E NÃO É MAIS PARA PREGAR EM JERUSALÉM? – o dilema da água e da tigela!

 

 

 

 

 

E NÃO É MAIS PARA PREGAR EM JERUSALÉM? – o dilema da água e da tigela!

 

 

 

 

 

Esta última viagem a Israel me deixou sentido de um modo diferente. Depois de lá estar tantas vezes, desde a juventude, e, além disso, após lá ter estado em todas as fases de minha existência, dos 22 anos de idade para cá, pela primeira vez, senti-me não um visitante, ou um peregrino, ou mesmo um guia de conhecimentos bíblicos, mas, antes de tudo, apenas um discípulo de Jesus em terras bíblicas.

 

É muito fácil ir a Israel sem perceber o lugar como chão de missão!

 

Afinal, depois de tantos milênios de histórias e de disputas pela terra e seus “direitos adquiridos pela vastidão histórica”, com demandadores de direitos de todos os grupos e etnias possíveis, à exceção de umas poucas; e isso desde oito mil anos antes de Cristo até hoje — fica difícil dissociar o lugar do “presépio histórico”; tanto do que é descrito e narrado na Bíblia, como também de tudo o mais que se prende aos Gregos, Romanos, Bizantinos, Mulçumanos árabes e de outras etnias; tanto quanto dos Cruzados, dos Mamelucos, Turcos Otomanos, Jordanianos, Ingleses, Palestinos e, de volta, os próprios Judeus.

 

Desta última vez, no entanto, por diversas razões, não me senti em momento algum como alguém de passagem, mas sim como alguém que deve, em nome do Evangelho, não desistir jamais do mandamento de Jesus quanto a que se pregue em Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até os confins da Terra.

 

O problema é a humana impossibilidade de os cristãos serem levados a sério pelos implicados na questão relacionada à ocupação das terras bíblicas.

 

Sim! Em Jerusalém tudo o que não fala nada ao “outro” é a religião!

 

Religião é sempre a do outro, já que a nossa não é religião, é a verdade; crê todo religioso, crendo ou não na verdade, mesmo que seja apenas naquela verdade que nos é comum: a verdade que conhecemos em nós mesmos, existencialmente falando.

 

No entanto, para o “Judeu errante” entre nós por quase dois milênios, o “Cristianismo” é apenas uma “fábula judaica comprada como verdade pelos pagãos alucinados e incuravelmente idólatras”.

 

Já para os Islâmicos, o que chamamos “Cristianismo” é o corruptor do mundo desde que os primeiros convertidos ao Islã encontraram o poder dos cristãos e conheceram a força dos banhos de sangue com os quais os supostos discípulos de Jesus “batizavam” os seguidores de Maomé.

 

A História conhece Saladino como mais clemente do que Ricardo Coração de Leão.

 

Além disso, numa super-hiper-simplificação [a fim de que eu poupe você de uma inócua viagem histórica que sem sombra de dúvida corrobora o que aqui disse até este ponto], basta evocar o testemunho dos “guias de Israel”, os quais, por anos e anos lidam com toda sorte de “cristãos”, de todo o mundo, e, não fosse aquele o seu “ganha-pão”, gostariam de, em geral, não nos verem para sempre.

 

Os “cristãos” têm feito os “guias de Israel” ficarem cada vez mais cínicos para o Evangelho!

 

Os judeus de Israel nos vêem como somos: tolos, crédulos, fetichistas, racistas, arrogantes, insistentes, sem memória histórica alguma…; e mais: sem sentido do significado de história, povo, nação e compromisso; e, sobretudo, como pagãos alienados, e que dizem crer em ‘alguém’ que não conhecem, pois, não conhecendo quase nada de história e cultura judaica, pouco se lhes dá que tais pessoas conheçam qualquer coisa acerca de Jesus, visto que Jesus era judeu.

 

Sem falar que tanto para judeus quanto para islâmicos [árabes ou não], tudo é político; e nada existe que não seja político: do modo de tratar a mulher e os filhos, ao modo de ver povo, nação, dinheiro, tradição, cultura, e, sobretudo, a religião, que é o guarda-chuva sob o qual as demais coisas existem.

 

Assim, além de tolos e estúpidos, os judeus nos vêem como gente que interessa apenas para suporte político.

 

Já os islâmicos nos percebem em geral como gente que só interessa se convertida ao Islã. Do contrário, pelo simples fato de sermos “cristãos”, já fazemos parte do Grande Corruptor da Humanidade: o “Cristianismo” e suas políticas de “frouxidão romana”.

