–laboratoriais dele estão bons: batimento cardíaco, pressão arterial, urina, funcionalidade dos intestinos e rins, pulmões, etc.
“Senhor! Aquele a quem tu amas está enfermo!”
“Esta enfermidade não é para morte”, disse Ele; mas Lazaro morreu.
Assim, sei que esta enfermidade não é para a morte, mesmo que meu pai se vá; pois, as enfermidades para a morte morreram para ele faz muito tempo.
“É para que se manifeste a glória de Deus”; e como ela tem se manifestado!
Pode ser que amanhã seja um dia de sepultamento; pode ser que seja um dia de Boa Nova!
O dia é de Deus; o de hoje; o de amanhã; ou qualquer outro dia.
E seja qual for o contorno do dia de amanhã, de antemão digo a tal dia: “Este é o dia que o Senhor fez; alegremo-nos e regozijemo-nos nele”.
Quem estiver acordado ainda agora, por favor, ore. Ore
Até meio morto o homem fala pelo espírito e pela paz que derrama!
Falei-lhe ao espírito e sei que ele me ouviu. Senti um tremor especial e diferente quando disse a ele que sabia que no fundo ele me ouvia. Sempre fizemos isso com quem estava em situação semelhante ou pior. Foi com ele que aprendi que é possível haver comunicação com o eu profundo das pessoas até em coma.
Seja como for, seja qual for o pão nosso de amanhã, o Senhor sabe que o comeremos com gratidão; pois, tudo o que desejamos é nos alimentar da Vontade que faz bem.
Nele, que ama os seus amigos e lhes diz que a morte já não lhes pode matar,
Caio
24/08/07
Manaus
AM
Ps.
São 5 da manhã em Brasília e 4 horas em Manaus.
O sangramento diminui e ele abriu os olhos.
Barriga aberta (telada), sedado, entubado e de olhos abertos!
Ninguém na UTI está acreditando.
“Seu Caio, ele é um guerreiro. Só Deus diz a ultima palavra, né? Estou chamando o pessoal para ver. Só Deus. Vamos ficar orando. Só Deus, seu Caio, só Deus!” — acabou de me dizer o Hilton.
Oremos!
Caio