E A PLANTA CONTA A HISTÓRIA…
ERAM UMA VEZ dois mamíferos, um réptil, uma planta e seu fruto. Eles se encontraram em um jardim.
O réptil perguntou aos mamíferos se eles gostariam se tornar deuses.
Os mamíferos disseram que era proibido, pois, quem tentasse virar um deus, morreria.
O réptil disse que não era assim.
Disse que os deuses é que diziam isto temendo aumentar a concorrência. Por isto, disse o réptil, não queriam que ninguém se tornasse como um deles.
Os mamíferos conversaram entre si. A fêmea aproximou-se e perguntou como fazer para virar um deus.
O réptil apontou para o fruto da árvore que representava todas as plantas, raízes e vegetais da Terra.
A fêmea olhou para a planta do Saber Divino. Ela era bonita e gostosa, e ainda carregava o poder de fazer um mamífero virar um dos deuses.
Ora, a árvore que era todas as plantas, assistia a conversa, mas nada dizia. Mas se a planta pudesse falar antes de servir seu fruto [o que lhe era proibido], pensava que certamente diria: Não! Não me comam assim. Pois, comer com culpa faz qualquer fruto ficar envenenado para quem come.
A fêmea mamífera tomou do fruto, comeu e o deu ao macho, que, também comeu dele.
Então, os dois mamíferos se tornaram semi-conhecedores do que era bom e mal na vida. Foram elevados até o fundo do abismo do saber dos deuses, mas não do conhecimento do Deus dos deuses.
Assim, a planta falou:
Descobriram que saber do mal e do bem não capacita nenhuma criatura a ficar melhor, mas, apenas, a se tornar pior? Digo-lhes isto porque aquilo que se adquire na transgressão da natureza das coisas criadas, já nos faz comer com a culpa que faz o fruto do bem e do mal tornar-se apenas mal para aquele que o come.
Então a planta continuou:
Sou uma árvore. Minha única ambição é servir, por isto dou fruto. Este é meu dom. Ando satisfeita sem sair do lugar. Cresço em todas as direções. Conheço as profundezas e entro nas alturas. Expando-me para todos os lados sem sair do meu lugar. Vejo as criaturas de cima e de baixo. Sirvo a todos e não saio do meu lugar. Quem tem fruto é sempre buscado. O fruto de uma árvore é dar seu fruto a todos. O fruto de um réptil é comer de tudo. Mas o fruto de um mamífero como vocês dois, que são seres de outra qualidade, é obedecer; pois, andando, podem escolher não andar, e, alcançando, podem decidir renunciar; e, também, vendo, podem preferir não cobiçar. Cada um dá seu próprio fruto. Comam-me com alegria, e lhes farei bem. Comam-me com culpa e os matarei. Meu fruto verdadeiro somente pode ser apreciado em paz de consciência. Agora, porém, eu matei vocês sem ter saído do lugar, apenas porque as mãos de vocês não se mantiveram na obediência. Assim, todos os frutos do mundo serão como eu para vocês, pois, vocês, por este ato, tornaram todas as coisas más aos seus próprios olhos; e isto apenas porque me comeram movidos pela ambição, e o fizeram como transgressão, daí agora estarem morrendo diante de mim. E o pior é que de agora em diante eu não serei mais conhecida como eu mesma, pois, vocês, mamíferos, me tornaram qualquer coisa, visto que agora qualquer coisa será sempre bem e mal para vocês, sendo, no entanto, muito mais mal do que bem.
O réptil gargalhou e saiu correndo para trás da árvore.
Os mamíferos, porém, gritaram um para o outro:
“Eva! O que fizeste?”
E a fêmea disse:
“Adão! Por que comeste?”
Então arrancaram folhas de uma figueira e, com tais folhagens, esconderam seus órgãos de reprodução, pois, agora, até o fruto e o prazer do homemífero estavam marcados pelo olhar do réptil, que acabou sendo o olhar desses novos seres: os seres da culpa e da angustia cheia de vergonha, e que se tornaram nossos pais e nosso destino atávico.
A árvore assiste a tudo, enquanto chora em gritado silencio sua extinção pela Terra.
O réptil observa a tudo, comendo o pó que procedo do caminho dos novos mamíferos, os homomíferos Adão e Eva, e que, agora, são bilhões espalhados e muito piorados sobre a Terra.
O resto é o mundo!…
Caio
Três de setembro de 2008
Pendotiba
Niterói
RJ