EM QUE IGREJA ESTÃO OS FILHOS DE DEUS?
—– Original Message —–
Saudações, amado pastor Caio!
Vem muito a calhar seu convite A CRUZ E A REUNIÃO DOS FILHOS DE DEUS. Tenho recebido uma enxurrada de decepções da chamada igreja. Sou convertido a mais ou menos cinco anos. Fui liberto de um vício de mais de 2 anos quando fui, à convite de minha mãe, pra Igreja Universal do Reino de Deus. Entendi mesmo que Cristo me libertou. Me apaixonei pela idéia de ser crente diante disto. Entendo hoje que minha paixão por Cristo foi acontecendo depois aos poucos.
Depois que fui batizado na Universal, comecei a participar das reuniões de estudos na A.D.B.R. Fui me envolvendo, conhecendo pessoas legais. Como tinha 19 pra 20 anos participava do Ministério com Jovens e um tempo depois estava substituindo o líder que estava a caminho do seminário. Me entreguei de corpo e alma ao “trabalho”. O ministério se solidificou. Dava aula na EBD pros jovens e organizava as programações sozinho. Vivia todas as pressões de um jovem membro de uma igreja pentecostal. Era solteiro, andava de skate e usava cavanhaque. Apesar daquele igreja ser uma AD bem liberal, nem todos me olhavam com confiança à frente dos jovens. O fato de não ser “batizado com o Espírito Santo” me deixava frustrado. Eu queria falar em línguas, profetizar e todas aquelas coisas de um crente assembleiano pentecostal. Isto tudo aconteceu depois…
Em 2002 fui transferido temporariamente pra trabalhar no interior de S.P. Lá conheci a minha atual esposa e mãe de meu filho. Ela é (era) batista. Começamos a namorar sabendo que a qualquer momento eu voltaria para minha cidade. Nesse ínterim participei de um Congresso sobre Igreja com Propósitos no vale do Paraíba. Não via o momento de voltar pra casa e aplicar tudo o que aprendi naquele congresso no meu ministério com jovens. E então, como previsto, voltei. No começo do ano de 2003, o pastor presidente da igreja me tirou do ministério de jovens e me colocou na secretaria da igreja com a promessa de que me tornaria um pastor de jovens, depois que eu fizesse seminário e etc, etc.
Aquilo foi um balde de água fria pra mim. Chorei muito e, me irei com o pastor que tanto gostava. Não tinha mais motivo pra ficar lá. Percebi que a única coisa que me prendia lá era o meu ministério, que havia sido podado com promessas infundadas. Pedi pra firma que trabalho pra ser transferido definitivamente. Fiquei noivo. Assumi em poucos meses o ministério de jovens noutra igreja. Pra resumi a história… tive relação sexual com minha noiva e ela engravidou. A casa caiu! Fomos julgados pela diretoria da igreja e, pasme… (!) absolvidos. Porém, não por muitos irmãos e seus olhares.
Continuo liderando os jovens, que nos apoiaram sempre. Minha, agora, esposa, não agüentou a “pressão”e saiu do ministério de música. Muita coisa ruim tem acontecido desde então.Mas não vou detalhar aqui.
O fato é que diante deste meu breve histórico que te passei e das tristezas que tenho sofrido na “igreja”, tenho questionado muito o meu papel na igreja, a minha paixão por Cristo (ou seria pela igreja?), e tudo o mais que tem se visto por ai.
Tenho ido à igreja só nas programações com os jovens. Não agüento mais o odor dos templos e seu dirigentes.
Sabe Caio, tenho medo de tudo isso, mas quero me libertar de tudo isso e viver a simplicidade do Evangelho. Quero viver isso pra ensinar pro meu filho que hoje esta com 27 dias, a minha esposa não tem mais prazer na igreja.
Amamos muitas pessoas lá mas,…(!)
Eu sou apaixonado pelo ministério com jovens. Quero falar de Jesus pro jovens sem precisar levá-los pra igreja. Porque eu prefiro não falar do Evangelho do que ter que levá-los pra minha ou qualquer outra igreja.
Eu e minha esposa nos sentimos esses “filhos dispersos” que você falou. E queremos muito dar um grito de alforria da instituição e viver o Evangelho na sua simplicidade. Por favor, nos ajude!