 

Desse modo, os lugares “santos” das terras bíblicas são manifestações medievais e vivas do livro-filme “O Nome da Rosa”.

 

E a força da potestade do fenômeno religioso é o poder supremo que se pode sentir pairando sobre Jerusalém.

 

Ou seja: em Jerusalém quando alguém fala, por exemplo, de Jesus, se põe na posição equivalente à daquele que entra na Disney e tenta evangelizar afirmando que o Mickey Mouse seja o salvador do mundo.  

 

Sim! Não estou exagerando!…

 

Entretanto, justamente por isto, passei a me perguntar se a atual fase e estado “disneylandiano” de Jerusalém para as três maiores religiões monoteístas da terra, suspende a necessidade de se pregar o Evangelho na Cidade de Davi.

 

Jesus disse que não se deixasse de pregar nas cidades de Israel até que viesse o Filho do Homem, tanto quanto mandou que se pregasse até os confins do mundo.

 

Em verdade vos digo que não deixareis de pregar em todas as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem!

 

 

Entretanto, mais do que nunca estou convencido de que pregar entre “grupos religiosos monolíticos” deve sempre implicar em esquecer o elemento “religioso”, qualquer que seja, e, ao invés disso, tratar as formas e ritos religiosos como mídia cultural para se veicular a Palavra.

 

Esta é uma das mais fascinantes implicações não do “fator Melquizedeque”, mas sim do “Fato Melquizedeque”, no qual reside nossa liberdade de pregar em todas as culturas e contextos da terra sem medo, temor e sem necessidade de pedir licença quanto à identificação com as gentes do mundo.

 

Afinal, Jesus é Sumo Sacerdote da Ordem que não tem genética, etnia ou genealogia como fato ou fator de qualquer importância.

 

Ou seja: a ação evangelizadora tem que ser no espírito Daquele que se encarnou, que se fez identificado com todos os homens; e acerca de Quem Paulo disse que com o fim de fazer a Palavra Dele conhecida, ele, o apóstolo, se fazia de tudo para com todos a fim de tentar salvar alguns.

 

Desse modo, no dia em que “O Caminho da Graça” fizer incursões evangelizadoras em países feitos de culturas como as que mencionei acima [tendo Jerusalém como paradigma], a ação será de identificação profunda e total com os elementos visíveis das manifestações culturais e religiosas dos grupos a serem alcançados.

 

Desse modo, falo de encontros em Mesquitas e em Sinagogas, tanto quanto em qualquer outro lugar.

 

Mais do que nunca o princípio de ser “sal da terra” [em lugares como os acima mencionados, e em contextos conforme aqueles aos quais fiz referencia] implica em se dissolver no ambiente dando-lhe sabor, embora ninguém saiba de onde venha o gosto.

 

O problema do “Cristianismo” é que ele é um exportador cultural, econômico e religioso, e não um expandidor da Palavra.

 

Ou seja:

 

O “Cristianismo” está no negócio de vender tigelas ao invés de ser apenas um diácono que serve água da vida ao mundo.

  

Sadu Sundar Sing, cristão e místico indiano, contou a seguinte história.

 

Um homem morria de sede numa estação de trem. Alguém tentou dar de beber ao moribundo numa taça de porcelana, mas o homem pertencia a uma seita hindu que só bebia em copo de bronze. O homem que tentava ajudar dizia ao homem sedento e carente que ele tinha que beber apenas a água, não o recipiente. Mas de nada adiantava. O homem preferia morrer de sede a trair a tradição que lhe dava identidade.

 

O “Cristianismo” é, todavia, como o homem que diz que deseja ajudar desde que o individuo beba a água da vida em nossas tigelas romanas, gregas e gentílicas.

 

Assim, quem diz ter a água dá prioridade às tigelas, ao mesmo tempo em que aqueles que nós dizemos que estão com sede, não são servidos por nós em suas próprias tigelas em razão de que nós, os que dizemos que somos o “povo da água da vida”, deixamos o mundo morrer de sede até que ele se converta às nossas tigelas culturais batizadas com água “cristã”.

 

O que farei? Ora, de fato não sei! Porém, sei que algo tem de ser feito. O mais é deixar com o Espírito de Deus.

 

Quem sabe algo novo está nascendo?

 

Se o for, que seja da parte do Senhor!

 

 

 

 Nele, em Quem a missão é sempre encarnação,

 

 

 

Caio

 

04/06/08

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