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Resposta:
Meu querido amigo em Cristo: Graça e Paz!
De fato a sua paixão maior até aqui ainda é a igreja; ou melhor: você como alguém na igreja!
Ter a coragem de admitir isto bem cedo na vida é uma grande benção. Digo isto porque a maioria vive com amor apaixonado “por si mesmo na igreja”, e pensa que isto é amor a Deus e a Jesus.
Honestamente tem-se que admitir que o “Deus” da maioria dos crentes não é Deus, mas a sua suposta representação histórica: a igreja. E mais: depois de um tempo todas as vontades, desejos, sonhos de crescimento, vocação, paixões, etc…, passam a ser sentidas como se fossem sentimentos “de Deus”, apenas porque são projetados sobre a “igreja”.
Assim, crente, em geral, pensa que amor a Deus é dedicação à igreja; e isto é tão sutil que o cara nem percebe que nem mesmo pela igreja é o seu amor, mas sim pelo que ele pode ser, fazer ou se tornar no esquema da “igreja”.
Ora, nesse caso, uma vez perdidas as “oportunidades” ou o “espaço”, o cara entra em crise… e fica com raiva da “igreja”… sem se dar conta que ele só está com raiva agora porque está sem as oportunidades… Do contrário, estaria lá, e feliz da vida… “com Deus”…
Desse modo, meu querido, digo que chegou a hora de você ser de Deus por Deus e por mais nada!
Não há maior segurança e nem maior liberdade do que quando você aprende a ser de Deus apenas por Deus, e por nada mais.
Esse que já não vê na “igreja” sua chance de “melhor servir a Deus”, mas apenas um ajuntamento humano ao qual a gente pertence por afinidade, e não por interesses, se torna livre e seguro em seu caminhar. Esse leva a casa nas costas. Esse será um hebreu da fé.
Os cristão precisam saber que se tornaram, na sua maioria, seres esotéricos. Ora, o “esotérico” é aquilo que existe “para dentro do grupo”, e que é algo pertinente a alguns poucos: os iluminados que pertencem a esse lugar fechado, no qual só se entra pela via da iniciação dos ritos.
Ou seja: a “igreja” briga contra os “esotéricos” sem saber que ela própria se tornou esotérica no conceito e no espírito. E isto em contradição com aquilo que Jesus chamou de “igreja”, que significa uma assembléia de gente “chamada para fora”. Ou seja: a verdadeira igreja não é esotérica, mas ex-otérica: tirada para fora…
Saber disso nos salva de nos tornarmos esotáricos e nos faz ex-otáricos. Ou seja: salva-se um otário! (rsrsrs)
A Igreja de Jesus tem que ser como as imagens que Jesus usou para falar do “reino de Deus”. O sal só dá sabor se desaparecer… O fermento tem que sumir na massa a fim de levedá-la… A boa semente cai em boa terra e produz… sem saber o homem como…
Ou seja: a verdadeira Igreja não é um lugar, mas um agir de gente boa de Deus na Terra!
Ora, tais pessoas (as que são igreja) se encontram, mas sabem que não é o encontro que faz a Igreja, mas a Igreja que faz o encontro.
Em outras palavras: O encontro da igreja só é válido se cada pessoa for sal na terra, luz no mundo, fermento na massa da existência e semeador tranqüilo da semente de Deus, e que Ele mesmo faz crescer.
Assim, o ajuntamento chamado por nós de “igreja” é uma perversão do significado original, que não trata de um grupo de esotéricos, mas de um monte de gente exotérica (chamada para fora), e que vive no mundo, e nele testemunha, e que se ajunta apenas para celebrar.
A questão é que a fim de não fazer parte do mundo, a “igreja” se oferece para os crentes como uma “comunidade paralela”, onde, se possível, a pessoa pode viver e morrer sem contato com a existência, visto que a “igreja” se oferece para ser esse “novo mundo”, esse lugar onde a vida está organizada como um “micro cosmo”, e que se torna um prato cheio para os medíocres que sentem uma vontade enorme de “governar” aos outros.
Agradeça a Deus o cacete da vida e caminhe com nova consciência. Logo você vai descobrir o propósito.
Receba meu carinho e minhas orações!
Aguarde!
Nele,
Caio